Rosa Luxemburgo e o Cristianismo “Primitivo”

T. Brum
3 min readMar 27, 2023

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Rosa Luxemburgo

Neste ano presente estou me dedicando especialmente à leitura de obras Marxistas. E entre tantas besteiras que surgem há algumas que merecem especial atenção, como é o caso da obra Socialismo e Religião, que compila textos de Lênin e Rosa Luxemburgo. Quero focar no texto desta que tem o título Socialismo e as Igrejas. Tal obra confunde muitas coisas que não cabe refutar aqui, como que a Igreja Católica apoiou a escravidão, que na Idade Média não se conhecia comércio como hoje e que os Mosteiros não tinham uma parte de produção ao comércio. Quero focar em um ponto em específico, que é a afirmação de que os primeiros Cristãos eram comunistas.

Primeiramente, vejamos o que significa comunismo em uma definição rápida do próprio Marx no Manifesto Comunista: “o comunismo pode resumir a sua teoria numa única expressão: abolição da propriedade privada” (ENGELS & MARX, 2018. Pg. 60).

Rosa afirma que os primeiros cristãos eram comunistas nas páginas 29 e 31 da obra citada. Citando especificamente uma passagem se pode ler: “os primeiros cristãos fizeram a proposta da propriedade em comum — o comunismo” (LÊNIN & LUXEMBURGO, 2019; p.31). Cita ainda exortações de alguns Padres Apostólicos e relato de outros, até mesmo passagem de Atos dos Apóstolos, para provar que um sistema de caridade mútua existia.

Contudo, há um grave equívoco. Como o próprio Marx diz o Comunismo é abolição de Propriedade Privada. Ora, confundir doação voluntaria de seus bens — o que por si só já demanda existência prévia de propriedade privada e sua aceitação — com abolição total dela é um absurdo! A Igreja nunca defendeu a abolição de Propriedade Privada. Sempre defendeu, certamente, a Caridade Cristã, a doação voluntária, o desapego de bens materiais (ou seja, oposição ao materialismo). Dizer que compartilhar VOLUNTARIAMENTE é comunismo é não entender a própria teoria marxista! Ela mesma admite páginas depois que os cristãos não o eram no estrito sentido, mas por fazerem apenas “coletivização” de bens de consumo, e não de toda propriedade (p.32). Assim, a suposição de que era comunismo cai por terra no momento em que “se considera que tudo era estritamente voluntário” (LLORCA et al., 1955; p.55). No mais, a realidade é que os donativos e toda a direção da comunidade Cristã pertenciam aos Apóstolos, e posteriormente foi acrescentado ao Diáconos (p.55). Ou seja, em última instância pertencia à Igreja, que é a maior e mais bem-sucedida instituição de Propriedade Privada da história. Assim sendo, imagine que um chefe de uma empresa ganhe de um funcionário uma cesta com comidas e resolve compartilhar com outros funcionários, acaso todos se tornaram comunistas em função disso? Não! Portanto, não se pode confundir Caridade com “obrigação de doar”, ou melhor, com abolição de Propriedade Privada, pois são coisas absolutamente diferentes.

Por fim, cabe reforçar dois pontos: o primeiro é que dois dos 10 Mandamentos demandam aceitação da Propriedade Privada como algo real, bom e concreto. São eles o sétimo (Não Roubarás/Furtarás) e o décimo (Não Cobiçarás as Coisa Alheias). E por fim, que a Igreja deixa muito claro a diferença entre a Caridade Cristã e o Comunismo em inúmeros documentos, o quais também condenam absolutamente este último, como o Catecismo que afirma claramente: “A Igreja rejeitou as ideologias totalitárias e atéias, associadas, nos tempos modernos, ao ‘comunismo’ ou ao ‘socialismo’” (n. 2425); E as Encíclicas Qui Pluribus (1848), Quod Apostolici Muneris (1878), Rerum Novarum (1891), Quadragesimo Anno (1931), Mater et Magistra (1961), Centesimus Annus (1991).

Assim sendo, a afirmação de Rosa Luxemburgo não passa e jogos argumentativos para enganar cristãos distraídos ou mal informados da verdade! A Igreja nunca viveu o defendeu Comunismo. Apenas defendeu a boa e velha Caridade Cristã e desapego de bens materiais porque Deus assim o pede, o que se põe cabalmente ao próprio materialismo Marxista.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Que reine pelos séculos dos séculos.

Amém

Bibliografia:

ENGELS, F.; MARX, K. Manifesto do Partido Comunista (Editora Schwarcz S.A., Pinguim Companhia, 5ª edição, São Paulo, 2018)

LÊNIN, V.; LUXEMBURGO, R. O Socialismo e a Religião (Partido Operário Revolucionário, São Paulo, 2019).

LLORCA, B.; MONTALBAN, F.J; VILLOSLADA, R.G. Historia de la Iglesia Católica. Tomo I — Edad Antigua: La Iglesia em el mundo grecoromano (BAC, 2ª Edição, Madrid, 1955)

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T. Brum

Escritor de artigos relacionados a sociedade privada, catolicismo e assuntos diversos.