Resenha #5 | Um Silêncio Avassalador — Lucas Barroso

TOC Literário
3 min readOct 3, 2016

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Uma coisa que admiro nos contos é a capacidade que eles têm de se prolongar para além do texto escrito. Sei que todo texto “não acaba quando termina”, mas, no caso dos contos, dada a sua pequena extensão, há um maior espaço do que não foi dito, espaço esse que pode ser “preenchido” pelo leitor.

Então, falar desse livro é, de alguma maneira, dar continuidade aos contos a partir de minha perspectiva. É também um desafio, pois Um Silêncio Avassalador, nas suas quase 100 páginas, contém histórias com os mais variados enredos possíveis.

“Ele disse que não havia possibilidade. Que eu estava sendo ridícula. Que as coisas mudam. Que as pessoas desistem. Que nada dura para sempre. Que o tempo fode com tudo. Mas com uma facada no bucho, consegui convencê-lo a ficar.”

Com toda essa diversidade de enredo, o leitor de Lucas Barroso tende a se perguntar se haveria e qual seria o liame que transformaram um conjunto de 15 contos num livro. Como bem esclarece André Timm no texto da orelha, “os personagens de Um silêncio avassalador, que somos nós, carregam sempre um vazio que buscam preencher desesperadamente”. Esse silêncio avassalador, decorrente da solidão, angústia, ou vazio pelos quais passam os personagens, moldam suas ações e seu modo de ser, gerando um misto de estranhamento e empatia pela condição humana, nos contextos inesperados (mas potencialmente reais) nos quais se passam os contos.

Uma noiva e seu casamento idealizado, o menino que tinha autorização da mãe para locar filmes pornôs, o diretor de cinema que fará um filme sobre a própria vida, o estuprador de skinheads, a ginasta na oscilação de sua carreira, o cara que encontra uma prostituta que conhecia os filmes de Almodóvar, todos eles são moldados pelo vazio que trazem consigo e pela forma com a qual tentam preenchê-lo.

A escrita do autor flui de maneira primorosa, com uma linguagem versátil que transita desde o vulgar até o poético. No âmbito delimitado de um conto, ele consegue criar histórias que o transcendem, deixando sempre um desejo por mais (mais do conto lido e mais contos para ler). Com isso, é praticamente impossível não devorar o livro de uma só vez e se arrepender depois por não ter demorado mais.

“— Como dói não ser feliz! Dói porque, em algum lapso temporal, algum acaso consentido, sentiu-se o que é a felicidade, quão valiosa e rara ela é. Todos os gestos, ações, reações e abnegações serão, para sempre, destinados à felicidade, que jamais será plena, prolongada, constante. Por mais que a gente queira, a felicidade…

No encerramento de sua tese absurda, um aluno o interompeu.

— Mas, professor, o que isso tem a ver com Geografia?”

A qualidade física do livro não fica atrás da qualidade do conteúdo. A Editora Moinhos acertou em cheio na diagramação, nas folhas amareladas e na capa maravilhosa. Um Silêncio Avassalador é mais um exemplo de quanta coisa boa a literatura nacional tem pra nos oferecer.

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