Cultura Hip Hop ganha casa em Esteio

Trilha Hip Hop
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8 min readMay 10, 2017

Projeto está em obras e prevê inauguração para agosto

O Movimento Hip Hop, popular entre os jovens, vem barganhando seu espaço no Estado ao longo da última década, e agora terá uma sede exclusiva na cidade de Esteio. Em obra desde fevereiro, o lugar onde irá funcionar a Casa da Cultura Hip Hop de Esteio (CCHE), a primeira desse segmento no RS, está sendo reformado e adaptado aos poucos. O local irá abrigar uma série de oficinas, totalmente gratuitas e destinadas para jovens de 15 a 18 anos, principalmente com situação de vulnerabilidade social, interessados em conhecer a cultura ou simplesmente participar das atividades socioeducativas.

Além de trabalhar os quatro elementos do hip hop, grafite, Mc, Dj e b-boys e b-girls, as oficinas abrangerão um leque extenso de ações culturais e sociais. Entre elas, um centro de inclusão digital, biblioteca, teatro, cinema, boxe, horta comunitária, hostel, quadra poliesportiva e outros. Todos voltados aos garotos e garotas da comunidade.

A Casa da Cultura Hip Hop é fruto das reivindicações de jovens organizados em grupo, que a partir do ano 2000 iniciaram a busca por um local para ensaios, encontros, oficinas e workshops específicos. No ano de 2011, fundaram a Associação da Cultura Hip Hop de Esteio (ACHE), e os trabalhos em prol da disseminação do movimento e a luta pela construção de um espaço pioneiro e inovador no cenário estadual intensificaram-se, culminando na aprovação do Projeto de Lei Nº 127/2011.

O projeto trouxe a ideia da “Semana Municipal da Cultura Hip Hop de Esteio”, aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal. Após a aprovação, o projeto tornou-se a Lei Municipal N° 5325, de 14 de julho de 2011, instituindo a Semana Municipal do Hip Hop, a ser realizada na segunda quinzena do mês de novembro e passando a integrar o calendário oficial de eventos do município.

De acordo com um dos Coordenadores e Produtor Cultural da CCHE, Geovane Neves da Silva, a organização do movimento, através de militantes, ativistas e artistas locais deu o impulso que faltava para a concretização do sonho em ter um espaço de promoção da cultura hip hop.

Porém a jornada não foi fácil, foram seis anos de persistência e luta pela causa até conquistar credibilidade e incentivo junto à população esteiense e da região metropolitana. Felizmente neste ano, a ACHE ganhou permissão para uso de um imóvel no centro de Esteio, destinado à implantação da Casa da Cultura Hip Hop. A casa foi cedida ao grupo por meio da assinatura de contrato comodato, no mês de fevereiro, entre a proprietária Flora Pigatto Acadorli, a dona Flora como lhe chamam, e a associação. A casa, inclusive levará o nome da aposentada. O prazo para uso compreende o período de cinco anos.

“A dona Flora, gentilmente nos concedeu usufruto por cincos anos, com a possibilidade de renovação do contrato. No futuro pretendemos adquirir uma sede própria”, conta o Coordenador Financeiro da CCHE, Alan da Silva Bitello.

Fachada da Casa da Cultura Hip Hop. Foto: Arquivo Pessoal Geovane Neves da Silva

De posse do local, os líderes do movimento partiram para a ação e começaram a buscar recursos para reformar e adequar a casa, conforme as necessidades das oficinas. A obra está sendo executada aos poucos, devido às limitações financeiras da ACHE. Boa parte dos materiais de construção são doações de amigos, familiares, vizinhos, simpatizantes do projeto e através de fundos angariados em eventos, como brechós, chás e batalhas de hip hop.

“A contribuição mais significativa que a associação recebeu até o momento veio do Banrisul, com a doação de 35 computadores, 35 cadeiras e 35 mesas. Esses equipamentos irão compor o nosso centro de informática”, observa Alan.

As principais missões da Casa da Cultura Hip Hop de Esteio são promover, difundir, incluir, gerar renda e incentivar o trabalho que vem sendo realizado pela Associação da Cultura Hip Hop de Esteio, mediante os profissionais que integram este coletivo. O anseio central é tornar o projeto uma referência no cenário estadual, nacional e mundial da Cultura Hip Hop. A partir desse trabalho idealiza-se o fortalecimento de outras comunidades e periferias, além da inclusão e reinserção social de jovens, contribuindo assim para a construção de um mundo melhor.

Estrutura da Casa da Cultura Hip Hop

A primeira vista parece um sobrado simples, mas ao adentrar é fácil perceber a empolgação do grupo. A casa possui mais de mil metros quadrados, os espaços são bem distribuídos e ideais para as práticas pensadas.

No andar térreo, logo na entrada, será a recepção. Em uma ampla sala à direita a oficina de grafite. Nas demais repartições terá um banheiro com acessibilidade, pois o espaço irá trabalhar fortemente com a inclusão social, ademais um espaço multiuso destinado às aulas de dança e teatro, e uma sala para atendimento psicossocial.

O Coordenador e Produtor Cultural Geovane, ao lado do banner da ACHE, na recepção da CCHE. Foto: Júlia Bozzetto

Já no andar superior irá funcionar uma biblioteca, com espaços sociais para as pessoas interagirem entre si e um estúdio para os amadores e artistas desenvolverem suas criações musicais. Ainda no segundo piso, ficará a sala da coordenação, onde os membros da CCHE realizarão suas reuniões e tratativas, um banheiro unissex, o Centro de Inclusão Digital (CID) e um hostel, podendo abrigar os participantes que quiserem dormir no local.

“Após a divulgação da Casa da Cultura Hip Hop, feita em uma reunião com moradores locais, temos recebido ajuda de várias pessoas bacanas. Entre elas, uma senhora nos doou cerca de 30 mil livros para compor o acervo da nossa biblioteca”, fala empolgado o coordenador financeiro Alan.

O Coordenador Financeiro Alan Bitello mostra a vista privilegiada da sala da coordenação. Foto: Júlia Bozzetto

Geovane afirma que o único auxílio que receberam da Prefeitura de Esteio foi na elaboração da planta do projeto, mas que algumas modificações estão sendo feitas, tendo vistas à acessibilidade.

A incumbida da tarefa é a recém-formada arquiteta e urbanista Vanessa Leal. “Conheci o pessoal da ACHE por meio da minha amiga Suzane, que é a coordenadora de oficinas e desenvolvimento pedagógico. Me formei e vim oferecer meus serviços para o projeto, pois me identifiquei com os ideais da galera, além de morar quase ao lado da casa”, revela.

Atualmente a coordenação da CCHE, também membros da ACHE, é formada pelo Produtor Cultural Geovane, o Coordenador Financeiro Alan, o Coordenador de Autogestão e Sustentabilidade Rafael Diogo dos Santos, integrante do grupo Rafuagi, a Coordenadora de Oficinas e Desenvolvimento Pedagógico, Suzane Rodrigues Cardoso e o Coordenador de Projetos, Eventos e Produção Cultural Paulo Roberto de Oliveira Barboza. Hoje, a ACHE possui cerca de 60 associados.

Os organizadores já taxaram uma data para a inauguração da Casa da Cultura Hip Hop de Esteio, talvez não da obra total, mas de algumas oficinas. A data definida por consenso é 18 de agosto deste ano. Até lá, mãos à obra, pois o projeto não pode parar.

Quando questionado sobre a importância da Casa da Cultura Hip Hop de Esteio, Geovane atende rápido a indagação, “ ela será a resposta que eu vou ter das pessoas, além de fomentar a cultura hip hop na cena municipal e estadual, visto que será a primeira casa do Estado”, finaliza.

Para quem quiser conhecer a casa, ela está de portas abertas diariamente. Localizada na Rua José Guimarães, n° 203, bairro São Sebastião, em Esteio.

Geovane, Vanessa e Alan, estão ansiosos pelo início das oficinas e afirmam que a Casa está à disposição da comunidade. Foto: Júlia Bozzetto

Confira detalhadamente as atividades que cada oficina oferecerá após agosto:

Dj A Oficina de Dj (Deejay) irá propor a conscientização, sensibilização, fomento, integração e o protagonismo aos jovens no segmento sociocultural, através de uma metodologia de aulas teóricas e práticas, tais como: back to back e beatjumpin, utilizando equipamentos profissionais, como o toca-discos e o mixer. O objetivo é contextualizar e abordar a história da Cultura Hip Hop no mundo.

Beatmaker Esta oficina busca introduzir os conhecimentos básicos da produção musical de rap, utilizando uma plataforma profissional, além de mostrar uma visão geral do programa e aprofundar o uso das ferramentas, conforme a receptividade dos jovens. Não será necessário ter conhecimento prévio sobre produção musical para participar das aulas. A dinâmica das oficinas mistura teoria e prática, visando a troca de experiências entre os participantes.

Breaking A Oficina de Breaking pretende conscientizar, sensibilizar, fomentar, integrar e protagonizar os jovens no segmento sociocultural, por meio de metodologia e aulas teóricas e práticas, como: técnicas de dança, variações coreográficas, exercícios e dinâmicas em conjunto, revelando as circunstâncias e falando sobre a história da Cultura Hip Hop no cenário mundial.

Mc — A Oficina de Mc (Emcee) virá com a proposta das demais, por meio de uma metodologia de aulas teóricas e práticas, tais como: leitura construção de poesias e posteriormente acrescentando ritmo às mesmas, técnicas de rima, interpretação de texto, escrita, oratória e dicção.

Graffiti A Oficina de Graffiti trará os objetivos das demais, através de uma metodologia de aulas teóricas e práticas, com o uso de lápis, borracha, diversos tipos de papel, caps, tinta spray, tinta a base d’água, esmalte sintético e óleo.

Setor Psicossocial — O Setor Psicossocial da CCHE, de modo geral, terá por​ objetivo o atendimento de situações específicas, referentes ao aspecto da identificação e acolhimento​ de crianças e adolescentes vítimas de algum tipo de violência. Trabalhará com o paradigma da proteção integral a crianças e adolescentes, considerando-os como seres humanos em condição peculiar de desenvolvimento e sujeitos de direitos, que devem ter prioridade absoluta na família, na sociedade e no Estado.

​Sala Multiuso​ — ​Idealizada para ofertar um espaço onde será ​disponibilizado diversas atividades, entre elas: oficina de teatro, cinema e boxe, além de funcionar como sala de conferências e reuniões da Casa.

​CID (Centro de Inclusão Digital) — O Centro de Inclusão Digital é um ambiente com instalações e equipamentos que permitem o acesso a internet e utilização de computadores para elaboração de trabalhos escolares, dentre outros processos. Irá favorecer a democratização do acesso à informação, por meio de biblioteca multimídia e laboratório de informática. ​Supõe-se que o CID terá a capacidade de atender mil pessoas por dia.

Biblioteca — Espaço social onde será oferecido acervo para consulta e empréstimo de livros, em um ambiente que promova a troca de saberes.

Hostel — Espaço com dois cômodos e uma cozinha para hospedagem de artistas ou fazedores de cultura.

Jardim da Casa — Espaço gramado para a prática de atividades em grupo.

Vila CCHE — Espaço onde abrigará empreendimentos de diversas áreas.

Quadra Poliesportiva — Área ao ar livre para a prática de diversas atividades em grupo.

Horta Comunitária — ​Local onde será plantado de forma coletiva, alimentos orgânicos e saudáveis para que a comunidade da Casa e moradores da cidade de Esteio possam utilizar.

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Textos do projeto digital com o objetivo de mostrar artistas na região metropolitana de Porto Alegre. Confira a página: https://medium.com/trilha-hip-hop