Perfis falsos do PT: A BBC não expôs mais que a ponta do iceberg

Raphael Tsavkko Garcia
4 min readMar 11, 2018

“Mas o que mais me impressiona não são as centenas de perfis falsos manipulados direta ou remotamente à direita e à esquerda desde pelo menos 2010. Me impressiona as pessoas reais agindo como se fossem um perfil falso, imitando o modus operandi dos robôs. A identificação com esses perfis criados para gerar empatia pode ter feito um estrago que ainda não conseguimos dar conta de calcular. Estamos vivendo numa realidade paralela onde as pessoas reais imitam gente que não existe. É uma nova religião.”

Link da matéria da BBC.

Muitas vezes é quase impossível diferenciar um bot (perfil fake) de um militante real do PT. Não só muitos “reais” postam lixo todo o tempo, como o fazem com uma velocidade absurda e muitas vezes usando ferramentas para isso…

Alguns perfis eu duvidava que fossem reais até conhecer pessoalmente seus donos, outros até hoje suspeita-se que sejam perfis coletivos, etc… No fim há toda uma aura de mistério e sujeira.

Um dado curioso da matéria da BBC é a quantidade pequena de perfis que o PT operava pelos idos de 2010. O Twitter era “menor”, os formadores de opinião mais facilmente identificáveis e alcançáveis — hoje não se contrata bots às centenas, mas aos milhares.

Com poucos perfis falsos o PT chegava até imensa audiência e influenciava/animava sua rede própria (muitos pagos, como os MAVs, criados pelo André Vargas, corrupto condenado, quanto aqueles que tuitavam por ideologia, por mais deturpada que fosse).

Outro dado interessante sobre os perfis eram suas tentativas de se fazer passar por militantes de movimentos sociais e identitários. Lacração identitária vende, anima militância, então os perfis tinham o perfil ideal para alcançar mais empatia entre a militância. Ouso apontar que boa parte da militância sequer deveria saber que se relacionava com fakes, bots — e duvido que se importem, aliás.

É interessante observar ainda que essa “veia identitária” estava sendo explorada ainda em 2010, antes do crescimento assustador da militância justiceira social (o que se deu com mais força a partir dos protestos de Junho de 2013 e com o abandono das grandes pautas e lutas diante da falência do PT em ser motor de quaisquer mudanças efetivas e como reação ao pedido das ruas por reformas profundas). Seriam os primeiros testes para a aposta na militância-lacração que inviabiliza a construção de quaisquer pautas sérias de luta social as substituindo por picuinhas e lacres enquanto criam-se novas figuras públicas absolutamente vazias, mas que sabem gritar mais alto?

O Makely, enfim, apontou pra um problema real, a de pessoas reais se comportando como fakes, repetindo discursos de forma acrítica, no efeito manada total, agindo como bots republicando de forma incessante e (quase) automática (ou de forma automática mesmo) qualquer lixo e fake news das centrais petistas — seja diretamente do partido, seja através dos lixos Brasil 171, Cafezinho, DCM, etc…

Tem coisa de dois anos aliás, o Necrogovernismo, a doença infantil publicou material que me enviaram mostrando como a identidade visual e o conteúdo de várias páginas do Facebook financiadas pelo PT (https://is.gd/ybEnI9):

“Tuitaço organizado por partido, com imagens vindas direto do departamento de comunicação do PT, até mesmo com frases sugeridas pelo partido para serem usadas pelos robôs, pelos fanáticos e pelos militantes pagos…

Prestem inclusive atenção que a comunicação do PT fez imagens não apenas com logo do PT ou das páginas petistas, mas também fez as imagens para páginas que nunca admitiram ser feitas/pagas/mantidas pelo PT:”

Ou seja, existe toda uma estrutura partidária que junta fakes, bots, MAVs (militância paga), inocentes úteis, páginas do Facebook e centrais de fake news (que alguns chamam de mídia alternativa) há muitos anos e que continua tão ativa quanto antes. Sem dúvida a verba deve ter minguado, mas a rede segue bastante ativa.

Vale ainda lembrar dos BlogProg (Blogueiros Progressistas), que inicialmente deveria servir como uma rede de apoio à esquerda (e eu fui lá ser um dos fundadores), mas que rapidamente foi cooptado e transformado em uma rede exclusivamente petista para divulgação de propaganda partidária.

A BBC conseguiu explorar e denunciar apenas uma pontinha ínfima do iceberg de campanhas sujas… Claro, o PT está longe de ser o único a fazer esse tipo de coisa, pelo contrário, todos que podem fazem. O PT aparentemente foi pioneiro e efetivamente conta com uma militância (paga ou não) real para ajudar a amplificar a sujeira, mas não está só.

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Raphael Tsavkko Garcia

Journalist, PhD in Human Rights (University of Deusto). MA in Communication Sciences, BA in International Relations. www.tsavkko.com.br