Resenha: O poder do hábito

“Toda a nossa vida, na medida em que toma forma, não passa de uma massa de hábitos.”

Tuanny Martins
5 min readApr 2, 2018

Você já parou para pensar qual o pé toca primeiro o chão quando você acorda? Já pensou porque você às vezes liga o piloto automático e pega a rota do trabalho em vez de deixar seu sobrinho na escola?

Charles Duhigg, o autor de “O poder do hábito”, best seller com mais de 1 milhão de cópias vendidas, começou a investigar os hábitos dos indivíduos, das corporações e da sociedade.

O dicionário da língua portuguesa define a palavra hábito como:

Maneira usual de ser, fazer, sentir; costume, regra, modo.

Os hábitos estão tão enraizados na nossa maneira de fazer, sentir e ser que seguimos determinados padrões sem pensarmos efetivamente no que estamos fazendo. Por quê?

Porque o nosso cérebro não gosta de fazer esforço. Quando ele aprende uma rota, ele não gosta de reaprender, porque esforçar-se é exigir um pouco mais do que ele já se esforçou anteriormente.

Em termos biológicos há uma estrutura do cérebro intitulada “gânglios basais”, as quais são responsáveis pelo loop dos hábitos:

“Mais para o centro do crânio há um nó de tecido do tamanho de uma bola de golfe (…). No começo dos anos 1990, os pesquisadores do MIT começaram a cogitar que os gânglios basais talvez pudessem ser essenciais para os hábitos também. Notaram que animais com lesões nos gânglios basais de repente começavam a ter problemas com tarefas como aprender a atravessar labirintos ou memorizar como abrir recipientes de comida.”

Em se tratando de mecanismos práticos, o hábito funciona dessa forma:
Primeiro vem o estímulo, o qual o autor chama de deixa, depois a rotina e por fim a recompensa.

A deixa pode ser uma imagem visual da recompensa, uma sequência de pensamentos, uma hora do dia, emoções, a companhia de alguém específico, etc.

Já a rotina é o hábito em si, é o que você faz. E a recompensa é o que você ganha com o que você faz.

Depois do entendimento sobre como funciona o hábito de maneira biológica e prática, você pode se perguntar: É possível eliminar um mau hábito? E a resposta de Duhigg para essa aclamada pergunta é:

Não.

De acordo com o autor, você não consegue eliminar um hábito ruim, mas você consegue transformar um hábito ruim em um hábito bom mudando a rotina. Como mudar a rotina? Vou explicar ao final do post.

Sabe por que hábitos são tão fortes? Porque eles criam anseios neurológicos. Quando já temos um hábito definido ficamos viciados na alegria da recompensa, mesmo antes de obtermos tal recompensa. O anseio antecede a recompensa e ficamos chateados quando a recompensa não vem ou não atinge nossas expectativas.

“É assim que novos hábitos são criados: juntando uma deixa, uma rotina e uma recompensa, e então cultivando um anseio que movimente o loop. Pense no exemplo do cigarro. Quando um fumante vê uma deixa — digamos, um maço de Marlboro –, seu cérebro começa a esperar uma dose de nicotina.”

Força de vontade

Além do anseio, a força de vontade também é um aspecto importante para a manutenção de um bom hábito.

Por muito tempo a força de vontade foi vista como “habilidade” possível de ser aprendida. No entanto, na década de 1990 um grupo de doutorandos de psicologia questionou esse axioma com a seguinte reflexão “Se a força de vontade é uma habilidade por que ela não permanece constante de um dia para o outro?”

Após alguns anos de experimentações a ciência chegou numa conclusão de que a força de vontade não é uma habilidade e sim um músculo.

“Conforme os músculos da força de vontade se desenvolveram, os bons hábitos pareceram transbordar para outras partes de sua vida.”

Quando você aprende a se forçar a fazer algo que o seu corpo não quer, você começa a mudar o seu mindset e seus hábitos.

Como substituir hábitos ruins pelos bons?

Não tão simples: Mudando a rotina. Como? Se obrigando a fazer as coisas que você, por algum motivo, não quer. Mas isso não é suficiente. Para que a haja a mudança é necessário acreditar na mudança. E para que a mudança se sustente é necessário ter fé!

Fé em quê?
Fé em si mesmo, fé em uma coisa maior, fé que as coisas vão melhorar.

“Suas chances aumentam drasticamente quando você compromete a mudar como parte de um grupo. A fé cresce a partir de uma experiência comunitária, mesmo que esta comunidade possua apenas duas pessoas.”

E a fé só surge com a ajuda de um grupo.

Plano de ação : 5 passos para mudar um hábito

1. Identifique a rotina
Identifique qual hábito pessoal você acha ruim.
Agora comece a pensar: o que te motiva a fazer esse hábito? É o tédio? Ansiedade? Qual a recompensa? Café? Chocolate? Um pouco de alívio?
Em o poder do hábito, o mau hábito de Duhigg era: todos os dias comprar um cookie na cafeteria. Com o passar do tempo ele engordou alguns quilinhos.

2. Experimente com recompensas
Troque a recompensa para entender qual a deixa. Por exemplo, se toda a tarde, religiosamente, você sente vontade de comprar um chocolate, troque o chocolate por outro snack para entender qual a sua motivação. Será fome ou tédio?

3. Isole a deixa
Para isolar a deixa é necessário você investigar diariamente e anotar ao lado o momento certo que você sentiu vontade de praticar o hábito ruim. Duhigg sugere anotar o lugar, a hora, o estado emocional, as outras pessoas que estavam por perto e a ação anterior ao início do loop do hábito. Dessa forma, fica mais fácil de descobrir a deixa. Duhigg descobriu que a deixa do seu mau hábito era a hora do dia. Todos os dias, por volta das 15h30 ele sentia tédio e uma vontade de ir na cafeteria comprar um cookie.

4. Tenha um plano
Uma vez que você descobriu a deixa, (uma hora do dia, por exemplo). Você consegue se programar para mudar a rotina. Como no exemplo de Duhigg, em vez de ir na cafeteria comprar um cookie para “vencer” o tédio, ele se programou para, todos os dias, ir na mesa de um amigo do trabalho e bater um papo.

Conclusão

Parece simples quando descrevemos, mas não é fácil mudar um hábito ruim. No entanto, quando entendemos o mecanismo dos hábitos, conseguimos dominá-los melhor.
E nem tudo são flores. Tem dias que serão difíceis e você pensará em se render e desistir. Nesses dias é bom buscar refúgio em outras pessoas.

--

--