Ações expressivas e ações instrumentais
Resumo: A ação política tende a ser guiada por uma ou duas motivações diferentes: expressar uma identidade e conquistar mudanças concretas. É importante saber a diferença, e encontrar o equilíbrio entre as duas.
Algumas vezes ativistas fazem uma ação sem pensar muito em como os outros vão percebê-la, ou o quê precisamente a ação vai alcançar. Muitas pessoas participam de ações porque significam alguma coisa para elas, ou simplesmente porque se sentem bem fazendo a coisa certa. Chamamos isso de parte expressiva de uma ação. Ações expressivas vêm do coração e do âmago — independentemente da nossa “cabeça” calcular o resultado específico.
“Tomar as ruas” durante uma marcha é um exemplo perfeito. Claro, faz você se sentir bem ao marchar sem permissão no meio da rua. Você e seus camaradas desobedecem corajosamente as ordens policiais e, todos juntos, andam em direção ao tráfego. Quase dá para sentir a coesão do grupo no ar. É inebriante. Geralmente, é também inconsequente do ponto de vista dos objetivos mais amplos dos movimentos sociais. Mesmo assim, quantas vezes você escutou alguém dizer que uma marcha foi “ruim” simplesmente porque ela permaneceu na “calçada”? Quando alguém diz isso, pode ser porque seus objetivos sejam principalmente expressivos, e alcançar uma mudança social seja de importância secundária.
Os ativistas mais bem treinados pensam em outro nível: independentemente do valor de se auto-expressar para todos os envolvidos, perguntam: “O que essa ação vai realmente alcançar para nossa causa, questão, movimento ou campanha?”. Chamamos isso de valor instrumental de uma ação.
Ambos os aspectos são importantes, e embora uma ação bem planejada possa atingir os dois simultaneamente, expressivo e instrumental são geralmente contrapostos. Muitos ativistas focam exclusivamente em impactos tangíveis e se esquecem que as dimensões auto-expressivas de uma ação desempenham um papel decisivo na afirmação de valores e na construção de uma identidade de grupo. Por outro lado, muitos grupos podem fazer toda uma série de ações expressivas sem nunca conquistarem nada. O perigo aqui é claro: grupos que não avaliam o sucesso de suas táticas em termos de objetivos instrumentais correm o risco de tornarem-se narcisistas e auto-referenciados. Eles podem cair na irrelevância porque não estavam ligados em como suas ações afetam outras pessoas fora do grupo.
Enquanto ações instrumentais são geralmente focadas em um resultado “externo”, digamos, algum tipo de pressão mensurável que você possa exercer sobre o alvo da sua campanha, elas também podem ter um foco “interno”. Considere aulas abertas coletivas, desenhadas para capacitar sua organização, ou melhorar a habilidade dos participantes, ou mude a forma de pensar do seu movimento. Aqui, o valor expressivo da ação está sendo traduzido diretamente em um resultado instrumental. Expressivo e instrumental são são, portanto, categorias mutuamente excludentes, mas dinâmicas às quais precisamos prestar atenção.
Ações instrumentais podem ainda ser subdivididas em “comunicativas” e “concretas”. Ações comunicativas são planejadas para influenciar uma opinião, expressar uma ideia ou contribuir para o debate público, enquanto ações concretas são planejadas para ter um impacto tangível sobre um oponente. Estas são duas formas separadas de medir um resultado instrumental.
Embora a auto-expressão seja uma parte necessária do processo de mudança social, ela não é suficiente. Através de nossos rituais de auto-expressão, afirmamos nossos valores e visões e construímos o tipo de identidade de grupo e coesão sem os quais seríamos muito fracos e desorganizados para mudar o mundo. Dito isso, expressar valores não é a mesma coisa que engajar a sociedade e efetivar a mudança sistêmica. Se realmente quisermos mudar o mundo, devemos saber a diferença e equilibrar bem nossos objetivos instrumentais e nosso desejos de auto-expressão.
Com a contribuição de Jonathan Matthew Smucker, Joshua Kahn Russell e Zack Malitz, tradução de Gabriela Vuolo e Tica Minami.