Como os brasileiros viajam?
O que aprendi levando mais de 1500 brazucas para passear em Buenos Aires em 2015.
Em 2015 levei meu blog do virtual para o real, criando o Aires Buenos Tour. Aqueles vários números e gráficos do Google Analytics se transformaram em caras, conversas e histórias. Uma convivência que me ensinou muito, tanto como pessoa como empreendedor iniciante.
Foram mais de 1500 pessoas em mais de 100 passeios diferentes. Aqui resumo do que aprendi sobre como o brasileiro viaja.
- O brasileiro pesquisa muito antes de viajar
Guias de papel, ebooks, apps, blogs, fanpages, perfis de Instagram, dicas de amigo. O brasileiro no geral olha tudo isso antes de viajar e vem preparadíssimo para uma viagem. É gritante a diferença com os gringos norte-americanos ou europeus, que chegam sem ideia nenhuma do que fazer.
Somos um povo muito mais desconfiado no geral e por isso queremos saber várias opiniões antes de tomar uma decisão. O brasileiro valoriza muito seu tempo e dinheiro, idealizando muito sua viagem. Ninguém quer passar perrengue fora do país, por isso cada passo é extremamente analisado e discutido. O perfil do turista hoje é de alguém que já chega no destino bem informado e sabendo o que quer. Somos cada vez mais viajantes experientes e isso acaba gerando melhores experiências. É claro que sempre existem aqueles que chegam sem nem saber o que é o Obelisco, mas parecem ser minoria. Buenos Aires é quase sempre o primeiro destino no exterior dos brasileiros. Quem cai em roubada acaba aprendendo a lição e pesquisando muito mais na sua próxima viagem.
2. Todo mundo quer fazer uma viagem diferente
Sabe aquele vídeo do Porta dos Fundos em que duas amigas se encontram depois que uma delas visitou Nova York?
O que vemos no vídeo é a mais pura realidade. Viajar sempre foi de certa maneira sinônimo de status. Só que hoje viagem internacional não é mais aquele luxo todo. Tem muito mais gente aproveitando o mundo por ai. Status agora é exclusividade, fazer algo diferente e único, que mais ninguém visitou ou conhece, sem necessariamente ser caro ou chique.
A coisa mais comum é ver comentários de pessoas que não querem fazer o basicão na cidade, querem dicas de lugares que turista não vai, restaurantes que somente os locais vão. Cria-se um mito que “lugar de turista” é ruim. Nem sempre!
3. Foto às vezes é mais importante que informação
Tenho certeza que isso não é exclusividade dos brasileiros ao viajar. É uma epidemia global. As pessoas se esforçam tanto para tirar uma foto de um ponto turístico que acabam deixando de conhecê-lo de verdade. Não sabem a história do lugar, o que realmente é e porque é importante para a cidade em questão, mas tem uma foto bem bonita dele.
Incentivamos muito que no Aires Buenos Tour que elas vivam as experiências e não somente as fotografem, tanto é que num dos nossos passeios temos um fotógrafo que acompanha todos os momentos sem custo adicional. Além disso estamos lançando em breve o Phototrip.me, que será uma rede de fotógrafos brasileiros pelo mundo, exatamente para poder falar para o turista: deixe o pau de selfie em casa.
Instagram e Snapchat aumentaram ainda mais essa vontade de postar momentos com os amigos. Se por um lado acho que as pessoas aproveitam menos uma viagem quando estão muito preocupadas em compartilhar sua vida, de outro também fico feliz. Afinal a gente só compartilha o que gosta e acha bonito. Se elas estão fazendo isso é sinal de que estão curtindo e e até propaganda grátis para a gente.
Recomendo ler esse texto do Medium em que o autor fala que quanto mais foto ele tira, menos lembra da viagem: Losing Vacation Memories to Your Camera.
4. Existe pouco lugar para o improviso
Exatamente porque os brasileiros pesquisam tanto e querem aproveitar o máximo o seu tempo de viagem, sobra pouco para aquilo que é incerto.
É muito comum ver casais ou grupos de amigos com roteiros super fechados especificando cada detalhe do que eles pretendem fazer na cidade. É uma organização admirável que gostaria muito de ter. Porém tudo em excesso faz mal. Não fazer nada e se perder é uma das partes mais gostosas de viajar. São nesses momentos em que nos surpreendemos e vemos outro lado de um destino.
A dica que damos é não transformar sua viagem numa maratona. Ter um roteiro é essencial para conhecer uma cidade, mas não seja escravo dele.
5. Preço vem antes de tudo
Talvez umas das mairoes diferenças que vejo entre brasileiros e outros gringos que viajam para Buenos Aires. O brazuca sempre quer o mais barato. Como ele pesquisou muito, acaba pechinchando, comparando e não compra qualquer coisa. O problema é a mentalidade de querer o mais barato a qualquer custo, sem levar mais nada em consideração.
Quando conversamos com um gringo explicando o porquê de o valor de um passeio ou atração ser mais caro ele entende e muitas vezes acaba levando esse, porque quer o melhor. Já o brasileiro parece não levar o fator qualidade tão em conta. O resultado é que muitas vezes compra o que é ruim ou meia boca, só porque é 10 reais mais barato. Prova disso são algumas atrações ou shows de tango de qualidade bastante questionável em Buenos Aires, mas que são muito baratas e sobrevivem por causa dos brasileiros.
Se você pesquisou tanto e quer gastar seu dinheiro da melhor forma, por que não comprar o que é comprovadamente melhor? Pagar menos é uma delícia, mas fazer uma economia burra não tem sentido. É quase jogar dinheiro fora.
6. Homem hétero não viaja sozinho
A maioria das reservas que chegam para nossos tours são de casais. Depois vem grupos de amigos, familiares e por último pessoas sozinhas, na maioria esmagadora mulheres. Fico me perguntando: cadê os homens que viajam sós?
Entendo que existam muitos deles, de perfil mais aventureiro e independente, preferem gastar seu dinheiro em outra coisa do que em passeios guiados em Buenos Aires. Mas mesmo assim, a proporção em relação às mulheres é ínfima. Seriam elas mais corajosas? Eu mesmo nunca viajei sozinho. Seja por preguiça ou falta de sacolejo social, os homens parecem estar aproveitando menos o mundo que as mulheres.
7. Boca a boca ainda é rei
Sabe aquele post super trabalhado no SEO com fotos lindas que você levou horas para escolher? E aquela publicação no Facebook que você investiu uns trocados? No turismo isso vale bem menos do que ouvir de um amigo “Cara, você precisa fazer esse passeio”. A rede social da vida ainda ganha de qualquer invento do Zuckerberg.
Mas claro que podemos incentivar isso da nossa maneira. Seja com as fotos, com descontos para quem recomenda e com o TripAdvisor.
Por isso estamos tão confiantes para 2016 no Aires Buenos Tour, mesmo com crise, alta do dólar e instabilidade econômica de Brasil e Argentina, tivemos mais de 1500 possíveis garotos-propaganda que conheceram a cidade com a gente e podem indicar nosso trabalho para muito mais gente!
Obrigado pela leitura! Minha ideia é usar essa plataforma para falar sobre empreendedorismo e a indústria do turismo. Quando comecei a trabalhar com isso penei muito em achar material sobre o assunto, como comentei no meu texto anterior 7 coisas que aprendi empreendendo com turismo em Buenos Aires.
Em janeiro lanço outro projeto, o Phototrip.me que reunirá fotógrafos brazucas ao redor do mundo. Nossa missão será “Deixe o pau de selfie em casa”. Meu sócio é o Henderson Moret, fotógrafo e guia de um dos nossos passeios.
Qualquer coisa é só entrar em contato comigo. Tô ali facinho no Twitter: @tuliopb