A Afrodite de Cnidos e a invenção do nu feminino grego
por Tadeu Andrade
Outra escultura cujo original infelizmente se perdeu é a Afrodite de Cnidos, de Praxíteles (séc. IV a.C.). O escultor ateniense renovou a representação das divindades. Ao contrário do caráter monumental das esculturas de Fídias, seus deuses tinham um aspecto mais humano, ainda que sublime. Um exemplo é a sua Afrodite, esculpida para o famoso templo na cidade de Cnidos. Ela é representada se preparando para o banho, ao mesmo tempo uma atividade cotidiana e evocação do banho ritual de Afrodite, de importância cultual. Trata-se de um dos primeiros nus femininos em larga escala.
Praxíteles importou para sua escultura o que hoje se chama contrapposto, que desde o séc. V a.C. se aplicava aos nus masculinos. Nessa técnica, o corpo é representado como se descansasse sobre a perna direita. Como efeito, o lado direito da cintura se ergue e a postura parece mais natural. Ela também permite ao escultor explorar simetrias e contrastes. Numa das cópias romanas que restaram da obra de Praxíteles (a chamada Vênus Colonna), o eixo dos ombros se contrapõe ao da cintura, o curvo lado direito ao esquerdo, mais retilíneo. A posição dos joelhos e das pernas acentua a silhueta da deusa e sugere movimento. Enfim, Praxíteles encontrou interessantes soluções os obstáculos de sua arte. A escultura de mármore precisa de firme base para não sucumbir — e frequentemente de suportes. Ele soube transformar o apoio no vaso de banho e nas vestes recém-tiradas da deusa. Esses objetos situam a estátua num contexto e, junto com os gestos de Afrodite, evocam uma cena aos olhos do espectador. Por outro lado, em sua ornamentação, eles contrastam com a simplicidade do corpo da estátua.