Wadila, motoqueira aos 12 anos

Sem escola no vilarejo baiano, era ela quem transportava o irmão rumo à sala de aula na cidade

Vagner de Alencar
2 min readApr 22, 2019
Wadila de Alencar, aos 27 anos — foto: Vagner de Alencar

Ao tentar descer da moto Titan Ks, ela mal conseguia apoiar os pés no chão.

As pontas dos dedos eram sempre as primeiras a encontrar o solo.

Todos os dias, lá pelo meio-dia, ela deixava a Cavada, na zona rural, em direção ao distrito de Barra Nova, Bahia.

Exatamente a sete quilômetros de distância.

A cada buraco da estrada de chão batido de terra, o capacete também balançava em sua cabeça miúda.

As mãos, porém, estavam sempre firmes no guidão.

Na paisagem, se deparava com roças de café, pés de jaca, boqueirões.

Não raro encontrava manadas.

Às vezes, precisava parar a moto. Tinha mais medo dos bezerros bravos a muitas vacas e bois.

Em seu itinerário, acompanhava consigo os sons das buzinas: de sua moto aos transeuntes.

E dos carros e motocicletas com os quais cruzava o caminho.

Vinte minutos depois de deixar a Cavada 2, percorria a já acimentada avenida de Barra Nova, a única, e que levava o nome de seu avô materno, José Cirilo Fernandes.

Costumava estacionar em uma das únicas padarias do distrito, bem no meio do vilarejo.

A dificuldade em descer da moto se dava não pela inabilidade em pilotar, mas pela estatura diminuta.

Por causa de seus nem 1,50 de altura.

Aos 12 anos, Wadila aprendera “andar” de moto por conta de uma nova incumbência: apanhar o irmão mais velho, estudante do ensino médio na cidade. Não tinha transporte escolar na zona rural onde viviam.

Na volta para casa, o primogênito assumia o guidão.

Juntos, os irmãos Alencar regressavam unidos não somente no mesmo banco, mas sobretudo na comum força de vontade.

Texto escrito originalmente em abril de 2017 à minha irmã Wadila de Alencar.

Um beijo, um salve e até já!
Vagner de Alencar

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Vagner de Alencar

Jornalista, autor do livro "Cidade do Paraíso" e cofundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias