O que é afinal uma startup?

Vanda de Oliveira
6 min readDec 3, 2017

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A palavra startup está na moda, mas o que distingue uma startup de uma pequena, média (PME) ou grande empresa?

De facto, o conceito de startup tem sido tema quente na banda, embora ainda bastante novo entre os angolanos. Estamos a experienciar um grande buzz (barulho) da palavra startup. Ultimamente toda a gente fala sobre startups, é como se hoje em dia todos e as suas mães têm startups — desde a app (aplicação), a boutique de roupa ou roulotte que vende hambúrguers — mas a realidade é que ainda há muitíssimo poucas startups em Angola.

Para desmistificar o conceito de startup, no último Conversas Startup abordamos sobre o que realmente é uma startup, e não foi preciso reinventarmos a roda, pois o conceito de startup está muito bem definido.

Começamos com um pouco de história: o termo startup popularizou-se durante a crise das empresas ponto-com (dot-com), nos anos 90s. Na época, foi formada uma bolha especulativa caracterizada pela alta das acções das novas empresas de tecnologia de informação e comunicação (TIC). A Bolha da Internet, como ficou comummente conhecida, adoptou e começou a utilizar o termo startup, que até então apenas significava um grupo de pessoas a trabalhar numa ideia diferente (inovadora) e com potencial de fazer muito dinheiro através da distribuição via internet.

Vamos começar por esclarecer o que uma startup não é:

● Uma startup não é uma versão mais pequena de uma grande empresa

● Uma startup não é uma ideia de negócio

● Uma startup não é uma empresa sem dinheiro

● Uma startup não é uma app

Estas acima foram algumas das respostas (correctas) que os participantes do Conversas Startup deram no início da sessão.

Então, o que é afinal uma startup?

Vamos começar por resumir o que é uma startup, juntando as contribuições de três grandes influenciadores no mundo do empreendedorismo a nível global — de acordo com a sua ampla aceitação e complementaridade — são as de Steve Blank, Eric Ries e Paul Graham.

Uma startup é uma organização temporária (que pode estar ou não já formalizada), que tenta entregar um novo (palavra chave, pois startup tem de criar inovação) produto ou serviço, e neste processo de entrega procura encontrar um modelo de negócio que seja repetível e escalável para crescerem rapidamente, tudo isto a trabalhar em condições de extrema incerteza.

Abaixo, seguem então três definições de startup em mais detalhe:

➤ A lenda de Silicon Valley (Vale do Silício) e empreendedor em série Steve Blank define a startup (no contexto da indústria tecnológica) como uma organização temporária desenhada para procurar um modelo de negócio repetível e escalável. Isto quer dizer que o objectivo da startup é tentar validar o seu modelo de negócio — criar hipóteses e testá-las, descobrir quem são os seus clientes, descobrir os seus canais de distribuição e parceiros, descobrir como irá fazer dinheiro — para rapidamente crescer, gerar lucro e tornar-se numa grande empresa (deixar de ser uma startup), impactando os mercados globais. Para um negócio ser repetível significa que ele é capaz de entregar o mesmo produto ou serviço em escala potencialmente ilimitada, isto é, operar em mercados diferentes usando as mesmas estratégias de vendas, marketing, etc. Já ser escalável significa crescer cada vez mais sem que isso influencie no modelo de negócio, ou seja, o custo de oferecer um mesmo produto ou serviço em diferentes mercados diminui ao adicionar mais clientes — aproveitando as economias de escala para crescerem rapidamente.

Segundo Steve Blank, o/a fundador/a da startup não quer ser apenas o/a seu/sua próprio/a chefe (como acontece na PMEs), mas sim conquistar o mundo, ser global. Desde o primeiro dia da criação da startup, o objectivo é crescer a startup para ser uma grande empresa além fronteiras, que vai trazer inovação e disrupção e conquistar mercados. O/A fundador/a acredita que está a criar “the next big thing” (a próxima grande coisa). Enquanto que uma pequena ou média empresa (PME) se estabelece em um modelo de negócio já provado, não têm necessariamente de ter um produto ou serviço inovador e foca-se em assegurar o seu lugar e servir o mercado local (por exemplo: salão de beleza, mercearia, restaurante, etc.). Portanto, a força motriz de uma startup é diferente a de uma PME.

Eric Ries, discípulo de Steve Blank, é outro guru startup, empreendedor e autor da metodologia Lean Startup, define startup como uma instituição humana desenhada para entregar um novo produto ou serviço em condições de extrema incerteza. Ries argumenta que é na inovação que está o cerne do sucesso da empresa, e como a inovação é inerentemente arriscada, as startups são investimento de alto risco e confrontam-se com condições de extrema incerteza, pois estão a trazer um produto ou serviço novo no mercado sem ter a certeza se este vai ser bem sucedido. A definição de Ries também exclui o tamanho, uma startup não tem a ver com o seu tamanho, ou seja, tanto pode ser uma startup de duas ou 100 pessoas.

Paul Graham, VC (Venture Capitalist) e co-fundador da Y Combinator (uma das melhores aceleradoras de startups do mundo) define startup como uma empresa desenhada para crescer rapidamente. O foco aqui é no crescimento, e sem restrições geográficas, o que diferencia startups de PMEs. Para crescer rapidamente, significa que a startup tem de criar algo com potencial de venda para o mercado global — por exemplo: é diferente uma Tupuca (startup) e um restaurante local (PME) que faz entregas ao domicílio. O restaurante não é escalável — Graham acrescenta que para uma startup crescer em grande, ela tem de criar algo que muitas pessoas desejam e alcança-las e servi-las todas. É certo que um restaurante faz algo que muitas pessoas querem, a limitação é que só oferece um determinado leque de escolhas e dificilmente irá conseguir servir todos. Graham argumenta também que uma startup não tem de ser necessariamente tecnológica, desde que o foco seja crescer rapidamente de forma a tornar-se uma empresa global.

Ainda, outro aspecto significativo que diferencia a startup de uma empresa tradicional é a forma como a startup é financiada. Startups são um investimento de alto risco, mas ao mesmo tempo podem ser extremamente rentáveis, daí o investimento anjo e capital de risco (VC — Venture Capital) serem bastantes populares nas startups, visto que as startups trazem inovação e geralmente procuram disruptir mercados è escala global.

Neste contexto, financiar uma startup a longo prazo (por vezes até 10 anos) sem capital de risco é muito difícil, pois o capital é necessário para persistir na busca de um modelo de negócio que comece a gerar lucro e se sustente.

O ideal é a startup sobreviver até a validação do modelo de negócio e que a sua receita comece de facto a crescer e abra caminho à expansão global. Caso contrário, provavelmente a startup terá de fazer uma nova ronda de investimento (daí existirem diferentes rondas: series A, B, C, D, etc). Este foi o caso, por exemplo, do Facebook, Uber ou Snapchat entre muitos outros.

Para os VCs e Anjos de Negócios (Business Angels) que investem nas startups o objectivo é que estas tenham uma saída (startup exit) bem sucedida, seja por exemplo, via de uma IPO (Oferta Pública de Inicial), M&A (Merger & Acquisition)ou venda.

Questão Bonus:

E quando é que uma startup deixa de ser startup?

Depende de vários factores, mas podemos afirmar que há um consenso geralmente aceite que uma startup deixa de ser startup quando encontra o seu modelo de negócio repetível e escalável, e geralmente isso acontece num período de 5 a 10 anos. Nesta fase, o desafio já não é tanto em descobrir se existe um mercado para o produto ou serviço que a startup está a oferecer, mas sim se ela consegue entregar o máximo dos seus produtos/serviços para o máximo de clientes. A preocupação passa a ser com escalabilidade, segurança, margens, suporte e contratação de talento de alta ponta.

Startup ou PME , o importante é gerar emprego, impacto económico e bem estar social, e contribuir para a prosperidade da sociedade.

Artigo actualizado em Abril, 2022

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Vanda de Oliveira

Co- Founder @BantuMakers Bringing ideas, talent & capital together to create great tech startups made in Africa. Advocate for women inclusion in tech.