Dâmocles, a Fênix e a Hidra

Vinicius Bazan
4 min readJan 6, 2017

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A Hidra de Lerna: você corta um de suas cabeças e duas surgem no lugar. Um típico exemplo antifrágil

Em um texto recente, eu expliquei minha motivação principal em escrever pequenas notas sobre pontos interessantes que vou descobrindo enquanto leio Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos.

Este é o segundo texto. Nele, quero começar a discutir um pouco mais sobre o conceito de Antifragilidade.

Trata-se de um conceito que já venho aplicando aos investimentos e fica muito claro que podemos, alinhando nosso mindset, tirar muito proveito em outras áreas da vida também.

Como base para discutir esse conceito, vou usar aqui alguns exemplos presentes no livro.

Vamos começar com a definição de frágil. Para você, o que isso significa?

Frágil vs. Antifrágil

Bem, quando pensamos em algo frágil, vemos a imagem, por exemplo, de uma taça de cristal. Algo que, com um mínimo impacto, se quebra e não volta à sua forma original.

De certa forma, aquilo que é frágil é delicado, tem pavor do caos, da desordem.

Agora, o que seria o contrário de frágil, o antifrágil?

Seria algo robusto, que aguenta o choque sem quebrar?

Não exatamente. Aquilo que chamamos de robusto, ou resiliente, consegue suportar o choque, o caos, e se manter (ou voltar) na sua forma original.

O antifrágil é, porém, um passo além disso. É, de fato, a ponta oposta ao frágil.

Enquanto o frágil tem pavor do caos, o antifrágil o ama e se beneficia dele, podendo até se tornar melhor do que era antes.

Vamos usar três figuras histórias para esclarecer isso.

A primeira delas é a Espada de Dâmocles, uma anedota moral de Cícero. Na história, Dâmocles, um cortesão na corte do tirano Dionísio, recebeu deste a oferta de trocar de lugar por um dia e ter todas as regalias de que Dionísio desfrutava.

Dionísio, porém, ordenou que, enquanto Dâmocles estivesse sentado à mesa do banquete, uma espada deveria ficar pendurada acima de sua cabeça, presa apenas por um fio de rabo de cavalo. Um perigo iminente.

Essa situação é um claro exemplo de uma situação frágil. Uma simples mudança no ambiente faria o fio se romper e a espada mataria Dâmocles.

A segunda figura é a da Fênix, que imagino que todos conheçam (principalmente quem é fã de Harry Potter). A Fênix é um pássaro da Mitologia Grega que quando morria entrava em auto-combustão e renascia de suas cinzas.

A Fênix é um típico exemplo de algo robusto. Por mais que o caos a mate, ela retorna à sua forma original.

Mas e o antifrágil?

Certo, vamos agora analisar a Hidra. Presente também na mitologia grega, era um monstro com corpo de dragão e três cabeças de serpente. Quando uma era cortada, duas nasciam no lugar.

Ou seja, quanto mais caos é adicionado à Hidra, mais ela se beneficia e cresce.

A Hidra é antifrágil.

Com isso, fica clara a diferença entre o robusto e o antifrágil. E queremos buscar o segundo, que se beneficia do caos, pricipalmente porque eventos imprevisíveis estão por toda parte e ninguém quer estar no papel de Dâmocles.

E na vida real?

Se esse conceito de antifragilidade te parece história da mitologia, saiba que é algo explorado há milhares de anos no mundo real.

Na medicina, um método chamado Antidotum Mithridatium era popular na Roma antiga.

Usado por Celso, um médico famoso na região, o efeito impediu o imperador Nero de matar sua mãe.

O método, auto-aplicado por Agripina, mãe de Nero, consistia em tomar doses pequenas (não letais) e crescentes de veneno. Com isso, seu corpo se tornava cada vez mais resistente ao evenenamento.

Nero, dessa forma, não conseguiu matar sua mãe com as substâncias tóxicas ao seu alcance e precisou de métodos alternativos.

Esse efeito, a Mitridização, não é exatamente a antifragilidade, mas chega bem perto disso.

Um efeito mais próximo da antifragilidade, também na área médica, é chamado de Hormese. Esse conceito foi formalizado cientificamente em 1888 pelo toxicologista alemão Hugo Schultz.

Schultz observou que pequenas doses de veneno estimulavam o crescimento do fermento. A Hormese, então, consiste em adicionar a um organismo uma substância venenosa, em pequenas doses, que o fará se tornar melhor de maneira geral. Além da simples robustez.

Exemplos como esse estão por toda parte, na política, biologia, economia e até mesmo nas relações pessoais.

Vamos seguir discutindo mais sobre as faces da antifragilidade nos próximos textos.

Grande abraço!

Vinicius Bazan.

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