Mas o que diabos é Hamilton, Gabriela?

Gabriela Ventura
6 min readJun 15, 2016

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Hey yo, I'm just like my country/I'm young, scrappy and hungry/And I'm not throwing away my shot! #RiseUp

Após ter ouvido/lido variações dessa pergunta nas últimas semanas, resolvi fazer uma espécie de FAQ para mandar para os amiguinhos que estão perdidos e/ou me dando mute no twitter por conta do monotema. Ia fazer isso em um documento compartilhável, mas achei que uma compilação pública de links poderia ser útil tanto para os obcecados terem material de ~doutrinação~ quanto para os pobres coitados que estão sendo (neste momento, talvez) submetidos a uma enxurrada de referências a Hamilton sem a cartilha adequada. Essa não é uma cartilha adequada, mas ao menos é um começo.

Isto posto, vamos lá: "mas o que diabos é Hamilton, Gabriela?"

A resposta mais curta seria: Hamilton é um musical da Broadway sobre o primeiro secretário do tesouro norte-americano, Alexander Hamilton, ou O cara bonitão que aparece nas notas de 10 dólares.

Mabel Pines is my spirit animal

No entanto, isso não explica muita coisa, certo? Por que alguém no Brasil (ou mesmo nos EUA) se entusiasmaria com um musical sobre história americana? Então vamos tentar de novo, com uma resposta mais detalhada dessa vez.

  • Hamilton é um musical com concepção, música e letra de Lin-Manuel Miranda, inspirado pela biografia Alexander Hamilton, do historiador Ron Chernow.
  • O musical estreou no circuito Off-Broadway em fevereiro de 2015, e em foi um sucesso tão grande que em agosto já estava na Broadway. De lá pra cá o preço dos ingressos alçou grandeza astronômicas, e a peça levou para casa um sem número de prêmios, incluindo 11 das 16 indicações ao Tony Awards, o mais famoso troféu do teatro americano.
You want a revolution? I want a revelation! #Work!

"Tá, mas peraí", diz meu interlocutor imaginário, que não parece nada convencido, "a peça não tem nem um ano ainda, o que significa que quase ninguém viu. Por que então as pessoas estão surtando?" Excelente pergunta, interlocutor imaginário, eu não poderia esperar menos de um personagem de apoio saído da minha cabeça.

  • Hamilton é um musical de hip-hop, rap, R&B, jazz, ritmos caribenhos: ou seja, tudo o que não estamos acostumados a pensar quando estamos falando sobre Broadway.
  • O elenco é tão diverso quantos os ritmos que compõem a peça. Lin-Manuel Miranda, que além de autor também estrela o musical, vem de uma família porto riquenha. O vice-presidente Aaron Burr — narrador e antagonista da peça — é interpretado por Leslie Odom Jr., um ator negro. A Phillipa Soo, uma atriz com ascendência chinesa, coube o papel de Eliza Schuyler, esposa de Hamilton. Todos os outros papéis principais, bem como os do coro, seguem o mesmo casting diverso, à exceção do Rei George III — interpretado por Jonathan Groff. Cabe notar que o único ator branco de Hamilton é também o alívio cômico da peça, quando, na cultura pop de uma forma geral, temos exatamente o cenário oposto sendo retratado.
I am the one thing in life I can control. #Waitforit
  • A representatividade é tão importante para Lin-Manuel Miranda que nos próximos castings da peça (versões de Hamilton estrearão em outras cidades dos EUA e no West End londrino) os papéis principais sequer estarão atados ao gênero: em breve poderemos ver uma atriz interpretando Aaron Burr ou George Washington.
  • Você pode ouvir a trilha sonora de Hamilton (que ganhou o Grammy de melhor álbum musical) no Spotify. Não é a experiência completa de assistir no teatro, em Nova Iorque, mas ao menos é alguma coisa — e alguma coisa que não se ouve todos os dias. Pro tip: NUNCA OUÇA It's Quiet Uptown na rua. Risco de choro convulsivo.
  • Ainda assim, digamos que meu interlocutor esteja torcendo o imaginário nariz para a trilha sonora sem peça. Bem, digamos que em certa baía Pirata haja uma versão filmada da peça com uma qualidade satisfatória. Não vou linkar aqui porque não quero processinhos (ou, o que é mais provável, não quero ajudar a tirar o link do ar, como já aconteceu outras vezes), mas não é difícil de achar. E vale a pena, mesmo que o cinegrafista por vezes precise esconder a câmera por medo dos seguranças do teatro.
I will send a fully armed battalion to remind you of my love. (Eita!)

Agora vamos aos links do que pode ser assistido legalmente nas internê:

“My wife’s the reason anything gets done
She nudges me towards promise by degrees
She is a perfect symphony of one,
Our son is her most beautiful reprise
We chase the melodies that seem to find us
Until they’re finished songs and start to play
When senseless acts of tragedy remind us
That nothing here is promised, not one day
This show is proof that history remembers
We live through times when hate and fear seem stronger
We rise and fall and light from dying embers
Remembrances that hope and love lasts long
And love is love is love is love is love is love is love is love is love
Cannot be killed or swept aside,
I sing Vanessa’s symphony, Eliza tells her story
Now fill the world with music love and pride”

[Todos os links para as apresentações de Hamilton no Tony já haviam sido deletados — se alguém tiver links melhores, por favor, me avise, e eu posto aqui]

What'd I miss?

E aqui vão alguns links para textos interessantes sobre Hamilton (supondo que, se você está lendo até, provavelmente está interessado):

"Hamilton is not really about the founding fathers. It’s not really about the American Revolution. The revolution, and Hamilton’s life are the narrative subject, but its purpose is not to romanticize real American history: rather, it is to reclaim the narrative of America for people of colour … If you’re watching/listening to Hamilton and then going out and romanticizing the real founding fathers/American revolutionaries, you’re missing the entire point."

Por enquanto é só. Caso outros links interessantes apareçam, farei updates no post.

Who lives, who dies, who tells your story.

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