Ciência para não cientistas: Conceitos básicos para não ser enganado.

Victor Farinella
5 min readJul 25, 2016

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Algumas matérias se utilizam de títulos chamativos e de apelo científico para atrair o leitor mas não necessariamente referenciam as “afirmações científicas” que chamam sua atenção, aqui vão alguns exemplos.

A ciência está próxima de comprovar…

É uma afirmação de peso, comprovação de fenômenos pela ciência é algo criterioso e leva tempo, mas isso não impede que hajam publicações como esta:

Ao ler a matéria notamos que ela se baseia em um estudo da Universidade de Bielefeld na Alemanha onde o grupo de pesquisa do Professor Olaf Kruse descobriu que a alga Chlamydomonas Reinhardtii pode digerir a celulose de outras plantas quando exposta a baixas concentrações de gás carbônico (matéria prima da fotossíntese). A partir deste estudo, a Psicóloga Dra. Olivia Bader Lee afirma:

“O organismo humano é bastante similar à uma planta, que suga, absorve a energia necessária para alimentar seu estado emocional, e isso pode energizar as células ou causar o aumento de cortisol e catabolizar, alimentar as células dependendo da necessidade emocional.”

[…]

“É exatamente por isso que há pessoas que se sentem desconfortáveis onde há um certo grupo com mistura de energias e emoções”

Se fizermos uma pesquisa rápida sobre as afirmações não encontraremos nenhum site onde a Dra. Bader Lee de fato comprove as afirmações atribuídas à ela.

Podemos ver o quão oportunista são publicações como esta que se baseiam em estudos sérios para afirmar verdades que não existem. Em nenhum momento o estudo sobre as algas diz que isso se aplica a humanos, e mesmo que se aplicasse, só provaria que podemos nos alimentar esfregando comida na nossa pele ou algo do tipo. Além disso a matéria tenta reafirmar sua hipótese se utilizando de mais um estudo sério na área da psicologia, deixo aqui uma matéria da Science Daily sobre o estudo.

Antes de continuar é importante fazer uma ressalva. Não estou dizendo que fenômenos tidos como pseudo científicos não possam vir a ser comprovados um dia, na ciência existem alguns exemplos como o do Médico Ignaz Semmelweis que sofreu forte resistência ao implantar métodos básicos de assepsia como lavar as mãos antes de uma cirurgia. Mas afirmar descobertas sem estudos que a confirmem, é no mínimo um ato descuidado quando feito por nós em uma conversa informal, e uma grande irresponsabilidade quanto feito por meios de comunicação.

Remédio natural que cura…

Como é forte o apelo de tudo que é natural, não? Seria ótimo que doenças graves como o câncer pudessem ser curadas com um chá… Mas infelizmente não sabemos se é possível.

Calma! Eu não estou desmerecendo ou duvidando da capacidade da natureza de nos fornecer curas legítimas para doenças graves, a aspirina que você toma é derivada da planta Salix Alba (embora não seja mais produzida a partir da mesma), e se você morador dos trópicos não tem malária, deve agradecer a Cinchona Officinalis, planta que originou o primeiro fármaco para combater a doença. E as pesquisas para obter curas reais pela natureza ainda seguem!

Porém o que mais vemos são apelos milagrosos que prometem a cura do câncer ou a desintoxicação total do seu organismo como os sucos detox que prometem “limpar” seu corpo e te deixar novo em folha! Mas parece que segundo pesquisas sérias sua eficácia não pode ser comprovada, restando apenas um grande apelo mercadológico. Esta bela postagem da página Cura pela Ciência resume:

Mas como saber se é real?

Imagino que a essa altura algumas pessoas se perguntem como filtrar informações que não são da nossa competência diária, já que algumas dessas publicações tratam de assuntos bem restritos. Mas existem maneiras bem simples de colocar uma informação a prova e exercitar nosso senso crítico:

  • Fique atento ao site: sites de universidades, centros de pesquisa ou publicações científicas tendem a ser mais confiáveis, isso não quer dizer que o blog de ciência do seu amigo está mentido, mas fique atento a sites pouco conhecidos.
  • Busque por referências: Quando falamos em ciência, referenciar os fatos com artigos e dados confiáveis é vital, caso contrário fica difícil para nós leitores buscarmos a fonte da informação e checar sua veracidade.
  • Pesquise pelos envolvidos: É comum encontrarmos reportagens mesmo em grandes veículos de mídia que não estão referenciadas, mas podemos fazer uma busca rápida pelo nome dos envolvidos e da universidade citada.
  • Não acredite em tudo que se lê: Não estou dizendo para você duvidar de todas as informações e se tornar uma pessoa paranoica, mas quando não for possível verificar pelo menos um dos pontos citados, peça as referências para quem está veiculando a informação, ela não irá se ofender se estiver dizendo a verdade.

O mais importante, não compartilhe informações falsas! Com as dicas acima fica mais fácil verificar se uma informação é falsa ou se trata de um estudo real, somos nós quem compartilhamos boa parte do conteúdo na internet e se continuarmos disseminando estudos falsos e curas inconclusivas as pesquisas relevantes nunca terão a atenção que merecem, e acreditem, uma boa divulgação é importante para que um projeto possa se mostrar relevante para a sociedade.

Atenção às manchetes sensacionalistas!

Esse ponto merece destaque já que somos “fisgados” pelas manchetes mais chamativas, fique atento quando ver títulos assim:

  • Ciência comprova que…
  • Pesquisas apontam…
  • Planta é a cura para doença grave…
  • Incríveis receitas que “eles” não querem que você saiba…
  • Passe/tome essa planta por x dias e você ficará surpreso com o resultado…

Eu poderia ficar horas dando exemplos como estes, já que eles surgem na linha do tempo no facebook o tempo todo, somos bombardeados por informações falsas e mal intencionadas e cabe a nós filtrar os fatos de descobertas “milagrosas” que podem colocar sua saúde em risco.

Uma participação ativa na disseminação do conhecimento irá ajudar a “limpar” a internet de informações falsas e sem credibilidade, contribuindo para o nosso crescimento pessoal e combatendo o analfabetismo científico reproduzido no mundo todo.

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Victor Farinella

Estudante de Química e divulgador científico nas horas vagas. Atualmente escreve na publicação TRENDR e no site Nossa Ciência.