Tenha objetivos, defina suas prioridades e ligue o foda-se

Victoria Giroto
6 min readJan 28, 2018

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Estou muito longe de ser uma amante de gatos, mas o gato da Alice no País das Maravilhas nos ensina uma baita de uma lição — e é sobre ela que eu quero falar hoje.

Pra quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve.

“Gato, eu só queria perguntar qual caminho devo tomar” — Bom, isso depende do lugar onde você quer chegar.

2015: Um dia comum, numa semana comum. Eu realmente não me lembro quando foi. Saio da aula de francês, chego no escritório, passo pela cozinha, pego minha caneca e um pouco de café e vou até a mesa do nosso time. Me sento pra começar mais um dia cheio de fórmulas e planilhas no Excel. Uma amiga que sentava na minha frente deita o pescoço para a direita, desviando das telas dos nossos computadores, me olha e fala, sorrindo como uma criança: “Vic, decidi ontem: Vou pra Rússia em 2018!

Não vou mentir, a primeira coisa que me veio à mente foi “Caramba, se ela precisa poupar por três anos pra conseguir fazer uma viagem, ela deve ganhar mal”. — Que inocência (ou ignorância) a minha.

2018: Adivinha quem vai ver a copa de perto esse ano? Acertou.

Vira e mexe esse assunto fica borbulhando na minha cabeça, e só nos últimos dois meses, quando comecei a fazer consultoria para alguns amigos, eu percebi que isso é mais comum do que eu pensava. Hoje borbulhou mais que o normal e eu resolvi escrever. É extremamente normal eu perguntar: “Antes de começarmos o seu planejamento, quero saber: Quais são seus objetivos?” E a pessoa responder “Então…

Ter objetivos definidos aumenta exponencialmente a sua chance de realmente alcançá-los.

Sabendo quando eu quero viajar e quanto isso custa, eu consigo traçar um plano de quanto preciso investir por mês, por quanto tempo, e como vou fazer isso. Eu posso sonhar todas as noites em assistir um ballet em Moscou, se eu não souber quanto isso custa, não poupar e não me preparar, isso jamais vai acontecer. Se eu não souber com quantos anos eu quero me aposentar e com qual renda, eu provavelmente não vou investir o necessário. Se eu não souber quanto custa a pós graduação que eu quero e não me preparar pra pagar por ela, com certeza eu vou adiá-la. E aqui quero colocar uma das minhas frases preferidas, que alguém me falou uma vez: a diferença entre um sonho e um objetivo é um prazo.

Ter objetivos definidos nos tira da zona de conforto e nos estimula a “dar um jeito”.

Se eu preciso de R$12.000 reais pra fazer uma viagem no fim do ano, mas no ritmo em que estou só vou conseguir poupar R$8.000, eu vou fazer uns freelas, eu vou cortar gastos, vender coisas que eu não uso, trocar algumas coisas que eu compro/faço por opções mais baratas, vou ralar pra me destacar no trabalho e pedir um aumento. Vou me virar.

E isso me leva ao segundo ponto:

Antes de nos conhecermos, essa amiga tinha trabalhado com moda em Londres, ela é mais velha, ganhava mais que eu. E um dia, quando eu estava começando a planejar sair da casa dos meus pais e estávamos conversando sobre gastos, ela me disse “Ah, meu custo de vida é baixo, eu não compro roupa quase nunca, moro no centro e meu aluguel é super barato, nunca vou em bares/restaurantes caros, sempre faço rolês baratos com meus amigos.

Novamente, a Victoria ignorante pensou “Porra, você tem 30 anos, trabalha pra cacete, tem duas faculdades e ainda faz freela fora do trabalho. Você ama moda, por que você se priva de comprar roupas? (detalhe: eu era extremamente consumista) Você é cheia dos amigos e tem uma vida social super ativa, por que você se priva de fazer rolês mais caros? Até eu faço isso, e eu sou estagiária.”

Eu não entendia que ela tinha uma coisa simples e que me fazia muita falta: prioridades.

Um ex-chefe meu, conhecendo minha enorme dificuldade em despriorizar tarefas e dizer não para as dezenas de pedidos que apareciam à minha mesa durante a semana, me disse uma frase brilhante que eu hoje tenho escrita na parede do meu quarto: “Focar é dizer não.” (Só pra não pegar mal, preciso dizer que essa frase não é dele, é de um cara chamado Steve Jobs)

Quando você sabe o que é mais valioso pra você, todo o resto fica mais fácil. Falar não pra aquele convite pra balada que custa R$100 fica mais fácil. Falar não pra jantar fora o tempo todo fica mais fácil. Falar não pra viagem espontânea pro próximo feriado fica mais fácil. E o pior é que antes não era nem “mais difícil”, era praticamente desnecessário. Por que eu vou dizer não pra um convite animal desses? O que eu vou ganhar com isso? Eu não tenho planos para o meu dinheiro, então qual é o meu trade-off? Se você não tem objetivos, você nunca tem a sensação de que, na verdade, cada escolha é um trade-off. E aqui, novamente, tiro o chapéu para o felino amigo da Alice.

E falando em Alice, a chefe mais durona que já tive me disse uma vez: “Vic, não fique mal por abrir mão de coisas que você gosta por algo maior. Como diz o filósofo Chorão: cada escolha, uma renúncia”. — Ela me dava uns bons puxões de orelha e me cobrava muito, questionava minhas análises e meus números, mas não sei se ela sabe que, na verdade, essa foi a maior lição que ela me ensinou.

Se fosse fácil pensar no futuro e às vezes conseguir abrir mão do prazer imediato a gente tava bem, né não? Mas amigos economistas, me desculpem, nós não somos seres racionais (e vocês sabem disso, mesmo porque a vida de vocês seria muito mais fácil se nós fôssemos). Para conseguirmos vencer essa difícil tarefa diária de abrir mão do prazer imediato em prol de um benefício maior no futuro, ter prioridades é fundamental.

Quem conhece suas prioridades é você

E uma coisa que eu acho essencial ressaltar: prioridades são o que é importante pra você, e só você é quem sabe o que elas devem ser. Se, pra você, ir a restaurantes caros é importante, quem sou eu (ou qualquer pessoa) pra te julgar? Tem gente que ama futebol e gasta centenas (até milhares) de reais pra ver seu time do coração jogar. Pra alguns, isso é loucura, pra outros é simplesmente uma paixão. E só você conhece de verdade quais são suas paixões. De qualquer forma, o mindset é o mesmo: se eu conheço minhas prioridades, rejeitar as distrações no meio do caminho pra tudo caber no meu orçamento fica mais fácil.

E essa coisa toda de objetivos e prioridades não serve só na nossa vida financeira, serve pra qualquer coisa. Não adianta eu falar “em 2018, vou perder peso”. Se eu não definir o quanto eu quero perder, até quando e como vou fazer isso, a chance de conseguir é infinitamente menor. E, claro, se eu não conseguir rejeitar um convite de uma amiga pra ir tomar um sorvete num sábado à tarde porque ela vai reclamar, ou não conseguir rejeitar um convite pra balada pra acordar cedo pra fazer exercício, aí fica difícil conseguir mesmo.

(E não quero desviar do assunto, isso fica pra outro texto, mas mantenha por perto pessoas que te ajudam com seus objetivos e acreditam no seu potencial! Estes são seus verdadeiros amigos.)

O ponto de tudo isso não é abrir mão do prazer na sua vida, mas justamente você conseguir atingir o que realmente importa pra você. É claro que minha amiga gostava de comprar roupa e é claro que ela queria ir em restaurantes caros às vezes, mas ela tinha clareza de que essas coisas não eram prioridade. Os objetivos dela, sim. E, pra mim, virar essa chave foi uma baita de uma lição: a parte difícil de priorizar algumas coisas é se forçar a despriorizar outras. E, pra isso, também é preciso conseguir ignorar seus amigos/família/namorado(a) enchendo o saco ou te julgando — assim como eu julguei, de forma completamente estúpida, minha amiga em 2015.

Com aquele sorriso enorme e o estilo de vida simples, ela não sabia, mas me ensinava essas três lições valiosas: Tenha objetivos, tenha prioridades e ligue o foda-se para o que os outros vão pensar.

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