No bullshit, aqui é hardwork!

Victor Maia
5 min readJan 28, 2016

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O natal é o período em que o varejo mais arrecada, mesmo com a crise econômica que vivemos por aqui, ainda é um período muito bom para o comércio. Inspirado por diversas histórias de empreendedores e na necessidade de uma renda extra; arrumei um emprego temporário como vendedor extra para o natal numa rede de lojas de vestuário masculino.

Bem, digamos que seria uma experiência diferente.

Não vou negar que nos momentos que antecediam o início da experiência eu era um misto de tensão e curiosidade. A parte da tensão se dava pelo receio de ter uma atividade muito desgastante fisicamente, e consequentemente não conseguir me dedicar as atividades da empresa. Já a curiosidade era por simplesmente nunca ter executado essa função (de forma profissional).

Bem, mas agora você deve se questionar o porque disso, correto?

Meus objetivos pessoais e os da empresa sempre andam de mãos dadas; mas a vida de quem empreende não pode privar as pessoas ao redor — família, namorada e amigos, por exemplo — das vontades que possuem de desfrutar a vida. Mas o fato é que, se desejo fazer qualquer atividade com eles, é preciso ter algum dinheiro na carteira.

Então, como não comprometer o fluxo de caixa da empresa e conseguir ter dinheiro para viver? Como eu poderia fazer uma viagem de férias com minha namorada, se não tenho renda nem reserva financeira? A resposta demorou, mas foi simples: arrumando um segundo emprego.

Abri mão do descanso no recesso de final de ano, para dobrar a carga horária de trabalho. Pela manhã trabalhava na empresa, à tarde como vendedor em shopping

Para muitos é difícil entender: como eu poderia manter o foco em meu negócio mas trabalhar num emprego que iria sugar muito do meu tempo e energia vital, ainda conseguindo render de forma positiva para a empresa. Enfim, meu feeling de empreendedor nunca me deixou dúvidas.

Tive uma vantagem ao meu favor, o período de Dezembro de 2015 foi um período de baixa, ou seja, entraram pouco jobs e pude me dedicar mais à planejar as próximas atividades, e consequentemente, o próximo ano.

Aproveitei esse período de baixa na empresa para me dividir num segundo trabalho e fazer o dinheiro eu precisaria.

Não é querendo parecer algum guru ou filósofo, mas é simples, quais os sacrifícios você está disposto a fazer pelo bem de seu negócio?

Como diz o Gary Vaynerchuck, o quão duro você realmente está trabalhando pelo seu negócio? Hustle, essa foi a dinâmica que segui. Para não penalizar o negócio ou pessoas ao meu redor, me desgastei. Abri mão de um possível descanso para trabalhar de 29 dias direto, tendo dias de 13h de jornada, sem falar da dedicação à assuntos da Elemento.

Folgas? Para que folgas? Estava ali para fazer dinheiro. No mês inteiro de Dezembro, apenas dois domingos de folga.

A experiência que mudou minha dinâmica

Até aquele momento, em que resolvi trabalhar no varejo, enxergava a dinâmica de vendas de forma totalmente diferente. Objeções tornavam-se grandes barreiras para a venda, e assim me “auto-destruía” no processo.

Bem ao chegar na loja, uma das primeiras lições que aprendi: a dinâmica de vendas se baseia em entregar o que o cliente não procura, ou seja, se o cliente chega na loja procurando camisetas e no momento de passar no balcão eles está levando, por exemplo, três camisetas diferentes; você não vendeu, apenas atendeu.

Vendas é o processo de encantamento, convencimento e sobre despertar vontades.

Se o cliente for procurar para comprar uma calça, mostre camisas e um sapato que faça o conjunto se valorizar. Encante o cliente, mostre como ele pode ficar diferente. O vendedor naturalmente enfrentará objeções do tipo: “Não estou procurando por isso agora” ou “Tenho muito disso em casa.”, você tem que aprender a ler as pessoas.

Tenho certeza, que você nesse momento pensou: "Ah, mas vender produto é moleza. Quero ver vender um serviço intangível." Realmente, vender produto é mais fácil, mas temos que lembrar: numa loja, o vendedor e o cliente estão simplesmente no mesmo patamar. Não existe ninguém superior a ninguém — apesar de as vezes notarmos que existem clientes que querem fazer o vendedor se sentir inferior de qualquer forma - e principalmente, o vendedor precisa entender que ele não incomoda.

Pegue essa dinâmica e analise como uma venda corporativa, de serviços por exemplo. Já escrevi anteriormente nesse artigo “O dia em que demiti meu cliente” sobre essa dinâmica. Quando os lados entendem que são dependentes um do outro a dinâmica da venda é limpa.

Entender que você não é superior por ter o serviço, ou por ser o portador do dinheiro é muito importante. Comércio e vendas é na realidade, até os dias de hoje na base do escambo. Eu forneço um serviço/produto que você precisa em troca do seu dinheiro. Simples.

A verdade é que essa experiência foi recompensadora, apesar de muito cansativa. Mas como dizem, não há bônus sem ônus. Se me perguntar se eu repetiria, sim repertiria e me arrependo de não ter tido esse tipo de experiência quando mais novo.

Sobre vendas no Brasil

Alguns aspectos que pude observar enquanto trabalhei não dizem respeito somente a melhorias no processo de vendas ou coisas ligadas diretamente aos produtos, por exemplo.

Muitos reclamam da falta de honestidade dos vendedores, e através dessa experiência eu afirmo: fui honesto e isso me fez perder vendas. Perdi vendas, mas notei que os clientes sentiam firmeza no que eu falava e isso para mim, é mais importante do que a venda. É mais importante, pois fortalece o laço principal do comércio: a confiança que alimenta a reciprocidade.

Sofremos atualmente uma crise de confiança. No Brasil em geral, clientes não confiam em vendedores e consequentemente, os vendedores não querem criar laços de confiança com os clientes, pelo fato que para ele o mais importante é gerar mais vendas e assim, mais dinheiro.

Nessa dinâmica de pensamento, os atendimentos tornam-se fracos e superficiais, o que reforça a crise de confiança e caímos então num ciclo vicioso. Se clientes passarem a ter a noção de que não são melhores que os vendedores por possuírem o dinheiro, automaticamente, vendedores aumentam a relação de confiança com o cliente e começa então um ciclo que fará ambas as partes ganharem.

Ah, essa reciproca é verdadeira, então não vamos esperar sempre que o cliente ceda.

Ganha o cliente por saber que aquele vendedor está na realidade fazendo uma consultoria, ganha o vendedor por fazer um atendimento diferenciado e atencioso podendo fidelizar um cliente e assim aumentando suas estatísticas de venda.

Esse artigo foi escrito por um empreendedor de primeira viagem, que está a 3 anos na luta mas que acredita no seu sonho e no seu propósito de vida. Caso queira descobrir mais conteúdos que escrevi, acesse o site da minha agência clicando aqui.

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Victor Maia

Unconventional Mind, Content Wizard, Marketer in the spare time