Sabonete Phebo: O último resquício de civilização em um mundo de barbárie

Vinícius Perez
4 min readNov 10, 2015

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Testamos o sabonete Phebo e tiramos algumas conclusões sobre o produto.

O homem ao meio da selvageria apega-se ao último sinal de refinamento como uma criança aperta contra o peito seu bichinho de pelúcia favorito. Na mão do homem, bem guardado pelos dedos cerrados, repousa um sabonete Phebo. Sem dúvida a magnum opus da Granado Pharmacia, empresa responsável pelo sabonete entre dezenas de produtos, o Phebo é uma joia rara no comércio brasileiro. Sua linha mediterrânea (“Figo da Turquia”, “Tuberosa do Egito”, Alfazema Provençal”, “Cedro do Marrocos” e “Limão Siciliano”) transcende a responsabilidade com a higiene pessoal do corpo, da virilha, do bumbum e atrás da orelha. Os sabonetes Phebo são uma viagem no tempo, são o cheiro de avós, uma homenagem à tradição. O tipo de sabão que ultrapassa a pele e limpa até a alma.

Eu não vou julgar se, na intimidade do box embaçado, você abrir a boca e morder o Phebo. Morde, vai. Mastiga. Sob efeito do Phebo, você se transporta dessa miséria, do aluguel, dos boletos de contas empilhados em cima da escrivaninha (cheia de adesivos de marcas de skate) que você tem desde os 14 anos. Sob efeito de Phebo, você vira um barão balonista voando pelos ares cantarolando uma melodia do Rimsky-Korsakov. Só a caixinha dos sabonetes Phebo já é mais elegante e sofisticada que a maioria dos itens de decoração das nossas casas.

Disco de vinil na parede é o equivalente decorativo do blazer com camiseta de cultura pop, um equívoco assustadoramente popular que deixa seu quarto com cara de bar de rock do interior. Outro cenário recorrente: alguém critica Romero Britto e você pensa “caraio,que artista de altíssimo calibre intelectual essa pessoa gosta? Rothko? J.M.W. Tuner?” e aí descobre que ela coleciona toy art, boneco, bonecrinho, hominho. A arte em E.V.A., mesmo feia, é a menos pior das três, pois já estimulava o lado criativo da sua tia-avó anos antes da popularização do livro para colorir de adultos. O fato é que E.V.A., disco de vinil ou toy art: nada chega perto da elegância tradicional da embalagem do sabonete Phebo.

Talvez seja a classe média impregnada no meu sangue, mas Ph com som de F é a coisa mais chic que existe, ainda mais com essa fonte. E a ilustração botânica? O obsoleto ofício que uniu a ciência e arte repousa agora lindo e melancólico em uma caixa de sabonete.

O produto de 100g custa 3,50 reais e dura entre duas semanas e um mês, um mês e meio, dependendo do seu comprometimento com a higiene. O preço é um pouco acima da média do mercado, mas vale completamente. Qual suas outras opções? O exagero clean do sabonete Dove? A funcionalidade sem charme do Protex?

Mas para o Phebo ser considerado um real agente da civilização ele não deveria oferecer algo além do que más línguas reduziriam apenas como “um cheirinho de gente velha”? Pois ele oferece. O crescimento desenfreado da população é a principal ameaça ecológica e econômica dos nossos tempos, uma bomba populacional que explode gradualmente e vai eliminando os recursos do planeta enquanto desencadeia uma variedade de catástrofes climáticas. O Phebo é a solução.

A média do tempo de banho recomendado por autoridades em racionamento é 5 minutos. 5 minutos é inviável para ter a a viagem astral consequente do Phebo. Phebo não é sobre cheirar bem, sobre ficar limpo. É sobre a experiência. Mas você não quer ser um colaborador na destruição da Terra. O que fazer? Deixar de ter filhos para poder tomar banhos mais longos na companhia do Phebo.

O cálculo.

Uma pessoa gasta 12 litros a cada 2 minutos de banho. 2.400 litros por mês. A média de gasto numa vida é 2.160.000,00 milhões de litros d’água. Se você não tiver filhos, você instantaneamente ganha 360 mil minutos extras para tomar banhos longos sem culpa, sem remorso, entregue ao Phebo, dignificando sua existência. Eu abriria mão de um filho por mais tempo com o Phebo. Eu tenho certeza que você também. Alexander Fleming ganhou um Prêmio Nobel em 1945 pela descoberta da penicilina, diminuindo a mortalidade em 300%, sendo, de certo modo, responsável pelo boom populacional e pela crise hídrica em que vivemos. Quantos prêmios Nobel os sabonetes Phebo merecem por solucioná-la?

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