Storytelling ou o desafio de contar histórias que prendam a atenção

Virando a Pauta
7 min readJul 3, 2015

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Um desafio que a CNN abraçou é como melhorar o contar histórias…

Tanto para a internet, como para a TV e um ensinando o outro.

Durante o período em que estive no CNN Journalism Fellowship em 2015 tive pelo menos três aulas/oficinas como esse tema.

Colo e traduzo aqui uma lista de dicas que passaram para gente.

Abro com um vídeo que foi o que mais me emocionou em toda minha estada lá — acho que fica como modelo do que podemos fazer e do que vale a pena.

Projeto Elevate

Dedicado a melhorar o engajamento em vídeos na internet a partir de padrões inferidos com as métricas de vídeos. Eles avaliam que uma história com bom rendimento é a que leva pelo menos 55% das pessoas até o final do vídeo.

Esse projeto é liderado pelo Richard Griffins, um dos melhores encontros que pude ter. Baita professor. De alguma forma, me trouxe de volta a noção de seriedade e de missão que precisamos ter em nossa profissão. Ele lidera o “The Row”- grupo de editores experientes que lêem e aprovam todos os textos de repórteres que a CNN publica.

O workshop dele teve o objetivo de apresentar as características de vídeos com elevado nível de engajamento. A ideia era tentar adivinhar ou estimar o percentual de unique visitors que clicavam no vídeo, quantos ficavam até o meio e quantos iam até o final.

Traduzi o material que distribuíram pra gente:

Características de vídeos com alto engajamento

- personagens interessantes para ilustrar a história

- um senso de conexão emocional ou drama na história

- um arco de story-telling claro — uma abertura com gancho, uma tese, a entrega do prometido e um bom fechamento (às vezes com um pequeno twist)

Dá pra comparar com a experiência em um restaurante :

— Gancho de abertura = drink de boas vindas; a explicação da tese =a leitura do menu; a entrega = o prato principal e o fechamento = sobremesa

- é uma fatia/ um pedaço de uma história maior

- pequenas e claras explicações

- imagens que são “escritas” (fazem sentido e são conectadas com a história), com pouco ou nenhum “papel de parede” (imagem de cobertura)

- uma sensação de experiência, onde o espectador é transportado para o local da história

- um senso de que o repórter está engajado e interessado no material. Com energia na narração!

Características de vídeos com baixo engajamento

- sem personagens

- um approach bagunçado, com confusão de histórias combinadas

- frases duras, informativas, com fatos de contexto, mas difíceis de entender

- presença “obrigatória” de algum especialista que te tira da narrativa da história

- resposta do outro lado , com aquela nota chata, que está toda junta na mesma parte da reportagem em arte (É melhor espalhar pelo texto…)

- imagens de cobertura/“papel de parede” e que não estão conectadas com a narrativa

- bons materiais — imagens ou informações — que não foram bem introduzidos

- standups gratuitos que não acrescentam nada à narrativa

Longform

Um conceito norteia o que não é breaking news. Uma nova definição. “Notícia não é só o que acontece, mas também aquilo que você não conhece”.

Tivemos a chance de conhecer e conversar com repórter e editora parceiras de longa data: Moni Basu e Jan Winburn — responsáveis pela vertical de Long Forms na CNN Digital. Tão sensíveis, apaixonadas e apaixonantes.

Moni cobriu o terremoto no Nepal e no Haiti. É aficcionada por histórias de resiliência .

Abaixo, traduzi uma lista de dicas que elas nos passaram — tem alguns links de matérias da própria Moni e algumas referências delas.

Acrescento aqui uma referência minha — baita reportagem em paralaxe sobre a pobreza no Vale do Silício feita por John D Sutter — grande repórter da CNN Opinion :

Dicas para Storytellers e palavras para inspirar…

“Pessoas são famintas por histórias. É parte de nossa existência. Storytelling é uma forma de História, de imortalidade, também. Passa de uma geração para outra”(Studs Terkel)

1. Uma história simples é uma boa história

Não atrapalhe seu espectador ou leitor pedindo pra processar muita informação.

2. Uma espinha/coluna sólida

“A coisa mais importante num trabalho artístico é que ele tem um foco. Precisa ser um lugar onde os raios se encontram ou de onde eles se irradiam”(Tolstói)

Tente escrever uma sentença que descreva sua história. Então use sua sentença para guiar o foco de sua história. Você esticou muito pra fora de seu tópico ou passou para uma tangente? Você pode perder sua audiência.

3. Tensão

“Você não pode contar uma boa história sem conflito — a história não pode ser apenas bonita ou cheia de significados. Nós somos ensinados a fugir de conflitos — e isso está nos roubando boas histórias”- Donald Miller, autor de “Blue Like Jazz”

Uma história não é tão atraente se não tiver algum tipo de problema. Qual é a tensão em sua história? E você o estabeleceu corretamente no início?

4. O Gancho.

“A frase mais importante é a primeira: ela contém a semente orgânica de onde tudo que segue irá crescer” — Paul Horgan

Como você atrairá sua audiência para a história? Você tem que dar a eles uma isca . É um pouco de informação que os fará ficar interessados, que os fará seguir, mas que não os deixará abandonar o resto da história. Frequentemente, é o prenúncio do clímax da história

5. O fim.

“O fim está implícito no começo. Precisa estar. Se ele não está ali no começo, você não sabe em que você está trabalhando. Você precisa de um senso de que o formato da história, seu destino e tudo em volta é como a flor dentro da semente”- Eudora Welty

Muitas pessoas são adeptas de começar uma história com uma cena poderosa ou engraçada ou factual. O fim será tão forte? O objetivo é manter leitores e espectadores seguindo. Não os desaponte quando eles chegarem no final.

6. Procure por inspiração em qualquer lugar

— em livros, filmes, músicas, conversas, social media, blogs. A ideia de uma história pode surgir de tudo. Assim como uma ideia inteligente sobre como contar uma história. Quando você encontra uma história que você ama, disseque-a e veja como ela funciona.

7. Pense personagem .

“Não escreva sobre o Homem; escreva sobre “um” homem” –E.B. White

Um personagem atraente, engraçado, trágico ou inteligente pode fazer ou quebrar uma história. Se você está escrevendo uma história ou fazendo um vídeo sobre um personagem particular, tente descobrir o que o faz grudar. Faça perguntas diferentes e divertidas

8. Observe e ouça

Pegue o mundo ao seu redor. Grave-o em cada detalhe, e use suas notas na história. Quais são os cheiros, os sons, as visões e as texturas que transportarão seus leitores e espectadores para a história que você está tentando contar?

http://edition.cnn.com/interactive/2012/03/world/mauritania.slaverys.last.stronghold/index.html

9. Vire uma autoridade.

“Tudo é mais atraente quando você fala como um ser humano, quando você fala como você mesmo” — Ira Glass — The American Life

Quanto melhor você conhece sua história, melhor você pode explicá-la. Não inclua tudo que você aprendeu, apenas os pontos que são importantes para ajudar seus leitores a entender e seja justo com outros pontos de vista. Mesmo que a história seja sobre você, você pode conversar com pessoas que tem experiências similares ou entrevistar parentes e amigos que te conheçam

10. Faça um plano

Quando você está para começar a fazer sua obra, faça uma lista dos pontos mais interessantes, cenas e detalhes. Então descubra como arranjá-los. Use essa lista (um esboço da sorte) com seu mapa criativo.

11. Arrisque. Pense grande. E se divirta!

“Mantenha-se humano! Veja pessoas, vá a lugares, beba se você quiser” Também “Não fique nervoso. Trabalhe calmamente, alegremente, imprudentemente com tudo que estiver a sua mão” — Henry Miller

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projeto de Rodrigo Hornhardt / comunicação, jornalismo, tv, cultura etc