Esportes coletivos de invasão: qual a importância de entender esse conceito?

Vitor Hugo Sarvas
4 min readJul 7, 2020

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Ouvindo um podcast do excelente blog Bola Presa, surgiu uma pergunta de um ouvinte que me instigou a escrever este texto. Ele teria começado há assistir basquete a pouco tempo mas acompanhava futebol assiduamente e perguntou se existia alguma correlação entre a “extinção” do centro-avante e do pivô no futebol e no basquete, respectivamente. Essa dúvida me fez observar a importância de um conceito fundamental para a análise de desempenho: a natureza do esporte analisado. Vamos usar esse exemplo dos centro-avantes e pivôs para entender melhor isso.

Primeiro, precisamos entender que a análise de desempenho existe tanto em esportes coletivos, quanto em esportes individuais. Dentro dos esportes coletivos podemos separá-los em esportes coletivos em que cada equipe possui seu espaço físico da quadra (como vôlei) e os esportes coletivos de invasão (futebol, basquete) onde as equipes dividem uma mesma quadra ou campo e têm que entrar no espaço do adversário para marcar pontos. Os esportes coletivos de invasão possuem diversos pontos em comum e, nesse texto, iremos abordar apenas dois itens que são muito interessantes para explicar essa possível relação do exemplo:

  • Relação entre espaço e tempo de ações;
  • Interação entre atletas e local da quadra/campo.
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Nos esportes coletivos de invasão temos uma relação muito importante de espaço e tempo onde os atletas precisam realizar movimentações especificas em um determinado momento para produzir alguma ação de jogo. Essas ações precisam ser realizadas de maneira cada vez mais veloz com o passar do tempo graças às mudanças nos esportes. Um dos motivos é a ocupação de espaço de maneira mais eficiente pelas defesas. Tanto no basquete quanto no futebol o espaço próximo da meta (cesta e gol, respectivamente) tem se tornado um local cheio de corpos dificultando a progressão e, consequentemente, as chances de pontuação fácil.

Como tradicionalmente pivôs e centro-avantes são posições (ou seriam funções?), em que os atletas são fisicamente pesados e altos, esses acabam sofrendo mais com essa quantidade de acelerações e desacelerações, mudanças de direção e quantidade de atletas ocupando um espaço. Adicionalmente, o posicionamento mais tradicional de ocupar uma região mais próxima da meta também acaba dificultando em partes o espaço que sua equipe pode usar no ataque, já que os defensores que estão próximos a eles também estão entre os atacantes e a cesta/gol. Isso quer dizer que em um local que já possui pouco espaço por causa da compactação da defesa, acaba com mais um elemento no meio dessa bagunça.

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Esse exemplo é muito bom para mostrar como elementos dos esportes coletivos de invasão são transferíveis e entender a natureza do esporte é fundamental para isso. Poder adquirir inspirações em outras modalidades para possíveis objetos de análise é algo muito útil e deve se tornar comum, já que muitas vezes precisamos identificar elementos que ainda não são consolidados nem na teoria, nem na prática.

Além disso, podemos observar as mudanças de demandas que o esporte que analisamos tem ao longo do tempo e, com isso, realizar melhores inferências dentro das análises contribuindo com previsões de possíveis ações tecnico-táticas a partir delas.

Sugestão de artigos e podcasts que foram usados para escrever este texto:

  • bolapresa.com.br — podcast #265
  • GRÉHAIGNE, Jean-Francis; CATY, Didier; GODBOUT, Paul. Modelling ball circulation in invasion team sports: a way to promote learning games through understanding. Physical Education and Sport Pedagogy, v. 15, n. 3, p. 257–270, 2010.
  • PASSOS, Pedro; ARAÚJO, Duarte; DAVIDS, Keith. Self-organization processes in field-invasion team sports. Sports Medicine, v. 43, n. 1, p. 1–7, 2013.
  • LAMAS, Leonardo et al. Invasion team sports: strategy and match modeling. International Journal of Performance Analysis in Sport, v. 14, n. 1, p. 307–329, 2014.
  • https://www.gigantes.com/nba/info-basica-nba/el-spacing-en-el-baloncesto-por-que-en-la-nba-y-en-fiba-se-defiende-diferente/
  • WALLACE, Jarryd Luke; NORTON, Kevin Ian. Evolution of World Cup soccer final games 1966–2010: Game structure, speed and play patterns. Journal of Science and Medicine in Sport, v. 17, n. 2, p. 223–228, 2014.

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Vitor Hugo Sarvas

Analista de desempenho esportivo querendo ajudar o mundo a entender o que é isso.