Agilidade centrada em pessoas
Recentemente eu mudei de time no meu projeto, em virtude de um integrante ter saído da empresa e com ele muitos conhecimentos se foram. Ele tinha, por exemplo, realizado uma prova de conceito, experimentando como implementar uma nova funcionalidade. Ele testou, provou que era possível, aprendeu como fazer e agora eu deveria fazer a implementação real oficial. O detalhe é que ele aprendeu a fazer, não eu, que nem lá tava.
E agora eu tinha que detalhar as tarefas dessa nova funcionalidade, descrevendo o que seria feito. Sem perceber comecei a procrastinar essa atividade, no fundo porque eu não fazia a menor ideia do que responder. Até que o analista de negócios da equipe sugeriu que criássemos uma tarefa de pesquisa. Essa simples ação de deixar explicita a tarefa de aprender, mudou completamente minha atitude em relação ao problema! Finalmente eu senti que tinha o direito de não ter aquela resposta e de dedicar o tempo necessário a obtê-la e estava empolgada pra fazer isso!
Isso me fez pensar em outras tantas situações que o trabalho nos causa ansiedades, que nos paralisam, angustiam e como práticas ágeis podem ser "terapêuticas" e minimizar tais sentimentos. O que acaba por nos tornar mais produtivos e ainda mais importante: pode tornar nossa relação com o trabalho mais leve e saudável.
Quem nunca ficou preocupado com a reunião diária, por não ter uma boa notícia pra dar, e desejou que a internet caísse pra não ter que falar que ainda não terminou? Aqui a prática ágil está sendo a causa da ansiedade. É como um remédio mal administrado comprometendo o paciente (sim, estou aludindo à falácia do tratamento precoce para COVID). Se nos importarmos com isso e tivermos reações que tranquilizem e apoiem as pessoas quando elas não tiverem boas notícias, podemos criar nesse momento um ambiente seguro, que normalize o fato que o nosso compromisso é com tentar, não com acertar sempre. E vamos combinar que se forem aqueles dias repletos de reuniões, não há compromisso nem com tentar.
Eu vejo com estranheza, como na prática, os esforços das organizações em relação a agilidade são balizados pela análise e otimização de processos. Afinal, lembram qual é a primeira premissa do ágil? Pessoas e interações mais que processos e ferramentas. E se nossas métricas não forem centradas na velocidade de entrega das tarefas e sim na tranquilidade e motivação das pessoas, e se as melhorias do processo vierem como consequência da otimização desses valores fundamentais? Processos ajudam (ou atrapalham), mas eles vêm de pessoas, né? Nós não somos o centro do universo, mas das organizações somos. O foco da agilidade somos nós.