Personagens da LBF — A Aguerrida Melisa Gretter

WNBA Cast Brasil
4 min readApr 17, 2018
Foto: LBF

A série personagens da LBF irá falar sobre a carreira e a forma de pensar de algumas das protagonistas da elite do basquetebol brasileiro feminino. O primeiro texto dessa série foi com a Gil Justino, pivô do Uninassau Basquete, e pode ser lida nesse link.

No fim de semana que aconteceu o jogo das estrelas da LBF, Melisa Gretter era só sorrisos em quadra. No sábado, dia do treino que antecipava o evento do dia seguinte, a armadora riu, brincou, treinou duro e ainda teve energia para uma competição de arremessos do meio da quadra, onde pôde desfilar sua habilidade em lances como o arremesso abaixo:

Não é a toa que a armadora foi a MVP do desafio. Meli entende melhor do que ninguém a importância e grandeza desse evento para o basquete feminino brasileiro e argentino. Sendo a atual campeã das duas ligas (conquistou o troféu brasileiro em 2017 por Americana e foi campeã argentina pelo Unión Florida, onde também se sagrou MVP das finais), esta sofre na pele os problemas estruturais da modalidade na América do Sul. “Esse evento por si só já é muito diferente do que acontece no meu país. O basquete feminino não era profissional na Argentina. Agora está mudando, mas até então as jogadoras precisavam sair do país para ter uma carreira na modalidade”.

A “La Liga”, espelho da LBF no país vizinho, teve sua primeira edição em 2017, movimento semelhante ao passado no Brasil em 2010. As glórias da geração dourada masculina de Manu Ginobili e Luis Scola pouco ajudaram a sua contraparte feminina a crescer. Mas isso não impediu atletas aguerridas como Melisa a se destacarem na modalidade.

Natural de Rafaela, Meli descobriu o basquete na escola onde estudava. Se apaixonou pela modalidade que os irmãos jogavam e, na falta de um time feminino, jogou quatro anos ao lado dos irmãos pelo colégio. Eventualmente fez a transferência para uma equipe feminina e logo estava em Buenos Aires, onde fez sua primeira passagem pelo Union Florida. Ali começou uma carreira coroada de muitos títulos, tendo ganhado seu primeiro título nacional pelo clube.

Mas como bem disse a armadora, o esporte não era profissional na Argentina, e assim começou sua carreira internacional. Melisa foi jogar na liga espanhola feminina ao lado de sua companheira de seleção, Gisela Vega. Gretter passou dois anos jogando meia temporada na Espanha e a outra metade na Argentina, onde seguiu ganhando títulos e construindo seu nome, sendo exaltada pela sua principal qualidade: a defesa. Meli é considerada “um carrapato”, marcando muito bem as armadoras adversárias. Ao ser perguntada sobre o segredo de ser um bom defensor, esta não hesitou na resposta: “Atitude. A garra que um defensor tem que ter pra poder defender um adversário. Não tem fórmula técnica. É coração”.

Em 2015, teve a oportunidade de jogar no Brasil, onde foi mais uma vez multicampeã nacional e sul-americana. “Eu sou muito feliz aqui. Recebo muito carinho das pessoas” confessou a armadora, que já teve a oportunidade de voltar pra Espanha mas preferiu atuar em solos brasileiros e argentinos. Seu próximo objetivo na carreira é um pouco mais ousado: se destacar na seleção nacional.

Melisa jogou a Americup pela seleção argentina, junto com outras seis das doze atletas que vieram para o jogo das estrelas. Gretter foi eleita a melhor armadora da competição, levou a Argentina ao vice-campeonato e garantiu sua vaga no mundial de 2018, que será realizado na Bélgica. O retrospecto do país no torneio não é nada bom; a melhor posição em sua história foi um sexto lugar em 1953, 65 (!!!) anos atrás. Mas o maior sonho da armadora, como não poderia deixar de ser para um basquetebolista argentino, está em outro torneio: os jogos olímpicos. “Meu sonho é levar a Argentina a um jogo olímpico. É meu maior objetivo hoje”.

Foto: LBF

Meli Gretter é extremamente aguerrida fora de quadra e tem os pés no chão fora dela. Pra ela, assim como para defender, não existe fórmula mágica para o crescimento do basquete feminino. “Os patrocinadores precisam confiar mais no esporte feminino. O campeonato masculino dura mais tempo, tem mais dinheiro. Eles precisam entender que as meninas fazem os mesmos sacrifícios do masculino. Eles precisam confiar pra liga crescer cada vez mais”.

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