
A bela fera
Sinto corpos no chão, vejo um vulto
é escuro e úmido aqui
o cheiro de sangue infesta tudo
é jaula pra quem nunca ousou sorrir
Olhos profundos se destacam no escuro
o ar é pesado, difícil respirar
a lei que vale é a de Epicuro
é apertado como o coração de quem parou de amar
Posso sentir a respiração ofegante
hálito de mil amores perdidos
o Medo me impede de ir adiante
a voz fala sempre em desejos prometidos
é mais forte que eu, mais rápido que eu
é maior que o paraíso que Jesus prometeu
Eu vim do acaso e da tristeza
Você do prazer e da certeza
Rói as garras por estar preso
roeria almas se não carregasse tanto peso
as correntes estão ficando leves
e eu me tornado mais breve
Se alimenta de dor e sofrimento
não posso combatê-lo, sou sua negação
minha impotência é meu tormento
sou limite do Sim e de toda afirmação
Tem aparência humana, mas longe de sê-lo
a voz é doce como seu lábios
toque suave, aprisiona e mata quem pensa tê-lo
engana até o maior dos sábios
Razão? corpo? isso não cabe aqui!
nunca soube lidar, sempre fugi
é união dialética de potência e ato
sempre achei que a fuga material fosse sorte
Aparência de Vida, com gosto de Morte
preso em si mesmo, é todo Ego
parece fraco mas é sempre mais forte
Sente uma fome insaciável, seu ódio é cego
O que a muito aconteceu
logo será presente denovo
pois a razão me corrompeu
e deixei de lado meu engodo
Um dia todos saberão
confessarei todos nossos pecados
quando amor e ódio não existirem alienados
pra que a história não tenha sido em vão.
Juntos, Seremos.