A NOVA MODA

DoPlural
8 min readJun 21, 2016

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Série “How do I Feel Today”, da modelo Nathalie Edenburg, que iniciou a carreira no SPFW.

Novos tempos, novas vontades, novas gerações, novos gêneros, novas tecnologias, e como não poderia deixar de ser, a nova Moda.

Até porque, dessa vez, na minha opinião, ela não veio na frente, mas esperta que é, já está.

Com a passagem desse último SPFW, chamado agora de 41 e não mais pelas estações do ano, consegui, graças a internet e ao tempo livre em casa, (não por vontade própria) acompanhar quase que ao vivo, mas online… confuso, né!? Mas sim, acompanhei quase todos os desfiles e as movimentações do evento. Hoje praticamente todas as marcas (e alguns veículos como a Elle) transmitem seus backstages pelo Periscope, pelo Snapchat e mais recentemente pelos lives via Facebook, com isso você assiste a entrevistas com os estilistas, os stylings, a maquiagem, vê os modelos, entende as coleções que vai ver em instantes na passarela, e para quem gosta, super recomendo! Mas claro, que podendo estar lá, ao vivo de verdade é sempre melhor, mas nem sempre nem para todos é possível, então aproveitem o que a vida virtual oferece de bom.

Voltando a falar do que vi e como vi, que foi isso que motivou a escrever esse texto, esse SPFW em particular, veio para determinar e marcar a mudança na moda como estávamos acostumados até agora. Com certeza já leram sobre isso em muitos lugares, de todas essas mudanças, até mesmo a morte da moda (como conhecemos hoje/ontem) já foi decretada pela Li Edelkoort.

Moschino — Inverno 2017, um belo walking dead fashion

O que me deixou um pouco impactado foi ver a rapidez da chegada aqui. Do engajamento, todos falavam sobre algum tópico dos novos caminhos, seja sobre gênero, sobre sustentabilidade, como sobre o ritmo acelerado provocoado pela avalanche de tranformações originada na chegada das redes sociais. Sobre as direções diversas que poderiam tomar para tentar melhorar, se atualizar e avançar. Da diversidade, muitos modelos, visitantes e artistas diversos e misturados. Da experiência, algumas marcas oferecendo desfiles em formatos inovadores, gerando experiências e interagindo com seu público alvo.

“Vivemos um período de intensas transformações. Somos todos protagonistas de um novo ciclo que se inicia. Mais do que nunca temos a oportunidade de potencializar e compartilhar verdades, essências, experiências,” afirma Paulo Borges, diretor criativo do SPFW.

Paulo ainda explica que a edição de novembro será de transição já prevendo 2017, onde as temporadas mudam pra fim de fevereiro e para a semana de julho a agosto, desfilando respectivamente, outono-inverno e primavera-verão, que não levarão nomes e sim números como startou esta última.

Usei o evento como introdução, mas sabemos que as transformações de comportamentos, economias e consecutivamente do consumidor (que fez com que o ciclo passasse a começar por ele e não pelo produto), já estavam visíveis e acontecendo. Lá fora com um pouco mais de força, mais antecipadamente, mas ao mesmo tempo se espalhando com muita rapidez pelo mundo. O maior sinal disso, é ver já na semana de moda brasileira vários aspectos dessas mudanças, ou seja, evidencia como os movimentos são refletidos e globalizados de forma muito mais acelerada hoje.

Os temas são bem controversos, amplos, e isso gera diversas opiniões, o que é mais do que válido sempre.

Usando então a semana de moda como gancho, até porque nada me apresenta os sinais emergentes tão rápido quanto ela (a moda), principalmente quando falamos sobre novos comportamentos, movimentos sociais e o que de novo ou atual está acontecendo nas ruas. Como reflexo de uma sociedade contemporânea, a moda tem o poder de viralizar mensagens

>>Sobre consumo consciente

Mesmo achando que esse assunto, sendo tratado como novidade, não deveria ser visto como tal, (já que se espera que as marcas e o consumidor sempre estejam atentos com o que vende e com o que consome respectivamente), o momento da conscientização é agora! Nunca se falou tanto, nunca se preocupou tanto com as procedências e possíveis prejuízos que esse consumismo desenfreado vem causando ao nosso Planeta, e não só no sentido da natureza, mas também das pessoas envolvidas no processo.

Termos como Slow Fashion vem para reforçar e indicar esses novos caminhos, esses aprendizados. O termo criado pela inglesa Kate Fletcher, consultora e professora de design do Centro Britânico para Moda Sustentável, foi inspirado no movimento Slow Food, ou seja, ambos tem o mesmo conceito, o consumo consciente.

Como termo mais atual e seguindo o mesmo conceito, surge o Lowsumerism, que nomeia o estudo sobre o desejo contemporâneo de quebrar o ciclo vicioso do consumismo, ser mais consciente e consumir menos, como definem seus criadores, a Box1824, agência de pesquisa de tendências em consumo, comportamento e inovação. Veja o vídeo >>>

Em 2012 (sim, 4 anos atrás, mas continua super atual), o documento chamado O Estado do Mundo publicado pelos institutos WWI e Akatu já alertava e apontava para o fato de que 76% de todo o consumo mundial vem de apenas 16% da população. Entende-se, uma minoria mais rica é responsável pela maior pressão exercida sobre os recursos naturais. Com a expansão da classe média e a retirada de pessoas da pobreza — que é um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e uma grande discussão quando se fala em economia verde — aumentar a demanda colocaria em risco a sobrevivência não do planeta, mas da humanidade.

Por isso a urgência para procurar e encontrar um novo modelo econômico valorizando o consumo inteligente, tanto na hora da compra, focando no necessário como também no consciente com o impacto ambiental que pode gerar. O bem estar prevalecendo sobre o consumo.

Li e indico essa matéria da Folha de São Paulo, publicada no final de maio deste ano e que trata diretamente sobre o assunto, e o melhor, trazendo os highlights do Copenhagen Fashion Summit.

>>>Clique para ver o vídeo manifesto da Vice<<<

>>O see now buy now

Com o movimento see now buy now as pessoas conseguem atender aos seus anseios incontroláveis de ter na hora uma roupa que acabou de ver na passarela, mas será isso bom, será mesmo que a moda precisa se adequar a esse ponto? Eu acho que deve ser uma mudança cautelosa e bem estudada, pois impacta diretamente também na parte do amadurecimento das ideias dos estilistas e consecutivamente na criação, já que reduz drasticamente o espaço de tempo entre a passarela e o varejo.

E já temos grandes marcas como a Burberry, por exemplo, que anunciou que vai desfilar masculino + feminino juntos no prêt-à-porter feminino em setembro. Ao mesmo tempo, Stella McCartney faz sua estreia na moda masculina para ajudar a incrementar as vendas de sua marca. Outras, conhecidas como os grandes ícones de tradição, luxo e excelência em suas roupas, Chanel, Saint Laurent, Dior e Hermés seguem liderando a resistência ao novo sistema.

Kate Moss por Mario Testino no mood acelerado.

O mais importante na minha opinião, é que tudo deve ser bem entendido, bem mastigado e bem digerido, para os próximos passos, porque só ver que os sinais emergentes estão apontando para uma direção sem entender certinho o caminho que deverá se tomar pode ser um tiro no pé. E aqui pergunto de novo, será mesmo que existe essa necessidade de um novo caminho, ou será que após o estudo a fundo desses novos tempos de consumo, seria mais uma adequação aos novos anseios do consumidor, até mostrando para ele que, talvez, esse imediatismo possa não ser assim tão legal.

Alguns contra e alguns a favor desse novo sistema.

Se formos analisar pelos olhos da indústria, pode ser um pouco prejudicial devido ao curto tempo para produção em escala comercial ao mesmo tempo que prontas para um desfile. O embate se dá no momento em que a moda sempre se coloca, até naturalmente, à frente dos movimentos, ou no mínimo lado a lado, mas dessa vez ela está precisando se adequar ao “espírito dos novos tempos”, até digamos, pega um pouco de surpresa, e ainda assim, sem adesão.

Também é polêmico porque tem vários prós e contras, e visto de um certo ângulo, mais old school até, acaba sendo mais para uma satisfação pessoal do que realmente uma necessidade. Porque pelo ponto de vista do tempo levado entre as semanas de moda e as peças realmente nas lojas, (considerando também as mais elaboradas que podem ser encomendadas), o desejo causado, e potencializado com o intervalo pode ser mais instigante, mas ao mesmo tempo entendo a rapidez e agilidade.

Os argumentos não param de aparecer, mas nem sempre contraditórios, é uma questão de adequação, de olhar diferente, mas antes de tudo é preciso ter este entendimento prévio por parte da indústria e nossa, os consumidores, de como tangibilizar levando em conta todos os pontos, até pra ser bem recente falando do consumo consciente, de como cruza com o see now buy now e o que pode trazer de melhor.

Photo illustration: BoF

Ao mesmo tempo que esse desejo imediatista não cruza em nenhuma esfera com a parte da consciência na hora de consumir, ele pode colaborar na hora de repensar na necessidade deste consumo e se for necessário, readequá-lo.

Voltando na semana de moda paulista, já tivemos algumas marcas antenadas e que já trabalharam seus desfiles nesse novo formato, como tivemos a Riachuelo apresentando sua coleção com assinatura Karl Lagerfeld, a Ellus Second Floor e a La Garçonne, que por sinal foi incrível como (re)estréia do Alexandre Herchovitch agora junto com seu marido Fábio de Souza.

Não vou me alongar muito na parte mais polêmica, onde entram as discussões mais acaloradas com os grandes estilistas mundiais, a alta costura, porque minha intenção aqui é (tentar) esclarecer um pouco todas essas transformações. Além do que, hoje já existem ótimos artigos e textos bem esclarecedores e de gente super fera, então deixo abaixo alguns links, que valem a leitura, principalmente para ajudar vocês também a ter uma visão mais ampla e poderem assim se achar. Espero ter ajudado :-)

::- Aqui, em português, sobre o manifesto Anti-Fashion da incrível Li Edelkoort, onde ela já previa (por isso o incrível na frase acima) várias dessas mudanças.

::- Miuccia Prada e o see now buy now, falando aqui.

::- Ótima essa matéria do portal FFW.

::- Entrevista com a Chiara Gadaleta, uma das pioneiras no setor de consumo consciente, no Petiscos.

::- ECOERA, plataforma multidisciplinar de disseminação das práticas sustentáveis nos mercados de MODA e BELEZA.

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Publicitário, curioso, apaixonado por moda e comportamento