OS DESFILES DE MODA SE TRANSFORMANDO EM EXPERIÊNCIAS

DoPlural
9 min readMar 29, 2016

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Gareth Pugh >> Verão 2011 >> por SHOWstudio.com

A moda sempre foi e continua (e acredito eu, que continuará) sendo o epicentro não só de estilos, mas também de novos movimentos e comportamentos, sejam vindos eles das ruas, da música ou da arte. Ela funciona como um grande catalisador que ao absorver os sinais emergentes, alguns mais evidentes e outros nem tanto, usa isso para poder/tentar traduzir através de infinitas possibilidades, que hoje, não apenas nos desfiles, as tendências para as próximas estações.

Depois do grande boom da revitalização de algumas das maiores e mais tradicionais labels internacionais, com as contratações de estilistas mais vanguardistas, mais modernos e antenados com o que posso chamar, o espírito do nosso tempo. Agora, as marcas buscam, como falo no parágrafo acima, dentro da coleta dos novos sinais de comportamentos, se adequar mais uma vez as mais conscientes formas de consumo, além de começarem cada vez mais, explorar novos conceitos e formas de apresentarem suas criações.

Com o consumidor cada vez mais empoderado, mais responsável, mais informado e mais ciente de que com esse empoderamento ele aumenta significativamente seu poder de escolha, as marcas precisam entender e se adequar a isso. Então, hoje, ele sabe que as marcas precisam se adaptar a ele e não ao contrário, e quando essa adaptação não acontece com uma, por mais identificação que ele tenha, ele sabe que terá livre poder para escolher outras que estejam mais linkadas com o que ele pensa e quer (e vive).

Atrelada a essa liberdade, as marcas mais bacanas, já um passo à frente, sabem que com a diversidade e a concorrência cada vez mais acirrada, mais criativa, nos novos tempos (nem mais tão novos assim)de conexões múltiplas, de informações instantâneas para todos, a experiência também precisa ser diversificada e o mais importante do que isso, ser vivenciada.

Lembro como me chamou a atenção quando soube, em 2010, que o Gareth Pugh substituiria seu desfile de verão “tradicional” por uma apresentação em vídeo, a essa altura ele já era considerado um dos principais nomes na cena da moda londrina. A “experiência” ali já se fazia presente, e quando falo experiência, é pelo novo, é algo disruptivo, que te faz pensar, refletir, questionar, e traz um novo olhar, uma nova roupagem:

“Acho que um filme de moda não deve ser visto como um meio secundário aos desfiles ao vivo, mas como uma alternativa moderna”. Disse Pugh na época.

Gareth como bom visionário que é, aproveitou o material para também sinalizar sua vontade de valorizar os fashion films, ainda sem grande atenção, mas já espertamente se aproveitando do surgimento de novos dispositivos como tablets e smartphones. Junta-se a isso o fotógrafo Nick Knight, seu ShowStudio, a top Kristen McMenamy e pronto! Temos uma representatividade de nomes fortes e que chamam atenção do público. É dessa forma que podemos observar o surgimento de movimentos emergentes, já que nomes como esses, dentro do que chamamos “cadeia de influência”, estão no topo da pirâmide da escala de uma tendência, são os que antecipam o novo e tem esse poder de criação, o que quase sempre apresentaria novas direções logo logo.

>>> Clique aqui para ver o desfile <<<

Temos polêmica, temos perguntas, mas aqui não trato do que é melhor e mais apropriado, e sim sobre a validação do novo como forma de se questionar.

Mesmo sabendo que vários desfiles já traziam um pouco dessa experiência, como alguns do Alexander McQueen, que por mais que estivesse dentro do formato mais tradicional (platéia sentada, passarela e modelos) ainda impacta de forma surpreendente.

Continuando a falar sobre as experiências, também incluo aí as roupas e a forma como são apresentadas. Quem esquece do seu desfile com as modelos tendo seus vestidos sendo “grafitados” ali na hora, por robôs?

A modelo Shalom Harlow “contracenando” com robôs no fim do desfile da coleção primavera/verão de 1999 de McQueen [Foto: Catwalking]

Outra que também surfou na onda de oferecer experiências aliadas aos seus desfiles foi a TopShop, que usou a realidade virtual para transmitir o seu desfile Outono/Inverno 2014, logo em seguida disponibilizando o mesmo em suas redes, além de fotos dos bastidores no twitter e a trilha sonora no iTunes, já prevendo o que viria em seguida, a geração do “eu quero o que eu quero quando eu quero.”

“O desfile da Topshop Unique irá fortalecer o que já é intenso; não apenas em termos de coleção, mas também na maneira de compartilhar informações com nossos clientes em casa e em nossas lojas, dando a eles um diferencial em relação ao desfile presencial. Essa transmissão ao vivo entre duas localidades icônicas de Londres, o Tate Modern e nossa flagship store em Oxford Circus, leva a ideia do desfile tradicional a uma nova dimensão, ao mesmo tempo em que estamos continuamente buscando novas formas de engajar, empolgar e envolver nossos clientes.” Sir Philip Green, Proprietário do Grupo Arcadia.

Como acontece quase sempre com movimentos emergentes, eles começam em um nicho específico (Londres sempre foi um dos maiores hotspots neste sentido), daí isso vai chamando a atenção de um público cada vez maior, passando ainda por alguns públicos e influenciadores até fazer parte do que conhecemos como mainstream.

Já tivemos Tommy Hilfiger que assim como a TopShop, disponibilizou para clientes e parceiros uma experiência imersiva através de realidade virtual, o seu Outono 2015, onde usando um dispositivo, os clientes tiveram a impressão de estar na primeira fila do Park Avenue Armory, em Manhattan, no exato instante do evento, quando a Coleção Hilfiger foi originalmente apresentada.

“Através de realidade virtual, agora somos capazes de oferecer o nosso exclusivo desfile de moda ao ambiente de varejo”, disse Hilfiger. “Desde o cenário e a música incríveis até as situações de bastidores, os consumidores vão poder assistir às trocas de roupa e ver a coleção no local original do evento. Trata-se de uma elevação atraente e interessante da experiência tradicional de compra.”

Ou seja, a experiência em si acaba sendo até mais interessante do que estar realmente na primeira fila, visto que você consegue ver todo o burburinho dos bastidores também.

Consumidores experimentando o desfile de Hilfiger atrávés da realidade virtual em sua loja da 5ª Avenida, em Nova York.

Como mais atual, que tenho observado e acredito ter aí uma nova forma de transformar mais uma vez a maneira de se ver e sentir os desfiles de moda, já inclusive super adequada aos novos tempos e as gerações, como por exemplo a tão falada geração dos Millennials, que como comprovam algumas pesquisas, é a geração que valoriza mais a experiência do que o consumo em si.

Quando uma marca pensa em proporcionar uma experiência exclusiva, inovadora, ela deve pensar, logicamente, no consumo, mas nem sempre esse deve ser o foco principal, pois trazendo uma ativação inovadora e sendo reconhecida por isso, o movimento do consumo acaba vindo de forma natural. Quem não quer ter uma peça de uma marca reconhecida por proporcionar experiências bacanas ao seu público?

Uma marca ligada aos movimentos urbanos, como a Adidas Originals, que em parceria com a White Mountaineering fez um desfile simplesmente incrível, que aconteceu em Florença durante a Pitti Uomo 2016/17, a maior e mais importante feira de moda masculina do mundo.

Só dar o play no vídeo abaixo para comprovar o que acabei de escrever.

No desfile de Inverno 2016/17 dentro da semana de moda de Nova York, Diane von Furstenberg apresentou seu desfile super alinhado ao pacote “desfile + experiência” e ainda reforçou isso para falar de um tema sempre importante, o poder feminino, a liberdade das mulheres e seu empoderamento.

“Resolvi trazer meus convidados para dentro de casa”, disse Diane.

Diane é a estilista famosa por trás da criação do vestido envelope, um ícone de liberdade feminina, além da elegância. Sempre engajada com os movimentos em prol da liberdade feminina, ela traduziu mais uma vez dentro desta coleção (chamada de Love Power) peças reais e que possibilitam que a mulher se expresse como quiser.

Durante a apresentação inusitada, as modelos entravam e saiam por portas vestindo peças um pouco mais casuais como macacões e vestidos. Em outro ambiente, algo como um escritório descolado, elas circulavam e simulavam que estavam trabalhando, com papéis nas mãos, uma chamando a outra, e nessa parte o que se via eram looks como ternos de alfaiataria, roupas em couro e os famosos wrap-dresses. Como ambiente final, as modelos agiam como em um chill in, se divertindo, dançando e animando a pré festa, com vestidos de noite estampados, bordados e com aplicações de paetês. Aqui tem mais um ponto pra Diane, sabendo que a presença dessa nova leva das insta models (as modelos que fazem do instagram um verdadeiro hall of fame e concentram milhões de seguidores) é mídia espontânea na certa, espertamente juntou a turma mais poderosa nesse campo, como Gigi Hadid, Kendal Jenner, Karlie Kloss e Lily Aldridge, ooooou seja, milhares de fotos do desfile espalhadas pelo Mundo praticamente ao mesmo tempo em que acontecia.

>>> Clique aqui para ver o desfile <<<

Diane e suas Power Girls logo após a apresentação na semana de Nova York. [foto: vogue.com]

Ainda neste cenário mais atual, de oferecer não somente um desfile tradicional, mas sim uma experiência, tivemos Stella McCartney que apresentou sua coleção Pré-fall 2016 na icônica loja de discos, isso mesmo, em uma loja de discos, a Amoeba, (a maior loja de discos independentes do mundo) que fica no coração de Hollywood.

Lógico que lá tivemos a já de costume horda de celebridades e amigos de Stella, mas também havia consumidores da marca, formadores de opinião, blogueiros especializados. Tudo isso junto e misturado, os convidados circulavam não só entre os discos, mas também entre as modelos, que ao invés de atravessar uma passarela com a cara fechada, estavam ali, sorridentes e interativas, fazendo com que os presentes vivenciassem mais essa forma de ver e sentir as peças de (bem) perto, tudo num clima “informal”, mesmo que um pouco forçado, mas o que vale nesse momento é a intenção.

Cenário pronto! Smart girl! [foto: vogue.com]

Além do “desfile”, para fechar o evento, a surpresa foi um pocket-show de Johnny Depp com Marilyn Manson, e também uma palinha de Brian Wilson, que para alegria da platéia cantou hits dos Beach Boys. Além de tudo isso, a estilista ainda aproveitou para relembrar a trajetória de David Bowie, assinando o mural de homenagens ao artista no interior da loja. Ou seja, temos aqui o pacote completo, é impossível sair de uma experiência como essa sem, no mínimo, muita vontade de compartilhar, seja nas suas redes sociais virtuais e as presenciais também, pois rendem um ótimo papo.

>>> Clique aqui para ver o desfile <<<

Como a tendência quase sempre é uma direção e não uma resposta, vejo que temos aí uma sinalização de que a direção está mudando novamente, e é o que eu mais gosto quando o assunto é vislumbrar um novo cenário, você sentir que os sinais estão começando a apontar novos horizontes. O que provoca na gente aquela inquietação de como será. Como esse movimento infuenciará outras marcas, outras pessoas? Quem mais vai apostar? Como farão surgir novos padrões? Ficam aqui as perguntas, mas tenho certeza que as respostas aparecerão em breve.

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Publicitário, curioso, apaixonado por moda e comportamento