“Os empregos não desaparecerão, mas sim eles serão reinventados”

Entrevista com Gabriel Pinto, autor do livro “Passaporte para o Futuro”, especialista do tema Futuro do Trabalho.

Xavier Leclerc
3 min readJun 16, 2020

Aproveitamos a publicação do livro “Passaporte para o Futuro” para abordar algumas das maiores dúvidas atuais sobre a evolução acelerada do mercado do trabalho ligada à transformação tecnológica do mundo. O Gabriel Pinto palestrará na quarta edição do .Futuro I Rio, conferência B2B sobre tecnologia.

  1. Quais são as expectativas e qual será a realidade com relação à automação do trabalho ?

As novas tecnologias vinham ocupando pouco a pouco o mercado brasileiro, em uma velocidade menor do que o observado no resto do mundo. Muitas lideranças não dedicavam tanta atenção no investimento e na aplicação da inteligência artificial, da utilização do Big Data ou da Internet das Coisas, tecnologias que estão no topo das prioridades das empresas globais. No caso brasileiro, muitas empresas foram surpreendidas com nenhuma ou pouca presença digital. Acontece que a crise da pandemia acelerou o processo de digitalização global e podemos esperar o aumento da automação de muitas atividades que ainda hoje são executadas por profissionais e os efeitos serão nocivos. Ressalto que 60% dos profissionais tem um risco elevado de ser substituído por algum tipo de automação.

As oito tecnologias essenciais (pesquisa PWC)

Para as empresas, o desafio é realizar a transformação digital de forma que potencialize o maior ativo que elas têm ao invés de substituí-los. O resultado para a empresa será melhor caso ela opte por desconstruir empregos em seus elementos-chave e não pensar em termos de substituição de empregos inteiros. Esses elementos revelarão a otimização dos caminhos, muitas vezes escondidos quando o trabalho está apenas preso em uma descrição de cargos. Isso significa que os empregos não desaparecerão, mas sim que eles serão reinventados, tendo em vista que a atividade agregada ao trabalho é novamente congelada ainda que, de fato, ele seja continuamente desconstruída e reconstruída pelos desafios reais diários dos profissionais.

2. Como os “profissionais do trabalho “ (RH , recrutamento, etc. ) devem se transformar ?

Nesse processo de desconstrução e reconstrução do trabalho, os profissionais ganham atividades novas e mais complexas. Os especialistas em trabalho e recursos humanos terão como desafio qualificar os profissionais ou encontrar essas habilidades dentro da empresa ou no mercado. Primeiro, eles vão ter que identificar as habilidades adequadas para executar as novas atividades. Remodelar as equipes será o fator crítico para o sucesso da transformação digitale. Os especialistas em trabalho tem, sob esse aspecto, um grande desafio. Por isso a demanda por especialização dos profissionais de recursos humanos será maior daqui para frente e também criará muitas oportunidades.

Pesquisa Deloitte sobre Futuro do Trabalho depois do COVID-19

3. Como educação e capacitação podem evoluir para se adaptar ao mundo digital e volátil do futuro ?

O modelo de educação da forma que conhecíamos acredito ter ficado para trás com pandemia. Se antes aquela educação já tinha dificuldades de acompanhar o compasso das transformações, agora a distância ficou ainda maior. Para se ter uma ideia, existem várias profissões que não são nem reconhecidas pelo Ministério do Trabalho. Transformar-se em currículo e em educação formal então, leva um tempo ainda maior. E tempo é algo que as pessoas não podem investir tanto porque corre risco do conteúdo ficar velho. O grande desafio para os profissionais será lidar com a autonomia, com mais independência e com mais risco, uma vez que ele será quem escolherá as habilidades a desenvolver em uma trilha de aprendizado que dever durar por toda a vida.

Hoje, eu sinto que as pessoas estão perdidas na escolha do seu desenvolvimento. Olhando para trás, para casos que deram certo em ambientes específicos e tentando aprender alguma coisa. Sem ter clareza no que vem pela frente, no que será preciso para “performar” bem. As pessoas falam muito de autoconhecimento, mas ainda é muito vago. Mais do que nunca, os profissionais precisarão de guias. Faróis que iluminem seus caminhos com informação qualificada e curadoria do conhecimento a ser adquirido.

Obrigado Gabriel por suas respostas.

Xavier Leclerc, curador do .Futuro I Rio

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Xavier Leclerc
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Written by Xavier Leclerc

French Carioca entrepreneur. Curator of the .Futuro B2B conferences about technology: www.futuro-rio.com

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