Uma vida criativa é uma vida potente

E que vale a pena ser vivida

Yasmin Miranda
3 min readOct 5, 2023

Vasculhei registros de quem eu era. Me descobri artista.

Na terapia, falo tanto sobre quanto a escrita me potencializa, que faz parte de mim.

Revisitando cadernos antigos, documentos perdidos, percebi que a escrita já me tinha e eu a ela há muito tempo. Desde que me lembro, escrevo.

Mas não somente isso.

Desde que me lembro (e os arquivos no computador, os prêmios escolares, as impressões da faculdade atestam), eu faço arte.

A escrita é uma via de poder, de trazer as coisas à tona, ainda que nem sempre eu queira.

Mas o ponto é que ao me conectar com esses vasculhos, esses pedaços de mim e me perceber artista, me fez sentir que a vida vale muito a pena só pela possibilidade de criar. De dar alma à vida. Dar vida à alma. Fazer poesia com o caos.

Li alguma vez que a missão mor da vida é a autocura. E olha, espero sinceramente que seja, pois se não for, lascou, nada mais faria sentido. Esse caos todo, as ambivalências, os conflitos, desafios, desandares…se tudo for pra me trazer de volta à vida, a minha vida vale a pena.

Andei refletindo sobre o que escrevo bastante por aqui, o propósito da vida ser elevar, voltar a si mesma. O que isso significa?

Bem, esses pedaços de memórias, alguns concretos, alguns registros, alguns documentados e outros apenas perdidos na mente, me lembram que eu existo. Quando me conecto a eles, lembro que também não existo sozinha, mas com um monte de mim e um tanto do outro. Ana Suy, psicanalista, escritora, autora de “A gente mira no amor e acerta na solidão” e “Não pise no meu vazio: ou o livro do vazio”, diz que:

“o eu é um emaranhado do outro”.

Sei que sou várias, várias eu fui e ainda serei, mas nunca sozinha.

Quando vejo o que crio, vejo o que sou capaz de fazer, na maioria das vezes em meio a caos. Mas não somente em meio, eu transformo o caos em vida e poesia, pra tentar trazer algum sentido, desvendar um inconsciente que não sei ainda. Quando eu olho pra trás, consigo me entender pela minha criação. Talvez por isso a liberdade tem sido um valor (difícil e) super importante pra mim. Me permitir criar, é me permitir ser livre. Pois me conecta com minh’alma, c’alma.

Adoro brincar com as palavras, e nelas me perco, me encontro, me refaço e me reparto. Como diria Emicida, “viver é partir, voltar e repartir”. Eu amo as palavras insubstituíveis e as substituíveis que me fazem trazer novos sentidos pra mesma coisa. Que formam imagens, cenários, e nessa imersão de letras, gero sentimentos, conto histórias, narrativas.

Pela escrita, me sinto viva e capaz de viver.

Pelas palavras insubstituíveis, dou apreço a vida, que é insubstituível também.

Daí me percebo potente.

Potência dá medo. Não sei exatamente por que.

Mas criar me dá vida, pois no ato da criação, também me crio e vivo.

Obrigada Yasmin, por ser artista desde pequena. Por poder contar, algum dia, em alguma entrevista, que “já escrevia desde pequeninha” e não ser só clichê, mas realidade.

Por isso, meu convite é olhar pro que você foi capaz de criar. Seja na arte ou na matemática (que também pode ser uma forma de arte — que eu quero deixar bem claro não dominar). Você foi capaz de criar porque também vive. É como a lei hermética da correspondência:

“O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima”.

Só criamos pois somos criação de um criador. E porque fomos criados pra viver. Ainda que não saibamos direito como.

Uma vida criativa é uma via potente de ser quem se é.

Encerro essa poesia com a grande Nise da Silveira:

“Todo mundo deve inventar alguma coisa, a criatividade reúne em si várias funções psicológicas importantes para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente é o estímulo à criatividade. Ela é indestrutível. A criatividade está em toda parte”.

A arte cura.

Coragem.

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Yasmin Miranda

Alma de artista, espírito de escritora. Graduada em jornalismo. Comunicóloga e designer. Email: escritorayasminmiranda@gmail.com .