Gênesis urbano
escrito em novembro de 2024.
Não me inspiro, escrevo por inveja
dos profetas da abiogêse
que fazem sugir da carne morta
vermes tão vivos.
Jovens ajoelhados na igreja
em penitência pelo seu Gênesis:
nascer da costela torta
de mulheres de areia.
Versos tão pontudos e afiados
quanto o brilho redondo do sol,
no breu das noites escuras
é quando sinto mais calor.
Meus retângulos e quadrados
tentam desaprender a rolar,
minhas raízes já tão maduras
têm medo de brotar.
Na solidão das multidões
anseio pela exclusividade,
pois casarei com o espelho
menos quebrado que me refletir.
Procurando velhas canções
para minhas tristezas da mocidade,
tenho o coração velho
e o cérebro recém nascido
cheio de curiosidade
e de vontade de abocanhar o mundo.
Poemas como estações de trem,
livros como o trânsito de São Paulo.
Andei os 97 mil km das minhas artérias
entre as paredes do meu quarto.