24 de setembro de 2023 — O dia que começou anos atrás.

Yuri Siqueira
4 min readSep 24, 2024

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Eu não sei explicar ao certo como me tornei são-paulino. Tenho essa memória forte em minha mente, como se sempre fosse assim. Muitos amigos torcem para o time por influência do pai ou do avô. Definitivamente, não é o meu caso. Meu pai não era muito fã de futebol, e nem sei para qual time meus avôs torciam ou se gostavam de futebol, mas acredito que não. Minha primeira grande lembrança é do Paulistão de 98: a volta do Raí e o título paulista. Lembro de ter comprado um jornal com a manchete “A Máquina Ferroz voltou”. Aquilo ainda vive forte na minha cabeça.

Dois anos depois, veio, talvez, a minha primeira grande frustração com o futebol. Havíamos sido campeões paulistas e estávamos na final da Copa do Brasil. No último minuto, acabamos perdendo. Aquilo doeu por muito tempo, talvez anos. Cada vez mais aquele título parecia algo distante. Daquela noite de tristeza em diante, vi meu time ser campeão de quase tudo, mas a bendita Copa do Brasil não vinha de jeito nenhum.

Em 2015, meu filho Lorenzo nasceu, e eu queria compartilhar com ele tudo que amo e viver momentos marcantes ao seu lado. Com o tempo, fui levando-o ao estádio, e ele foi se apaixonando pelo São Paulo também. Os dias passavam, e ele começou a pedir para assistir mais e mais jogos. Sempre que possível, eu o levava. Era o nosso momento juntos.

Chegou o dia 10 de julho de 2023. Fomos assistir a São Paulo x San Lorenzo. Precisávamos virar o jogo, pois havíamos perdido o primeiro. Abrimos o placar, e ao olhar para trás para comemorar com o Lorenzo, vi seus olhos marejados, chorando de emoção. Ali, percebi que a semente que plantei estava dando frutos. Ganhamos o jogo e voltamos felizes para casa, certos de que coisas boas estavam por vir.

Quando o São Paulo chegou à final da Copa do Brasil, o trauma de 2000 veio à tona. Pensei muito em como isso poderia criar um trauma no Lorenzo, mas também em como poderia ser uma de nossas muitas alegrias.

As vendas de ingressos começaram. Sabia que seria difícil, e quando vi que esgotaram antes de chegar à minha categoria de sócio, desisti. Pensei em assistir com ele em algum churrasco com os amigos. Nesse dia, fui ao cinema com minha esposa e nem me importei mais com isso. Ao sair do cinema, liguei o celular e vi que estavam vendendo para minha categoria de sócio, mas os relatos eram de que o site estava instável. Comecei a tentar, afinal, enquanto há bambu, há flecha. Tentei de todas as formas, mas nada. Pensei em desistir, mas, ao chegar em casa e tentar novamente, consegui os ingressos. Contei para ele, dizendo que se ele se comportasse, iria. O sorriso no rosto dele era impagável.

Chegou o dia 24/09/2023. Era um mix de ansiedade, alegria, medo, todos os sentimentos operando no máximo. Tentei repetir os rituais que deram sorte em outro jogo: fiz a mesma piada com o mesmo porteiro, comi o mesmo prato, ouvi a mesma música. Queria viver aquele momento por mim, pelo Lorenzo e pelo Yuri dos anos 2000.

Chegamos cedo, acompanhamos toda a festa e fomos para a arquibancada. Fazia um calor gigantesco, ou talvez fosse só a ansiedade, mas acredito que era um pouco de cada. O Flamengo abriu o placar, e me veio à mente aquela noite de 2000: “De novo não, por favor”. Logo depois, saiu nosso gol, e uma explosão de alegria tomou conta. Olhei para o lado e, novamente, lágrimas nos olhos do meu filho. Pensei: “Ele merece demais viver isso, muito mais do que eu merecia em 2000”. Minha mente alternava entre “vai dar certo” e “não vai dar certo”. A bola estava no ataque do São Paulo, faltavam alguns segundos, e o grito preso na garganta saiu quando achamos que o jogo havia acabado. Mas era uma expulsão. Segundos depois, a confirmação: o fantasma de 2000 não voltaria, éramos, finalmente, campeões.

As lágrimas não paravam de escorrer do meu rosto e do rosto do meu filho. Era para viver esse momento juntos que eu esperava. A emoção de ver o time ser campeão no estádio é indescritível, e parecia que todos os caminhos nos levariam a esse momento, mais cedo ou mais tarde. Foi naquele dia e naquele ano. Um ano que começou difícil para nós dois, pois eu havia perdido meu pai, que, tenho certeza, mesmo que não torcesse para o São Paulo, estaria feliz naquele momento, pois sempre quis que eu e meu filho tivéssemos momentos marcantes juntos.

Tenho plena certeza de que teremos ainda mais momentos juntos. Temos muito pela frente, mas é inegável como este 24 de setembro marcou nossas vidas, e falaremos sobre ele muitas vezes para, quem sabe, meus outros filhos e possíveis netos.

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Yuri Siqueira
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