O lugar mais intangível que existe é o lugar do outro. Não é possível sequer abstrair muito sobre isso, porque cada ser humano é único e, ainda que você tente se colocar ali, quem estará ali é você. Você com suas vivências, seus credos, seus sentimentos e tudo mais que faz parte do seu eu. Você nunca saberá como é ser o outro, nem quais são suas dores, seu medos, seus desejos. A percepção do outro nunca é pura e muito menos é precisa, por isso, só é possível supor, jamais afirmar nada que não nos pertença. Considerando que a percepção do outro é sempre rasa, a alteridade é por consequência um desafio, na medida que pressupõe uma percepção do outro a partir de si mesmo. E, não se engane, você não enxerga o outro, você sempre vê a si mesmo no lugar do outro e, como o outro é diferente, você tende a julgar suas crenças, valores e ações. O diferente assusta, espanta, faz recuar. Se fosse fácil, a alteridade não teria tamanha escassez. …
Sobre autenticidade…
Eu não gosto de gente que aprecia um golinho de vinho, gosto de gente que bebe sem moderação.
Eu não gosto de gente com um lattes de 30 páginas e que só arrota intelectualidade, gosto de gente que conversa na mesma sintonia.
Eu não gosto de gente que belisca um pedacinho de comida, gosto de gente com paladar, que se empanturra de pizza e, de sobremesa, ri e bebe um sal de fruta.
Eu não gosto de gente hipócrita, que se faz de estoica para parecer legal. Só creio em quem não vive para agradar a platéia.
Eu não gosto de gente que molha os pés no rasinho, gosto de gente que mergulha de cabeça.
Estou numa fase em que nada me faz tão bem quanto não ter que sair de casa. É uma paz indescritível acordar quando o sono acaba, fazer um copão de capuccino e voltar a deitar. Como tenho buscado priorizar conforto e bem estar, tenho saído o mínimo necessário: vou para o trabalho e para a academia. Eu até gosto de algumas vezes comer fora, tomar cerveja, mas em geral faço isso quando já estou fora de casa... Sair de casa especificamente com este objetivo é bem raro. Eu fico lembrando que, quando o Tomás Yvan era pequeno, nestas épocas, a cada sábado, íamos num shopping diferente, lá a gente almoçava e ficava o dia todo em parques com piscina de bolinha, casinha de Natal, trenzinho de Natal e tudo mais que aparecesse... Era mega cansativo, mas o filhote gostava e esperava ansioso para ir... O que tinha de bom era ver ele curtindo ao máximo. Teve uma vez em que ele andou 14 vezes no trenzinho. Todas no mesmo dia! Ele só queria ir no vagão do maquinista (monopolizou kkk). Por ele valia a pena!
Hoje, não aguento enfrentar shopping no sábado nem fora do período natalino... Não gosto de visitar ninguém, não gosto de parques abarrotados de gente e de carros, baladas com filas intermináveis, restaurantes lotados atendendo todo mundo mal... Uiiii... Ranço disso tudo... Ficar em casa é vida.
Vou tomar mais cappuccino e curtir minha cama! …
É tão estranho o modo como o tempo transforma pessoas, emoções, conexões, vidas, sentimentos. O que era profundo, se torna superficial. Um superficial travestido de íntimo. Quase tudo desaparece. Restam no tempo algumas sombras do que se foi, do que se viveu. Mesmo que se tente olhar para trás com o mesmo encanto, os olhos são outros e o que era não é mais. Restam desapegos e vagas lembranças. Ninguém é o que foi.
Geralmente acordo bem tarde, tomo café com leite bem quente e como pão com requeijão, queijo e presunto. É o que gosto de comer ao acordar, tenho essa simplicidade. Hoje, não foi diferente, mas fui tomada por um forte sentimento de nostalgia.
Como está chovendo e estou meio preguiçosa, voltei a deitar. Talvez algum cheiro no ar, algum som, uma certa atmosfera inexplicável fizeram com que eu me remetesse emocionalmente a um outro tempo.
Senti nitidamente o ambiente do lugar onde eu morava quando jovem, no Centro de Curitiba, recordei as vozes das pessoas, os barulhos da casa, os cheiros, a posição do meu quarto, o modo como eu vivia.
Fiquei tentando me reconhecer naquela jovem tão parecida comigo que vivia ali. Ah, se eu pudesse conversar com ela, contar os caminhos a seguir, o que esperar da vida, o que agarrar e do que fugir. Que erros cometeria, as perdas, os ganhos e como poderia ser mais feliz. Uma conversa que, na verdade, seria para me salvar de mim mesma. Estranho, mas sempre penso isso.
Hoje, me questionei sobre as razões desse pensamento recorrente e o que me aflige neste presente a que cheguei: eu seria a mesma pessoa, será que se eu tivesse seguido outros caminhos, aqueles dos conselhos dados a mim mesma, eu realmente estaria melhor, mais feliz, mais realizada? Não sei. Escolhemos uma vida a seguir e necessariamente essa escolha subtrai de nós todas as demais vidas que poderíamos ter vivido. Mas, ninguém nunca escolhe a alternativa, porque na verdade ela não existe, não é o seu caminho, é um ponto fora da curva.
Eu sempre acreditei que somos donos das nossas escolhas. Mas, ultimamente, comecei a pensar que pode ser que as coisas não sejam assim tão controladas como sempre achei, é possível que sejamos colocados a prova mais do que possamos pensar. Algumas pessoas e fatos nos colocam diante de situações que não sabemos conduzir, mas somos "obrigados". Não se coloca uma mochila nas costas e se vai embora para fugir de dores, problemas, amores. Pelo menos as pessoas fortes não. Ou seriam as fracas as que não fogem? Não sei, mas esta pessoa que sou é fruto dos caminhos que ela mesma trilhou e enfrenta tudo até o fim. E isso é um peso muito grande, porque, em certa medida, implica renúncias. Esse é o paradoxo: o enfrentar é força ou debilidade? Não sei. Mas me convenci de que qualquer que tivesse sido meu caminho, na minha essência, acho que eu não seria muito diferente não, ainda que tudo fosse diferente no entorno. Provavelmente, em qualquer caminho, eu levantaria tarde, tomaria café com pão, sozinha, com o celular na mão e estaria lamentando meu constante mal estar com o mundo. …
Acordei agora com uma sensação interior muito ruim. Tem épocas em que o emocional se torna mais sensível e, devido a uma inexplicável escuridão interior, acabamos sendo cruéis com as pessoas que nos são mais gratas e importantes. É um tipo de sabotagem da paz e dos afetos. Isso acontece porque muitos de nós temos interiormente uma montanha russa de emoções e sentimentos contraditórios. Somos todos diferentes e, não raramente, passamos por situações que parecem insignificantes, mas que nos afetam profundamente. Nem sempre é fácil coordenar o mundo interior com o exterior e o que acontece na prática é nos irritarmos extremadamente com fatos sem real importância, que nos fazem perder de vista a essência de tudo e o que é verdadeiramente importante. São coisas complicadas de se entender mesmo, há emoções ruins que criam nebulosidade sobre o amor. Mas, no final das contas, este é sempre o sentimento que prevalece. O amor vence sempre. …
MEU GURI
Ultimamente, passei a fazer um balanço das coisas boas e ruins que a vida me trouxe e me tirou e do que restou disso. Neste balanço, pensei sobre as pessoas com quem convivi, compartilhei experiências e um pouco da minha vida. Tive sorte de sempre ter atraído pessoas predominantemente boas. Tenho muita sensibilidade para perceber a aura alheia e naturalmente tendo a não desenvolver empatia por pessoas cuja maldade extrapola os limites por mim aceitáveis. Sim, porque ninguém é totalmente mau ou totalmente bom. Não existem padrões absolutos quando se trata de seres humanos.
Bem, dentre as pessoas que percorrem ou percorreram ao meu lado esta jornada, pensei no meu filho e no quanto fui abençoada por ter um espírito tão evoluído e de tão elevada magnitude entregue aos meus cuidados. Ele certamente está aqui para me fazer evoluir como ser humano e romper inúmeros paradigmas que freavam o progresso da minha alma.
Ele sempre foi uma pessoa autêntica, sempre pensou por si mesmo, nunca buscou referência nas massas. Desde bem pequeno, mostrou um amadurecimento intelectual fora dos padrões, devido em parte a isso, teve muitas dificuldades de interação social na escola e sofreu bullying em certos momentos. Eu sempre tive orgulho dele, porque tudo que ele fez sempre foi com a alma. Ele sempre foi uma pessoa intensa. Esse aspecto da intensidade faz dele uma pessoa temperamental e de humor variável, mas que na essência sempre carregou uma doçura ímpar.
O tempo passou, foi-se a infância, passou a turbulência da adolescência e, hoje, com 21 anos, ele tornou-se um homem que é motivo de felicidade, orgulho e eterna gratidão. É uma pessoa de uma cultura e de uma generosidade que não há igual neste mundo. Ele é capaz de se dedicar ao extremo para melhorar a vida do próximo, porque ele enxerga o próximo sempre com fraternidade e alteridade. É uma pessoa que não tem preconceitos e nenhum apego a bens materiais. Ele acolhe sempre com afeto todas as pessoas, independentemente de quem sejam, porque tem um coração que não cabe no peito.
Ele é um artista e traz consigo uma sensibilidade típica de quem é capaz de reproduzir o mundo num papel. Isso faz dele uma pessoa capaz também de entender o comportamento humano e aceitar cada um com suas imperfeições. Ele pratica a tolerância, virtude rara em tempos de ódio.
Tudo o que quero é que ele seja sempre feliz e permaneça semeando o amor desprendido que emana dos bons espíritos. Eu, como mãe, sempre terei a felicidade e a honra de ter sido presenteada: recebi como filho o melhor ser humano que encontrei nesta vida. …
De quando eu tinha insônia…
Já são 6 horas, o mundo está despertando e eu ainda não dormi... Tem noites em que fico assim, pensativa. Sinto um misto de ansiedade e nostalgia. Não consigo me situar emocionalmente no agora, tenho um turbilhão de lembranças, que passam rapidamente pelo presente e logo viram futuro, com desdobramentos imaginários, ora bons, ora ruins... A insônia vem desta dificuldade em se desconectar dos pensamentos... A mente fica alerta e todos os pensamentos surgem ao mesmo tempo, criando um emaranhado de ideias... Penso também que seja algo do metabolismo... Ontem mesmo dormi por 14 horas seguidas... Tenho um sono estilo camelo rsrs... Algumas noites durmo muito, outras nada... Já estou acostumada e, em noites como a de hoje, em que não tenho nenhum compromisso no dia seguinte, até acho gostoso desfrutar o silencio da madrugada e mergulhar nos pensamentos... Agora que clareou, estou já pensando em me levantar, tomar um café com leite e comer um pãozinho com manteiga... Depois volto a deitar... Ou talvez deixe para dormir só à noite... …
O que verdadeiramente importa não é o que fomos, mas quem nos tornamos. Não sou saudosista, penso que cada etapa da vida foi um degrau que me conduziu à formação do meu eu. É bom olhar para trás e ter a sensação de que fiz tudo o que deveria ter feito. Certo ou errado, fiz o melhor que pude para quem fui em outro tempo. Não se pode olhar o passado com os olhos do presente. Não somos mais quem éramos, somos quem nos tornamos.
Este ano tem sido especialmente difícil. Muitas mudanças e uma nova rotina forçada pela pandemia de Covid 19. Foi preciso mudar muitos hábitos e viver de um modo totalmente inusitado e anormal. Para mim, particularmente, que nada teve de bom. Acho que perdi até um pouco da vaidade (coisa difícil para mim)… Minha maquilagem envelheceu e minhas roupas estão cheirando a guardadas. Fiquei grisalha e me vi fisicamente envelhecer, mas acredite, não foi só a pandemia que fez isso comigo. Tive que mudar projetos, rever valores e expectativas. Acho que meu futuro será muito diferente do que sempre imaginei e está a léguas de distância até dos meus planos mais recentes, de poucos anos atrás. Tudo mudou, tudo está mais melancólico. Fui abatida pela resiliência (uma palavra que nunca combinou comigo). Vi sonhos e paixões se desfazendo como velas queimando. Tudo perdeu um pouco da cor e do brilho, e o que era importante já não é mais. Não sou mais a mesma pessoa, não tenho mais os mesmos sonhos nem os mesmos desejos. O pouco de entusiasmo que ainda me movia, converteu-se num belo balde de água fria. Restou uma mulher velha, que não crê mais no amor, nem na sorte. Também não resta bom humor nem vontade de interagir com a maioria das pessoas. Apesar disso, eu sinto falta de conversar. Nada me causa vazio maior. E é difícil, porque realmente não tenho interlocutores com quem possa dialogar com o nível de profundidade que eu gostaria. Conversa é sintonia, não é debate, não é cólera, não é divergência e tem que ter paridade intelectual. Então, converso apenas com minha alma. E assim vou envelhecendo e me reinventando. O que espero da vida? Nem eu sei. …
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