Eu, Designer pt.1

Rafael Zabotini Venjenski
5 min readAug 24, 2018

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Dos 4 aos 10 anos (1994~2000)

Eu sempre fiquei mais em casa que brincando com amigos. Eu era menor, mais fraco e não era bom em esportes. Minha distração, e consequente pesadelo de meus pais, era desmontar todo tipo de presente que ganhava e então montar coisas novas com as peças que tinha. Bem, há também uma boa parcela de coisas que nunca voltaram a ser algo de verdade por transformação pelas minhas mãos, viraram material reciclável em algum momento no ciclo todo.

Minha grande preferência sempre foi pelos eletrônicos: carrinhos de controle, robôs, aviões — nunca daqueles super legais que voam de verdade, mais para aqueles que eram suspensos por um fio do teto do quarto e acabavam por ficarem rodando sob minha cabeça — barquinhos… nem mesmo meu walkman ou os relógios escapavam quando davam sinais de que estavam já fadigados.

Todo material juntado dessa exploração era guardado em minhas sacolas ~mágicas~ de mercado e, sempre que estava em casa sem nada pra fazer (ou seja, sempre) eram consultadas e a partir do que via ali, minha imaginação se encarregava do resto. Muitas pilhas, baterias, barras de cola quente, super colas, facas de mesa (as quais esquentava no fogão para derreter e moldar os plásticos) e pedaços de fios de cobre foram usados nessas jornadas intermináveis sentados na copa de casa. Não sabia o que era ferro de solda nem mesmo como era magicamente derretido aquele metal que grudava os fios nas coisas, porém sabia sim que eu queria saber como aquilo funcionava.

Montei carrinhos de controle com peças de robô que mais pareciam transformes rudimentares, transplantei sensores remotos de carrinhos de controle-remoto para outros e os fiz funcionar; desmontei modelos realísticos de lindas Harley Davidson e grudei com muita super-cola deixando tudo com aquele aspecto esbranquiçado-opaco que é característico desses feitos.

Dos 7 aos 10, dividi minha atenção criativa com a leitura: me envolvi com literatura com a série Salve-se Quem Puder e revistas de conteúdo científico e de ciências em geral, que na época eram boas ainda: Superinteressante, Galileu e até Scientific American. Isso levou ao primeiro grande passo ao vazio existencial: o mundo era bem maior que eu imaginava.

Na última fase dos meus 10 anos, algo mudou drásticamente: ganhei meu primeiro computador. Um novo mundo se abriu. Apesar de eu ter tido o privilégio de estudar em escola particular — dado ao sacrifício dos meus pais de nunca terminarem nossa casa como desejavam e nunca terem um carro novo na garagem— já tinha tido contato com essa máquina maravilhosa previamente. Contudo, agora ela era minha (e da minha irmã) e estava ali disponível para explorar a internet nos fins de semana e dias de semana após a meia-noite.

Um dia, entrando na escola, minha professora da época (4ª Série), dona Maria Inês, me acompanhou na entrada da escola e me disse:

Rafinha, li no jornal que tem um site novo na internet muito bom pra gente curiosa, ele chama Google, g-o-o-g-l-e.c-o-m. Tá em inglês ainda, mas isso não é problema pra você né? Vai lá e se divirta.

Essa pessoa talvez nunca saiba a importância que teve em minha vida, infelizmente perdi o contato com ela, mas ela me mudou profundamente e sou muito grato à ela.

Partindo dos 11 até os 17 anos (2001~2007)

Ter um computador em casa, mais um sacrifício de meus pais que o pagaram em 24 parcelas suadas, foi um fator mais que decisivo para a formação de quem sou hoje. Nele eu comecei a rabiscar no Paint minhas primeiras abstrações, e sinceramente, pensando nelas agora faz todo sentido eu não me ver como um Designer Gráfico, mas deixemos isso pra depois.

Comecei a me interessar por algo além do "usar" o computador: eu precisava saber como aquela máquina funcionava, por que ela "travava" ou mesmo algumas coisas não funcionavam como deveriam. Nesse período, acabei ferrando nosso computador por 3x no mesmo ano e meu pai foi categórico:

Eu não vou mandar arrumar mais essa máquina, são 50 reais a cada vez que você mexe onde não deve. Se quiser fazer isso, aprenda a consertar.

Mal sabia ele que estava fazendo uma das melhores coisas que ele poderia ter feito por mim (fora a educação maestral que me deu): me ensinou que tudo que a gente estraga, tem que consertar, cedo ou tarde, inevitavelmente.

Sim, eu aprendi a consertar, mas não na minha máquina: uma amiga tinha um computador "estragado" e ela acabou sendo minha cobaia. E bem, após certa frustração, consegui. Aprendi a "formatar computadores". E depois vieram mais computadores de colegas para arrumar. Isso só expandiu meus horizontes: agora eu podia arrumar o que eu estragava, e isso significava fuçar em tudo sem medo do amanhã.

Entre os 12 e 14 fiz algum pouco dinheiro arrumando computadores de colegas e comecei a me interessar mais pelas entranhas dos computadores: passei muitas horas de minha vida em fóruns como clubedohardware.com, baboo.com.br, meio-bit.com… e então, obviamente escondido de meus pais, decidi tentar abrir meu computador. Abri, olhei, fechei. Ainda parecia que era muito cedo praquilo, apesar de minha teoria estar afiada e cheia de siglas desse mundo, ainda faltava algo.

A gente percebe uma troca de padrões né? Eu era muito criativo/manual e passei ao analítico/digital. Isso terá sua importância.

Dos 15 aos 16, me aprofundei no tecniquês e acabei ganhando uma bolsa num curso técnico de informática aqui em Curitiba mesmo, uma verdadeira febre que invadiu a cidade e prometia emprego, boa remuneração e futuro profissional aqueles que se dedicassem. Não foi essa coca-cola toda, mas outros três grandes passos foram dados: conheci hardware e , tive meu primeiro contato com uma linguagem computacional (HTML e JavaScript) e prestei um concurso interno da escola para ser estagiário e… PASSEI! Eu tinha meu primeiro salário.

Ainda que em uma camada MUITO superficial, aprender essas simples linguagens fundiu meu cérebro! Eu podia mandar a máquina fazer coisas pra mim, não dependia mais das coisas pré-definidas que eu pirateava. Comecei então a fazer temas para Blogspot & Tumblr, bem como me aprofundar no mundo da internet. Me arrisquei com Python, mas ainda era DEMAIS pra mim. Voltei ao meu porto seguro do momento. Nessa faixa etária ainda, conheci meu cunhado, que deixou de ser e acabou voltando a ser mais tarde, ele já estava na faculdade de Ciência da Computação, e sempre com as devidas ressalvas, me mostrou o caminho, a verdade e a vida.

Veio o terceirão, cursinho e vestibular: tudo se resumia a isso e bem, não sobrava muito tempo pra me dedicar aos meus hobbies. Tudo que gostava ficou encostado por um tempo. Mas a vida tem dessas né? Minha decisão sobre qual curso seguir era indubitável: no finado CEFET-PR tentei Engenharia da Computação e na UFPR, Bacharelado em Ciência da Computação. No CEFET quase passei, na UFPR fiquei muito abaixo na classificação… enfim, não deu.

O resultado saiu em 5 de janeiro de 2008; No dia 8 de janeiro de 2008, segunda-feira, já estava trabalhando. Afinal, se eu não podia estudar, em casa é que eu não ia ficar.

Continua… (AQUI)

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Rafael Zabotini Venjenski

Experiências pessoais e profissionais temperadas por sucessos & frustrações de um Designer em evolução