A sensação chamada Fleetwood Town FC

Clube amador há poucos anos, hoje figura como profissional

Luis Felipe Zaguini
8 min readFeb 19, 2017
Sim, é ele mesmo: JAMIE VARDY atuando pelo Fleetwood em 2012

É muito comum ver times em ascensão no futebol inglês: Crystal Palace, Swansea, Bournemouth, Leicester, Wigan, Southampton, Watford e outros são bons exemplos do tamanho dinamismo entre divisões na terra da Rainha.

Nos últimos anos, um clube vem tomando a atenção dos apaixonados por futebol. É o caso do Fleetwood Town Football Club, da cidade (obviamente) de Fleetwood, situada na região de Lancashire, no Noroeste da Inglaterra.

Entre 2004 e 2017, foram seis promoções. A equipe saiu da nona divisão do país e está, atualmente, na terceira: a League One.

Do amadorismo total ao profissionalismo

Tudo começou em 2003, quando Tony Greenwood conseguiu o cargo de técnico do time. O presidente eleito foi Andy Pilley, que está no clube até hoje.

Era o início de algo grande. Logo na sua primeira temporada, Greenwood foi campeão da North West Counties League, em 2004/05, e vice-campeão da Northern Premier League First Division em 2005/06, fazendo o clube disputar, em muito tempo, a sétima divisão (Northern Premier League Premier Division).

A primeira temporada na sétima divisão foi de consolidação apenas, mas mesmo assim houveram frutos: foi campeão da copa da Northern Premier League (que engloba todas as subdivisões da Northern League). No campeonato, terminou em oitavo lugar. Um bom começo. No ano seguinte, não teve pra ninguém: primeira colocação e a classificação para a sexta divisão, à época, a Conference North.

Apesar de terem sido campeões, não foi fácil: dois pontos o separaram do segundo colocado, no caso o Witton Albion. Além disso, o Fleetwood conseguiu uma ótima média de público, sendo, de longe, o time que mais levou gente ao seu estádio, o Highbury, com capacidade para pouco mais de cinco mil pessoas.

Se liga na festa da torcida no último jogo, assim que o árbitro apitou:

Mas nem tudo foram rosas, e o começo da sexta divisão em 2008 foi péssimo, com o clube na última posição. Isso tudo culminou no despedimento do técnico Tony Greenwood.

O substituto seria Micky Mellon, que também era técnico do sub-15 e sub-16 do Burnley. Porém, em janeiro de 2009, ele foi oficializado como técnico em full time, se dedicando mais ao time.

Na primeira vez em sua história, o Fleetwood chegou ao segundo round da FA Cup, e acabou perdendo por 3 a 2 para o Hartlepool United na sua casa, numa assistência recorde de mais de três mil pessoas. O clube reagiu no campeonato, e terminou numa respeitosa oitava posição. Nada mau para os estreantes.

Na temporada seguinte (2009/10), ainda na sexta divisão, o Fleetwood terminou em segundo lugar na competição, apenas um ponto atrás do campeão Southport, e teve que jogar os playoffs para subir, pela primeira vez na sua história, para a quinta divisão inglesa!

No primeiro jogo dos playoffs (são dois, uma “semifinal” e a final), uma vitória nos pênaltis contra o Droylsden, quinto colocado na classificação geral.

Na final, contra o Alfreton, o time saiu vencendo, com gol de Nathan Pond e tomou o empate, mas um gol de Lee Thorpe selou a promoção inédita para a quinta divisão do modesto, mas ousado, time de Fleetwood.

Pond jogando pelo clube em 2012

Notou o negrito no nome de Nathan Pond? Pois é. Sabia que ele é, reconhecido pelo Guinness, o jogador com mais aparições em diferentes divisões por um único clube da história?

Ele tem algo em torno de 450 partidas pelo clube, e assinou o primeiro contrato em 2003, ou seja, começou a atuar na nona divisão e hoje está, com o time, na terceira.

Na temporada 2010/11, pela primeira vez na história, o clube fez todos os seus jogadores profissionais, mesmo custando a saída de alguns nomes importantes do clube, incluindo o capitão Jamie Milligan (que jogava lá desde 2005).

Na temporada de estréia na quinta divisão, o clube ficou em quinto lugar no campeonato, o que garantiu a participação no playoff para a League Two, equivalente à quarta divisão inglesa. No playoff, perdeu no agregado de 8 a 1 para o AFC Wimbledon. O recorde de torcida foi batido (o time levou 4,112 torcedores para esse jogo), mas ficou só no quase.

A temporada de 2011/12 teve muito sucesso. Na Copa da Inglaterra, eles atingiram o terceiro round pela primeira vez: depois de bater o Mansfield Town, Wycombe Wanderers e Yeovil, foram sorteados contra o Blackpool, rival regional, e perderam de 5 a 1 para o clube da segunda divisão — Jamie Vardy marcou o único gol de seu time.

Na liga, o Fleetwood teve uma sequência de 29 jogos sem perder, e foram condecorados campeões com dois jogos de antecedência, classificando pela primeira vez na história do clube para a quarta divisão nacional, formada apenas por clubes profissionais. Era o Fleetwood se consolidando no cenário nacional do futebol inglês.

Ao final da temporada, Jamie Vardy foi comprado pelo Leicester por um milhão de libras (que mais tarde subiu para 1.7 milhão), se tornando até hoje a transferência mais cara de um jogador “non-league” (de times semi-profissionais) para equipes profissionais.

McLaughin jogando pela Irlanda do Norte

E teve mais: desde 2012 o clube tem os direitos de Conor McLaughin, que é titularíssimo na seleção da Irlanda do Note, e inclusive jogou a Eurocopa pelo seu país.

A primeira participação profissional do Fleetwood

O clube começou bem a temporada de estréia como profissional: depois de 10 jogos disputados, estava na terceira posição. Porém, dos próximos 10 jogos que disputou, só ganhou dois, e caiu para o sexto lugar. Com isso, uma Andy Pilley, presidente do clube, descobriu que o técnico Micky Mellon se aplicou para os cargos de técnico de Blackpool e Burnley.

Pouco tempo depois, após uma derrota para o Aldershot na Copa da Inglaterra, Mellon foi demitido e substituído por Graham Alexander, que teve ótimas novas ideias.

Sob o comando de Alexander, o clube ficou cinco jogos seguidos sem perder e voltou para o quarto lugar após onze partidas. Porém, a má fase voltou e, dos próximos 15 jogos, o time de Graham venceu apenas dois. Uma boa temporada, mas o time precisava — e queria — mais.

A temporada 2013/14 foi ótima. Depois de ficar praticamente toda a temporada nos lugares de promoção automática (de primeiro à terceiro lugar), o gás esteve perto de acabar no fim do certame e a equipe terminou em quarto.

Na semifinal do playoff, venceu o York City e ganhou do Burton Albion com um gol de falta de Antoni Sarcevic, levando o time pela primeira vez para a terceira divisão inglesa no dia 26 de maio de 2014, em Wembley (eu assisti esse jogo!)

Jogar na terceira divisão, por enquanto, é o maior feito do clube. Na temporada 2014/15, depois de três jogos, o time estava surpreendentemente na primeira colocação, mas não conseguiu aguentar e terminou num respeitoso décimo lugar. Bons resultados foram as vitórias contra o Sheffield United fora de casa e grandes empates contra Bristol City, Preston North End, Swindon Town, Rochdale e Chesterfield.

Além disso, em 2014 o clube comprou um hotel de 57 lugares para as camadas jovens se desenvolverem melhor, e também inaugurou um centro de treinamento muito superior ao antigo.

Ainda teve a cereja do bolo. Em 29 de março de 2015, David Ball marcou um golaço que foi indicado ao Puskás. Confira:

A temporada passada

2015/16 foi bem difícil para o clube de Highbury: em janeiro de 2015, o presidente Andy Pilley anunciou uma medida mais sustentável de transferências, baseada em desenvolver jogadores em vez de comprá-los para continuar subindo na pirâmide do futebol inglês.

Com isso, a folha salarial foi cortada ferozmente. Infelizmente, no começo, as coisas não correram bem: foram apenas duas vitórias em 10 jogos, o que culminou na demissão de Graham Alexander e a estadia por apenas um ponto acima da zona de rebaixamento, com uma derrota pesada por 5 a 1 para o Gillingham Town FC.

O sucessor de Alexander foi Steven Pressley. Após uma temporada flertando com o rebaixamento, Pressley conseguiu a manutenção terminando cinco pontos acima do primeiro lugar de despromoção, com 10 vitórias em 35 jogos.

A temporada atual

Em julho de 2016, Pressley renunciou o seu cargo como treinador e deu lugar à Uwe Rösler, alemão com passagens pelo Manchester City, Brentford, Wigan e Leeds. O começo da temporada foi seguro: estava longe da zona de rebaixamento, brigando no meio da tabela.

O clube não perde no campeonato desde o dia 19 de novembro, e subiu da décima primeira para a quarta posição, apenas dois pontos atrás dos lugares de promoção automática para a segunda divisão.

Caso não termine em primeiro ou segundo, os clubes que estão entre terceiro e sexto lugar disputam um playoff para a Championship, ou seja, a esperança é grande!

É mole? Segura o Fleetwoodão! No último jogo, disputado hoje (18 de feveireiro), uma vitória sobre o MK Dons no estádio do adversário! Confira o gol abaixo:

Mas o melhor ainda está por vir: jogará contra o Northampton em casa na próxima rodada, clube que vem inconstante no campeonato, e tem todo o favoritismo ao seu lado para os três pontos.

Classificação atual da League One, Fleetwood em quarto

Após isso, encara dois adversários diretamente envolvidos na luta pela promoção: vai até Scunthorpe jogar contra o time da cidade no dia 04 de março, e logo em seguida recebe o Bolton Wanderers, em casa, no dia 11.

O retrospecto contra o Scunthorpe é favorável: nos últimos cinco jogos foram duas vitórias do Fleetwood, dois empates e apenas uma vitória do adversário.

Contra o Bolton, nem tanto: no primeiro turno, visitaram o adversário e perderam por 2 a 1, mas foi bem no comecinho da temporada e era um momento totalmente diferente do agora time da casa.

Os dois artilheiros do time na temporada são o grande David Ball (11) e o Ashley Hunter (10), que também é o líder de assistências (6). Como podemos ver, um ataque entrosado, mas não muito prolífico, com um saldo apenas de 15 gols, abaixo de todos os seus concorrentes.

No entanto, defensivamente o time vai bem: é a segunda melhor defesa do campeonato (32), perdendo apenas para os ETs do Bolton, que sofreram apenas 25 gols em 31 jogos.

O Fleetwood tem tudo para surpreender novamente e cravar um lugar na segunda divisão da temporada que vem, mas não será tarefa fácil. Será que o novato consegue teremos um novo Bournemouth/Swansea da vida? Temos que esperar, mas tudo conspira que sim. Voa, Fleetwood!

--

--