A fila do pão

Alex Piaz
2 min readAug 5, 2016

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Um sábado frio, uma manhã de inverno. Pessoas se amontoam na padaria do bairro atrás de confortos diversos. Uns em busca de pão e mortadela, outros de café e peito de perú. Alguns procuram somente a compania do balconista, trocando poucas palavras entre goles de bebida quente e um pão-na-chapa. Um dia comum.

Há algumas filas típicas de padaria. A fila dos frios, onde esperamos ansiosamente uma cortesia enquanto o homem da máquina corta fatias finas da proteína de nosso desejo-desjejum matinal. Há também a fila do pão, mais simples, por muitas vezes nem é preciso falar, basta mostrar nos dedos a quantidade para ter o problema resolvido, a não ser que você queira algo mais elaborado. E por fim, a fila do caixa, onde todos se encontram para trocar a experiência vivida e as mercadorias escolhidas por dinheiro — grana, bufunfa — em mídias diversas. — Foi nessa fila do caixa que deu-se a intrigante situação.

Cerca de 15 pessoas aguardavam sua vez, a padaria estava lotada e conseqüentemente em confusão. Dois senhores conversavam alegremente, sobre futebol, quando houve um encontro com a fila do pão. Um rapaz desavisado furou a fila do caixa, entrando justamente à frente dos senhores que aparentemente não se deram conta do fato. Imediatamente atrás, uma mulher protestou em terceira pessoa, como é do costume.

“Hoje em dia ninguém respeita sequer uma fila!”

Ao perceber a situação um dos senhores, o mais alto, jocosamente falou: — ”Não se irrite, a fila anda de um jeito ou de outro!”

A mulher secamente respondeu — ”Se não ligam para uma mísera fila, quiçá para as Leis do nosso país. Ô povo descabido!”

Vimos então um confronto filosófico. A fila está na esfera da moral ou regulamentar?

O sujeito respeita filas porque é treinado para obedecer ou porque enxerga a si mesmo no outro, sem leis, regras ou quaisquer filigranas que utilizamos na sanha de controlar tudo ao nosso redor?

E na padaria, o jovem ao perceber o imbróglio pediu desculpas e se encaminhou para o local que julgava ser correto.

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