Minha querida ansiedade

Ellen Rodrigues
2 min readSep 26, 2016

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Hoje escrevo pra você depois de mais uma noite mal dormida, rodeada de medos e planos mal feitos. Planos esses que você vai me fazer estragar. Planos esses que você muito provavelmente vai me fazer desistir antes mesmo que eu possa estragar.

Eu tomo um café, mastigo um pão. Não passa nunca. Você está sempre lá. Sentada na janela do ônibus que eu corri pra pegar. Mergulhada nas minhas cobertas.

Eu me lembro que somos amigas de longa data. Desde aquela vez em que roubaram a minha agenda eletrônica e eu quis morrer. Até hoje não sabemos onde e como sumiu. Mas talvez tenha sido a primeira vez que eu quis morrer. Que, mergulhadas em culpa aos 8 anos, eu vislumbrei nunca ter existido só pra não decepcionar a minha mãe.

Você me fez querer morrer diversas vezes. Todas as vezes que eu olho lá na frente e não me vejo capaz de caminhar até o ponto que desejo. Você me diz bem lá no fundo: você não vai conseguir. Quis morrer, mas você me segurava pela mão e me lembrava que se eu morresse não teria ninguém pra lamentar não ter se casado comigo. Algumas vezes você está bem certa.

Todas as vezes que eu fico submersa, sufocada e entregue aos seus sintomas eu sinto a mesma vontade de morrer. Às vezes mais, às vezes menos. Hoje menos, amanhã um pouco mais. Mas você sabe que eu nunca teria coragem. Porque até pra morrer eu fracasso.

Eu digo ao espelho que sou forte, que preciso viver um dia de cada vez e peço que você se acalme. Eu digo que sou maior. Eu não sou essa pessoa que você faz ficar três horas no banho quando não sabe o que fazer. Eu não sou essa pessoa que não consegue enxergar um futuro porque sempre tem uma névoa uniforme é bastante cinza encobrindo os olhos. Eu não sou essa pessoa que já não sonha.

Eu sou maior. Repita comigo M A I O R. Eu venci todas as nossas batalhas. Eu levantei todas as vezes que você me derrubou. Eu abracei a esperança todas as vezes que você me ofereceu o precipício pra pular.

Eu sei que você vai continuar me desafiando. Sei que vai intimidar todas as vezes que eu pegar impulso. Sei que vai arruinar com descontrole todos os meus futuros relacionamentos e sei, sei muito bem, que vai culpar depois que todos eles forem embora.

Eu ainda estou aqui. Hoje mais fraca, amanhã mais forte. Não desisti. Digo pelo hoje. Amanhã é outro dia. Amanhã eu renovo os votos e reúno forças novamente pra te pôr pra debaixo do tapete.

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