Ação em Roraima
Boa Vista e Pacaraima, 6 de março de 2019
"Para muitas pessoas, o maior problema é a inflação altíssima; para outras tantas, a falta de alimentos, de remédios ou as falhas no fornecimento de energia elétrica, no abastecimento de água e nos atendimentos hospitalares.
Mesmo com o coração partido, a solução para milhões de venezuelanos tem sido deixar suas casas e seu país amado. Maduro afirma que 800.000 pessoas abandonaram a Venezuela desde o agravamento da crise no país. No entanto, de acordo com a ONU, o número já passa dos 2,3 milhões de venezuelanos que buscam outros países para viver definitivamente ou, ao menos, esperar a crise passar.
No Brasil, a chegada tem sido principalmente pela pequena Pacaraima, cidade localizada em Roraima, conhecida por ter temperaturas mais baixas que no restante do estado.
Estima-se que mais de 100.000 venezuelanos já tenham se deslocado para o território brasileiro. A perspectiva é que esse número dobre até o fim do ano, mas no momento a fronteira entre Brasil e Venezuela está fechada. Os moradores de Pacaraima não estão acostumados com ruas vazias, o que tem trazido prejuízos aos comerciantes. Enquanto isso, cidadãos da Venezuela buscam caminhos alternativos para entrar em nosso país.
Profissionais que atuam na região dizem que a chegada dos imigrantes ao Brasil foi bem tumultuada. Houve brigas e ofensas xenofóbicas. Muitos indígenas agora precisam viver em abrigos. Apesar de todos os esforços, esses locais jamais serão capazes de substituir suas antigas moradas.
A Pedagogia de Emergência no Brasil, em parceria com a Aliança pela Infância de Carmo da Cachoeira, em Minas Gerais, foi convidada pela FRATERNIDADE INTERNACIONAL para a realização de um trabalho de conscientização de educadores e outros profissionais envolvidos com educação que atuam nos abrigos de Boa Vista e de Pacaraima. Pessoas da ACNUR, REACH, UNICEF, VISÃO MUNDIAL, UNFPA, IMDH, FÉ E ALEGRIA, AMES, da SECRETARIA MUNICIPAL DE PACARAIMA e de outras organizações que atuam na região participaram de nossos seminários, que aconteceram entre os dias 06/03 e 10/03. Esses profissionais acompanham 6.000 abrigados venezuelanos — 1.000 deles são indígenas.
Trabalhamos os tipos de trauma, suas características e fases e apresentamos formas de, pedagogicamente, acompanhar as crianças e os jovens nos abrigos e espaços de educação. Além da parte teórica, oferecemos oficinas práticas, como aquarela, desenhos de forma, pedagogia da vivência e rodas de ritmo.
O trabalho do exército brasileiro tem sido fundamental para a qualidade de vida dos venezuelanos naquela área. Já estive em muitos abrigos ao redor do mundo e confesso que fiquei muito orgulhoso ao ver as condições dos abrigos em Boa Vista e Pacaraima. Sei que as organizações citadas acima trabalham duro para que as pessoas sejam atendidas com qualidade. Todas as instituições estão cientes de que as condições precisam ser melhores e estão trabalhando duro para isso.
O desejo é que a Pedagogia de Emergência volte para Roraima no final de abril para trabalharmos com as escolas municipais e estaduais, em parceria com a Fraternidade Internacional e a UNICEF.
Divido aqui alguns relatos colhidos durante essa nossa primeira fase de atuação em Roraima:
“Aqui neste seminário, conheci a educação sem fronteiras.”
Educador indígena
“Percebi que posso fazer muito pelas crianças, independentemente do governo ou da situação política. O que aprendi nestes dias vou oferecer para as crianças que cuido, sabendo que isso fará diferença na vida delas. Farei de coração.”
Professora de música
Reinaldo Nascimento, terapeuta social, educador físico e cofundador da Associação de Pedagogia de Emergência no Brasil