Tragédia em Suzano: como prevenir o trauma pelo testemunho entre crianças e jovens?

Pedagogia de Emergência no Brasil
TransformAÇÃO
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3 min readMar 15, 2019

Notícias sobre grandes tragédias que chegam pela TV, pelo rádio ou pelas redes sociais de forma massiva e sem filtro podem causar o chamado trauma pelo testemunho, provocado pelo contato com cenas e informações relacionadas a eventos chocantes, como o cruel episódio da escola de Suzano. Isso pode deflagrar sentimentos como medo, horror, impotência ou raiva também em pessoas ou grupos que não vivenciaram de fato aquele episódio.

A questão é que qualquer trauma, inclusive o trauma por testemunho, pode prejudicar o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. No caso de algo tão perturbador que se deu justamente no ambiente escolar, até professores de outras instituições podem ser afetados.

Para muitas crianças, principalmente as mais vulneráveis socialmente, a escola ainda é considerada um espaço seguro e de acolhimento. Uma tragédia como a de Suzano pode gerar traumas mesmo em quem não vivenciou aquele horror e impedir processos de aprendizagem e de convivência saudável.

E nós, adultos e educadores, o que podemos fazer?

Informar-se sobre a temática do trauma e compreender um pouco mais sobre o que acontece com quem está enfrentando essa situação é um bom começo (os livros Destroços e Traumas, de Bernd Ruf, e A Cura do Trauma — Quando a Violência Ataca e a Segurança Comunitária é Ameaçada, de Carolyn Yoder, são duas obras de referência a respeito da assunto).

Confira a seguir algumas orientações práticas do terapeuta social e educador físico Reinaldo Nascimento, cofundador da Pedagogia de Emergência no Brasil:

  • Os adultos, principalmente os educadores e educadoras, precisam estar bem e confiantes para poder dar suporte para os seus educandos.
  • No início das atividades, procure perguntar: “Como é que vocês estão hoje? Como estão se sentindo?”
  • Caso o episódio de Suzano apareça no grupo, validar dizendo: “Isso aconteceu numa outra escola e estamos muito tristes. Se sentirem necessidade de falar, me procurem”. Mostre-se disposto a escutar e acolher as angústias e procure seguir para a atividade planejada.
  • Se o assunto entrar de forma mais incisiva, ressaltar que “o fato aconteceu em outro espaço, num outro contexto”. Dizer que “podemos ficar abalados, com medo”, mas afirmar que “juntos estamos seguros, aqui nos cuidamos, nos preservamos, estamos construindo um caminho de paz e cidadania em nosso projeto e queremos um mundo melhor para todos e todas”.
  • Alguns podem fazer piadinha como forma de colocar o tema para fora. É preciso acolher esse tipo de manifestação, mas solicitar o devido respeito às vítimas e ao sofrimento do outro.
  • Evitar falar com as crianças sobre hipóteses de por que algo tão terrível aconteceu ou o que poderia ter impedido o fato.
  • Criar espaço para que elas possam se expressar durante as atividades do dia.
  • Se for possível, aconselhar familiares e responsáveis a não mostrar imagens do ocorrido às crianças. Solicitar que eles tirem as crianças da frente da TV. Orientar os adolescentes a também tomarem esses cuidados com os colegas e irmãos mais novos e a nunca compartilharem imagens de tragédias em redes sociais.

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A Associação da Pedagogia de Emergência no Brasil trabalha para transformar a vida de crianças e jovens traumatizados por situações extremas.