A Arte da Aprendizagem Autodirigida — Blake Boles
Tradução de Alex Bretas
Acesse o texto preliminar e o sumário do livro traduzidos clicando aqui. Veja abaixo os links para os capítulos anteriores:
- Introdução
- Aprendizes e Aprendizagem: 1. A Menina que Navegou o Mundo
- Aprendizes e Aprendizagem: 2. O que Aprendizes Autodirigidos Fazem
- Aprendizes e Aprendizagem: 3. O que Aprendizes Autodirigidos Não Fazem
- Aprendizes e Aprendizagem: 4. Aprendizagem Consentida
- Motivação: 5. Autonomia, Maestria e Propósito
6. Disciplina, dissecada
O escritor John Cheever colocava seu terno todas as manhãs e descia no elevador do prédio onde morava.
Ao invés de sair no piso térreo, ele continuava até chegar num depósito que ficava no subsolo.
Lá, ele tirava seu terno e ficava só de cueca escrevendo até o meio-dia. Então ele se vestia novamente, pegava o elevador de volta para o almoço, e assim continuava seu dia. Foi fazendo isso que ele completou sua obra mais importante.
O primeiro e mais racional medo de um aprendiz autodirigido é: “Como fazer o que precisa ser feito?” Se Cheever servir de exemplo, então a resposta é simples: encare seu projeto como um emprego incrivelmente bem pago. Trabalhe todos os dias, dedique-se pra valer, siga em frente e, então, a mágica acontece.
O autor Stephen Pressfield entende isso como a postura de “se tornar profissional”. A ideia é que nós conseguimos fazer as coisas quando jogamos fora nossas desculpas, demolimos nossas distrações, cortamos as bobagens e invocamos cada gota do nosso estoque de autodisciplina.
No entanto, precisamos pisar com cuidado ao redor da palavra disciplina. Como o ensaísta Paul Graham explica, “uma das ilusões mais perigosas que alimentamos por causa da escola é a ideia de que fazer coisas incríveis requer muita disciplina”. Muitos realizadores de mão cheia e pessoas altamente criativas, Graham argumenta, são na verdade procrastinadores terríveis que têm pouca disciplina para tarefas que os entediam.
Assim, temos duas posturas distintas em relação à disciplina. A primeira é entrar de cabeça no que precisa ser feito, abandonar todas as distrações e fazer o trabalho, não importa o que aconteça. A segunda é não forçar nada, enxergar a procrastinação como um alerta e aguardar a inspiração vir.
As duas estão corretas.
Experimente isto. Na próxima vez que você estiver lidando com alguma tarefa autodirigida assustadora — algo que ninguém poderá fazer, exceto você — faça a si próprio três perguntas:
- Se eu não fizer essa tarefa, me sentirei mal depois, talvez até fisicamente?
- Quando fiz essa tarefa no passado, isso fez uma diferença importante na minha vida ou para o mundo?
- Quando fiz essa tarefa no passado, eu só precisei passar da fase de resistência inicial, e depois a automotivação tomou conta?
Se sua resposta for “sim” para todas as três perguntas, então seu chamado é verdadeiro. É a hora de desativar seu Wi-Fi, ficar só de cueca e começar a escrever ou fazer qualquer outra coisa que seja necessária para sentar a bunda na cadeira e se concentrar.
Se a resposta for “não” para muitas das perguntas, talvez você esteja trabalhando no projeto errado ou esteja abordando-o de maneira equivocada. Sentar a bunda na cadeira talvez não ajude aqui — é hora de mudar a direção.
E se as respostas das perguntas forem “não sei” ou “não tenho informações suficientes”, então pode ser bom investigar um pouco. Tente se concentrar e observe atentamente o que acontece com você. Você está entusiasmado? Isso está valendo seu tempo? Em seguida, depois de algum tempo de esforço genuíno, pergunte-se as três questões novamente.
No meu caso, penso em relação à corrida e à escrita. Se eu fico adiando uma corrida mais longa ou atrasando um projeto de escrita por muito tempo:
- Começo a me sentir mal, algumas vezes até fisicamente
- Paro de sentir que estou fazendo alguma diferença para o mundo e para minha saúde
- Percebo que estou apenas me esquivando da fase de resistência inicial — colocar o tênis ou abrir o processador de texto — e não da tarefa em si, que me satisfaz completamente uma vez tendo a começado.
Mais do que qualquer coisa, a arte da aprendizagem autodirigida é a arte de saber o que te entusiasma, o que te distrai e o que é mais importante alcançar na sua vida agora.
Reunir esse conhecimento requer aparentemente um incontável volume de reflexões, diálogos e autopercepção. Mas a recompensa disso, nas palavras do meu amigo Dev Carey, é que “a disciplina se torna apenas um lembrete”.