A primeira impressão é a que fica?

Será mesmo que as coisas são o que parecem ser? Ou teria algo para além da superfície?

Luana Reis
A arte de fazer dar tempo
6 min readAug 11, 2019

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Você já iniciou um período letivo na faculdade ou no colégio e, antes mesmo do primeiro dia, foi atrás dos veteranos perguntar opiniões e experiências relacionadas ao professor de cada disciplina?

E dentre essas vezes, imagino que alguns professores e matérias eram bem falados, enquanto outros… nem tanto. Certo?

Após o início da sua vivência acadêmica real, convido-lhe a refletir e observar:

1. Quanto daqueles relatos eram verdade e de fato se consumaram durante a disciplina e a convivência com aquele professor(a)?

2. Quanto aquelas opinião impactaram sua percepção dos acontecimentos?

3. Por fim, quanto aquilo que lhe foi dito chegou, até mesmo, a limitar a sua experiência, como se sua opinião já estivesse formada?

O ponto é: Você chegava lá de “cabeça feita”? “AH, esse professor não é bom, todos falam isso!” ou “Já sei que essa matéria não vai ser boa!”.

Já aconteceu isso com você?

Bem, já aconteceu muito comigo em algum grau em algumas situações. Até que parei e me fiz uma pergunta mágica.

Muitas vezes, quando tudo parece fixo, fechado, quando entro dentro de processos internos que parecem não ter saída… eu recuo um ponto, tento ver “mais de fora” e me pergunto:

Será mesmo? Será que é dessa forma ou teria outra alternativa? Outra interpretação?

Bem, sobre isso tenho 3 situações para contar.

Apenas a fim de contextualizar, saiba que, atualmente, sou estudante de medicina do 11º período.

Agora, vamos viajar um pouco no tempo…

Eu estava prestes a ir para o 3º período e iria cursar uma disciplina no centro de saúde. A nova professora tinha vindo de uma outra sub-turma e, as opiniões de alguns desses colegas não eram tão positivas.

Assim, eu e minha turma iniciamos a experiência com ela. No início até me lembrei, mas… depois me permiti esquecer. E deixei vir o que vier…

Não havia nada o que se queixar de específico a princípio. Apenas alguns desencontros aqui e ali. E aparentemente isso já poderia ser visto como lucro.

Mas não parou por aí.

Aos poucos, fomos nos adaptando… até que minha turma começou, de fato, a criar um vínculo legal com essa professora, com quem ficamos ao longo de 2 semestres.

No segundo semestre com ela, já mais ambientados e harmonizados, desenvolvemos um projeto junto ao centro de saúde, voltado para a arte (circo, desenho) com as crianças da comunidade, fizemos lanchinhos com os profissionais do posto, e por aí vai.

O mais legal disso tudo, é que até hoje eu tenho um certo contato com ela. É uma pessoa por quem desenvolvi um grande carinho e afeto. Já nos encontramos por aí, conversamos, dividimos sugestões de leitura e algumas vivências.

Quem poderia imaginar, não é mesmo?

E você poderia dizer: Ah! Deu sorte! Foi uma exceção.

Porém, não foi isso que observei ao longo desses mais de 5 anos na faculdade. Após essa primeira “exceção”, decidi deixar as críticas e as fofocas de lado, livrar-me dos preconceitos e abrir meu coração para a experiência que estava por vir.

Consigo me lembrar de, pelo menos, mais dois casos marcantes de professores que, no início do semestre, foram “mal falados” pelos veteranos e, ao chegar nas aulas de fato, eles não só não eram ruins, como, inclusive, eram muito bons. Alguns deles chegavam a ser didáticos dedicados, e criaram um vínculo interessante com minha turma.

A exemplo, um professor de cirurgia vascular, que conduzia bons grupos de discussão conosco, e uma professora de ginecologia, que não apenas promovia boas discussões sobre a matéria, como também chegou a trazer bolo para nós no último dia! Essa professora, inclusive, sentiu-se à vontade para fazer alguns relatos sobre sua trajetória e seus principais aprendizados nesse percurso, a fim de nos inspirar!

Uma foto ilustrativa pra um dia significativo ♥️

Sim. E ambos com uma “reputação não tão boa assim” a princípio…

Ok, agora, vamos ampliar?

Convite a uma nova perspectiva…

Quantas vezes nós nos permitimos afetar e alterar nossas experiências, vivências, relações, sentimentos e opiniões, antes mesmo de “ver com os próprios olhos”, mas principalmente baseado em um relato negativo de outra pessoa?

Será mesmo que as coisas são o que parecem ser? Ou poderiam ser algo mais? O que há para além do óbvio? Do superficial?

Quem sabe se nós nos déssemos mais o “benefício da dúvida” de conhecer as pessoas e as situações como elas realmente são, aos nossos olhos e ao nosso contexto, não poderíamos ter a chance de experienciar momentos incríveis?

Quem sabe se, ao deixar o coração aberto, o olhar atento, o preconceito silencioso e, mais importante, a empatia desperta… quem sabe esse movimento não poderia nos levar a histórias inusitadas, transformadoras e únicas?

Ao longo dessa semana, estimulada pelas reflexões que tive ao escrever este texto, aproveitei que ainda tenho contato com a primeira professora que mencionei (a do centro de saúde) e quis ter um “papo” com ela sobre o assunto…

Foi uma experiência muito rica para mim, imagino que pra ela possa ter sido também. Arriscaria a dizer, inclusive, que foi terapêutico para nós, rever algumas dessas vivências e escrever sobre elas.

Tive a oportunidade de ouvir um pouco da versão dela da história com relação a sair de uma turma e entrar em outra (que era a minha), e todo o processo de adaptação que tivemos inicialmente… e ela me disse algumas coisas que me marcaram muito:

Tenho vários relatos de primeira impressão ruim, frustrante e desanimadora que resultaram em ótimas experiências e relações de afeto.

A primeira impressão…não é a que fica!

Foi assim que ela me inspirou o título deste texto.

Bem, deixo então meu convite a reflexão para todos nós...

Cada pessoa é única.

situações que despertam o que há de melhor em nós e, algumas vezes, parece que nos resumimos àquilo, para aquelas pessoas, à primeira vista.

Por outro lado, há outras situações, mais desafiadoras… que ainda não lidamos tão bem. Não conseguimos desempenhar a performance que gostaríamos. Ou, às vezes, nem temos consciência de como melhorar. E, para um observar inicial, desatento, poderia julgar que “somos aquilo ali mesmo”.

Será que somos isso mesmo que nos foi dito que somos?

Quem é você?

Quem sou eu?

Perguntas sem resposta pronta e… aparentemente sem gabarito até o momento.

A verdade é que eu acredito não precisamos “acertar essa questão”. Precisamos apenas deixar sentir. Nos permitir ser o que for mais espontâneo e verdadeiro em nós.

Percebi que, ao me permitir ser, simplesmente, deixar sair de mim a essência… aos poucos… ora aceitando… ora evitando… percebi que esse caminho me auxilia a permitir que os outros também sejam, simplesmente.

É um processo que, pelo menos para mim, acontece em sincronia, no mesmo ritmo. De mim para o outro. E vice-versa.

Essa harmonia constrói uma melodia única. Cada um tem a sua. E cabe a cada um de nós, escolher quais as frequências e o ritmo que desejamos imprimir nessa grande sinfonia, que consiste essencialmente na arte de nos conhecer e nos construir.

Disseram-me que essa melodia se chama autoconhecimento.

E você? Já passou por alguma situação semelhante diante de um contexto novo e desconhecido?

Nessa situação, você se deixou levar pelos relatos e opiniões que lhes foram ditos?

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Leia também: O dia em que eu “senti na pele” uma das maiores lições da faculdade de medicina.

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Luana Reis
A arte de fazer dar tempo

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.