O trabalho e a família: como equilibrá-los na balança da vida?

Reflexões sobre prioridades.

Luana Reis
A arte de fazer dar tempo
7 min readSep 22, 2019

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Quais são as coisas mais essenciais pra você? Pense por uns instantes em uma lista: pessoas, hobbies, objetos, momentos…

Quanto tempo você tem dedicado a cada um desses itens atualmente?

Por acaso, você já se pegou dizendo:

Gostava tanto de fazer isso, mas agora estou sem tempo

Bem, isso já aconteceu comigo várias vezes… “Ah, mas eu quero ser uma boa profissional no futuro! Esses sacrifícios vão valer a pena!” – eu dizia pra mim mesma.

Vão mesmo valer a pena? Até que ponto?

Bem, na última semana, estive diante de uma situação como essa. Esse tipo de desafio, na verdade, acontece com frequência, quase diariamente. E nem sempre as soluções são fáceis de encontrar. Ou nem sempre são satisfatórias.

O contexto foi o seguinte:

Atualmente estou no 11º período de medicina e, nesta última semana, estava concluindo o internato de Urgências e Emergências. Na segunda (16/09/19), eu viria a ter duas provas finais desafiadoras (uma teórica e uma prática), em que seriam distribuídos 80 pontos em um único dia.

No sábado logo após a prova (21/09/19), já estava programada minha viagem para o internato rural (um período do curso em que nós, acadêmicos, formamos duplas e vamos para alguma cidade do interior de Minas, durante 3 meses, para fazer atendimentos médicos na população). Assim, mamãe gostaria que nós tivéssemos um almoço em família na casa do meu irmão no domingo anterior à viagem, dia 15/09/19 (ou seja, na véspera das provas). Seria inclusive um excelente momento para uma “despedida temporária” da minha família, por ser meu último domingo em BH, antes de ir para o norte de minas, em Catuti, há 650 km da capital, uma cidadezinha de 5000 habitantes, sendo a maior parte, zona rural.

Devido à distância da cidade em que irei, não será fácil ficar voltando para casa para visitar minha família e amigos por aqui. Por isso, julguei que ter um momento de “despedida temporária” com cada um seria maravilhoso!

Até aí normal, certo? Mas já vou esclarecer onde se encontrava o problema.

A casa do meu irmão é em Betim, fica distante da minha casa, o tempo de deslocamento gira em torno de 40–50 minutos de carro.

Mas… e as provas? Eu poderia dispor desse tempo nesse momento?

Pensei: se eu for almoçar na casa do meu irmão, considerando toda a matéria que eu ainda precisava estudar, gastaria cerca de 5 horas envolvidas nesse processo (somando deslocamentos, almoço, tempo pra desacelerar e focar nos estudos de novo).

Nossa! Isso me deixou muito ansiosa! Mais do que eu já estava. Principalmente porque durante o dia é o momento em que eu mais rendo nos estudos. Eu sou, basicamente, uma “pessoa matutina”. Gosto de dormir mais cedo e acordar mais cedo pra aproveitar melhor o dia e, quando chega à noite, já não estou muito mais produtiva.

Como eu faria então? Seria meu último domingo de família antes de eu viajar e precisava muito estudar também!

Por uns instantes meu coração apertou, minha cabeça deu um nó…! Mas logo comecei a buscar soluções.

Na primeira tentativa, verifiquei se meu irmão poderia vir à minha casa, com sua esposa e seus três filhos lindos (duas moças e um rapazinho), ao invés de nós irmos para lá. Assim, eu “economizaria” todo o tempo de deslocamento, de me arrumar pra sair e me desacelerar após chegar em casa. Porém, por alguns motivos, eles me explicaram como seria complicado, e até inviável, isso acontecer naquele dia.

Em um segundo momento, dolorosamente considerei que talvez não desse para vê-los. E que, nesse caso, por mais que eu tentasse equilibrar “vida pessoal e estudos”, dessa vez os estudos iam vencer.

O que fazer quando se está prestes a ter uma prova importante, mas passar tempo com a família também é importante?

Até que, ainda no sábado antes da prova, dia 14/09, eu acordei cedo pela manhã e, primeiramente, fui à academia, para dar aquela relaxada e já começar o dia com o pé direito.

Você poderia até se perguntar:

“Mas moça, você já está no dilema família X estudos e ainda vai na academia ao invés de estudar bastante?”

Essa é uma pergunta retórica que sempre surge em minha mente. Mas como tudo na vida, sempre há um custo e um benefício. Acredito que, a partir disso, devemos buscar sabiamente nossas melhores escolhas, em outras palavras: nossas prioridades.

Como já contei melhor no texto “A história de como atividade física se tornou um hábito para mim”, a prática de exercícios não é um tempo que eu gasto, mas pelo contrário, é a um tempo que eu invisto. Consiste naquela hora do dia que eu invisto para esquecer os problemas e as dores da vida, entro em modo difuso e deixo minha mente se renovar, enquanto meu corpo trabalha.

E o que aconteceu nessa minha ida à academia comprova, mais uma vez, o benefício real dessa escolha.

Já aconteceu com você de ter um grande insight sobre um problema complicado justamente no momento que você faz uma pausa? Seja para tomar banho, comer, olhar para o nada ou dar uma caminhada?

Justamente! Estava eu durante meus exercícios e, subitamente, chegou a ideia! Como um presente do meu subconsciente, que nunca para de trabalhar, enquanto o meu consciente estava em stand-by.

Considerando que o meu melhor momento para estudar é durante o dia, enquanto à noite, em geral, eu já estou cansada e fadigada (sou matutina lembra?), e se eu fosse visitar meu irmão e passar tempo com a minha família no período da noite ao invés de durante o almoço?

Eureka! Aparentente aquilo resolveria todo o problema!

Acabei de malhar e, animadamente, cheguei em casa e logo apresentei minha proposta para minha mãe! Para minha grande sorte, todos se compadeceram com meus motivos e toparam o plano, sem qualquer perda.

Dito e feito. Naquele mesmo sábado à noite (umas 18h) após eu estudar bastante durante o dia (entre pomodoros e flash cards), até ficar extasiada, fomos à casa do meu irmão, fizemos um bom lanche e eu pude ter um tempo de qualidade com minha família, sem prejudicar os meus estudos.

Você já vivenciou dilemas como esse? Como você lidou com eles?

Após cada dilema desses (como no texto “O que pude aprender sobre prioridades nesse dia das mães”), sinto que sempre aprendo um pouco mais sobre como gerir aquilo que é essencial em minha vida! Aquilo que não dá para abrir mão.

A vida passa… passa…

E, muitas vezes, acreditamos que ainda haverá tempo para desfrutar daquilo que ainda não foi possível viver.

Será mesmo?

Eu tento exercitar esse questionamento sempre que posso (“Você tem vivido como se nunca fosse morrer?”). Quando aquele incomodo surge em meu coração, como na história que contei acima, percebo que estou diante de um contexto em que prioridades foram colocadas em risco.

A preparação para as provas, o trabalho, muitas vezes, pode ser adiada apenas até certo ponto, pois, mais cedo ou mais tarde, é chegada a hora, a data do exame ou da tarefa. E então precisamos nos empenhar para garantir que estaremos preparados no dia da avaliação!

Mas e a preparação para o tempo com a família? Tempo para o lazer? Para o autocuidado?

Nesse caso, a vida às vezes vem cobrar, sem aviso. Pode vir a doença, ou o fato repetindo, inesperado, em que tudo muda. Como saber quando será?

Percebi que não haverá de fato como prever. Esse evento não está disponível em nosso calendário. Há coisas na vida que não dependem de nós. Mas… e quanto àquilo que cabe a nós? Nesse caso, recorro ao Francisco de Assis, e finalizo com sua reflexão :

“Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado…

Resignação para aceitar o que não pode ser mudado…

E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”

Que possamos, então, saber selecionar sabiamente as atividades realizadas em nosso dia-a-dia e investir nosso tempo, com qualidade, para aquilo que for prioridade para nós.

E você? O que achou dessas reflexões? Adoraria saber se você também compartilha de dilemas como esses!

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Luana Reis
A arte de fazer dar tempo

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.