Sobre viajar e se entregar totalmente àquele momento

Há tempos de trabalho… há tempos de descanso… a vida segue seu fluxo e solicita a sabedoria para diferenciá-los.

Luana Reis
A arte de fazer dar tempo
8 min readJul 28, 2019

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Alguma vez você já saiu para uma viagem, um passeio ou um pequeno recesso do trabalho e, apesar de estar cansado(a), saturado(a) de tarefas, teve grande dificuldade de desligar a mente das suas obrigações e responsabilidades?

E em algum desses pequenos breaks, você já teve a intenção de levar tarefas para serem realizadas durante a viagem?

Bem, não vou negar, eu mesma já tive essa intenção algumas vezes. Pessoalmente, devo confessar que, em quase nenhuma delas, deu certo. Na verdade, dava muito errado! Acontecia o seguinte:

Não conseguia estudar, pois estava viajando diante de muitos estímulos relativos àquele momento. Porém, não me entregava totalmente, e ficava lembrando daquelas tarefas em aberto.

E qual foi o resultado desse esforço desajeitado?

Exatamente. Voltei do “descanso”, cansada. Como pode isso?

Sabe outra situação interessante que já sofri com essa mesma angústia? Almoço de domingo com a família em semana de prova.

Muitas vezes, ficava ambivalente: estudar? Curtir a família? Pensava: Ah! Vou fazer os dois.

Dava certo? Bem, não sei qual é a sua experiência, mas já vou revelar logo: quase sempre era muito improdutivo e cansativo!

Isso é o que eu chamo:

Descansar pensando em trabalhar. Trabalhar pensando em descansar. E nada fica em seu lugar.

Já aconteceu com você?

Bem, tenho uma história para contar…

Neste último final de semana, estive em Curitiba-PR para o casamento de uma amiga de infância de meu namorado, o Peu. Não estamos de férias e, na posição de acadêmicos de medicina do sexto ano, sempre há tarefas a FAZER, em aberto.

Parque Tanguá — um passeio turístico clássico e considerado “obrigatório” para quem visita a cidade. Foto tirada por um desconhecido gentil que passava.

Após experienciar essa viagem de forma única, percebi que, esses momentos em Curitiba, representaram o resultado de um processo interno e de uma busca que vivenciei nos últimos 3 anos da minha vida.

Gostaria de compartilhar algumas reflexões…

Na varanda da minha casa… 🧘‍♀️

Em eras de revolução da informação, globalização, smartphones, Big data, redes sociais, Google… vai e vai… mais e mais!

O fluxo segue! Tudo acontece de forma acelerada, na velocidade do Wi-fi (depende do seu Wi-fi haha). No instante em que buscamos uma pergunta, já desejamos a resposta. No instante em que procuramos por alguém, desejamos encontrá-lo.

E vem o questionamento:

Como posso aproveitar cada instante? Será que estou perdendo tempo?

Já estava prestes a ser engolida por mim mesma. Sofrendo os impactos desse processo, aparentemente individual (ou coletivo?), em minha saúde física e mental. Até que comecei a buscar por conteúdos e leituras relacionados a uma palavra que você muito possivelmente já ouviu falar: Mindfulness, em português, a Atenção Plena.

Foi então que, durante a leitura do livro “As coisas que você só vê quando desacelera”, do Haemin Sunim (um presente de aniversário amável da Paty), fui surpreendida pela seguinte pergunta:

Impactada por essa reflexão, propus-me o desafio:

E se eu tentar me DESACELERAR, de DENTRO para FORA?

Progredindo nessa busca, conheci o TED talk: “All it takes is 10 mindful minutes”, do Andy Puddicombe.

Andy, em sua palestra, indaga:

Quando foi a última vez que você conseguiu parar alguns instantes, que seja 10 minutos, para não fazer NADA? Simplesmente NADA.

Parei. Refleti. É… fazia tempo que não me permitia PARAR.

Depois de algum tempo… minha mentalidade começava a se modificar aos poucos.

A mente… já estava se ampliando. As atitudes, ainda resistentes, mas já estavam prontas para construir algo diferente. Mais suave, mais sereno, mais presente.

Após algum tempo, em um cafezinho com um amigo da faculdade, Léo Tostes, ele me ensinou os seguintes conceitos:

Existe o estado de SER e o estado de FAZER. Durante a maior parte do tempo, muitos de nós ficamos predominantemente no estado de FAZER: “Como posso aproveitar esse instante? Qual a próxima tarefa que irei fazer?”

Desse modo, acabamos por suprimir o estado do SER, um estado meditativo em que estamos totalmente presentes.

Observando-me, não foi difícil perceber que minha mente estava posicionada no estado FAZER quase todo tempo, pulando de tarefa em tarefa incansavelmente.

E, apesar de progredir um pouco mais na compreensão racional desses conceitos, confesso que ainda há muito que progredir em minhas condutas e posturas.

Ao tentar inserir o hábito da meditação em meu dia-a-dia, e tentar silenciar a minha mente por alguns instantes, logo surgia aquela forte ansiedade, os pensamentos vinhamvinham

Durante o dia, quando o silêncio se instituía, muitas vezes o impulso de pegar o celular dominava ou pensava “o que mais precisa ser feito?” e, mais uma vez, o estado SER ficava para depois. Oculto.

Após uma série de processos internos e situações vividas, desde adoecimentos frequentes (gastrite, amigdalites), impactos de privação de sono, até perceber que estava deixando hábitos amáveis para trás devido à faculdade (violão, leitura, família, amigos), decidi dar um BASTA! Parei e me perguntei:

Será que depois que o tempo passar, haverá tempo de ser feliz?

Encontrei essa pergunta no livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, da Dra Ana Claudia Arantes (clique para assistir seu TEDx Talks, de mesmo título do livro).

E se não houver depois?

Mesmo se sua crença for de que existe vida após a morte, ou reencarnação (como é o meu caso), faz sentido deixar a felicidade para depois? Até que ponto?

Bem, decidi que, como já dizia o poeta (não encontrei o autor na internet):

Não deixe para amanhã, o que você pode fazer HOJE.

Decidi levar esse conselho a sério. Meu primeiro despertar nesse sentido, ocorreu no início de 2017 (estava na metade do curso de medicina), após uma conversa com um professor de psiquiatria da faculdade. Conto melhor sobre esse diálogo no texto: “A história de um conselho que fez tudo mudar.”

O auge desse processo se deu após conhecer um dos 4 livros que mais trouxe impacto e transformação em minha mentalidade e atitudes até hoje: o poder do AGORA, do Eckhart Tolle.

Se deseja conhecer os outros 3 livros 📚 que também foram extremamente importantes para mim, conto um mais sobre eles no texto: “Ler é como pegar o pedacinho de cada autor para construir quem você é”.

Diante de todas essas reflexões e conteúdos, o que ficou de mais significativo para mim foi:

Estamos tão ocupados com as circunstâncias da vida (trabalho, aparência, bens materiais) que, muitas vezes, nos perdemos daquilo que é realmente ESSENCIAL para nós.

Não sei qual sua vivência em relação a isso, ou qual sua rotina. Mas, em meu caso, percebi que as tarefas não vão terminar, as obrigações não irão ficar mais leves (pelo contrário haha), assim, eu teria que encontrar um meio de encaixar, em meus dias, a partir de agora, atividades que trouxessem bem estar, lazer, descanso, que fossem essenciais, tão importantes ou mais que o trabalho e o estudo.

Voltando à Curitiba…

Bem, trata-se de uma viagem que ocorreu recentemente (há uma semana), no meio do período letivo. Dessa vez, após todos esses processo e reflexões internas que relatei, eu fiz deliberadamente a escolha:

Entregar-me totalmente àquele momento!

Parque Barigui. Como se pode perceber, Curitiba é cheia de belos parques! Haha ♥️

Chegamos lá na sexta à noite, dia 19/07/19, e voltamos na segunda à noite, 22/07/19, com muitas histórias para contar!

No Bar do Alemão com nosso amigo Augusto que nos recebeu e nos hospedou gentilmente em sua residência!

Lembrando que teve casamento para ir arrumadinha e elegante:

Após retornar, percebi que ter aproveitado esse instante de descanso, para descansar PLENAMENTE, foi essencial para recarregar minhas baterias, disposição e bem estar. Valeu totalmente a pena.

Tudo vale a pena se a alma não é pequena. — Fernando Pessoa

Afinal, nem só de trabalho vive o homem, a busca pelo equilíbrio é essencial e necessária.

Retornando ao TED talk do Andy, mencionado acima, ao final de sua breve palestra sobre meditação, ele afirma:

“Tudo o que você precisa fazer é reservar 10 min por dia para desacelerar e familiarizar-se com o momento presente. Esse movimento nos permite trazer uma nova perspectiva, de foco, calma e clareza em sua vida.” — Andy Puddicombe

Acredito que não é preciso muito para encontrar pequenos momentos de paz em meio a tanta correria. Não precisa ser um final de semana viajando, ou um dia inteiro passeando, às vezes, 10 minutos de silêncio e paz para desacelerar, já podem ser de grande impacto! Penso que o problema está no desequilíbrio, que consiste na total ausência dessas singelas e breves alegrias em nosso dia-a-dia.

Finalizo, portanto, fazendo um convite a você! Sei que a vida nem sempre é fácil, e nem sempre parece ter momentos de pausa, para respirar, para curtir uma tarde tranquila, para estar com quem se ama. Apesar de tudo isso, pergunte-se:

Como será que a nossa vida se transformaria se buscássemos nos entregar ao momento presente, ao instante do AGORA?

“Onde quer que você esteja, esteja por inteiro!” — Eckhart Tolle

E você o que acha dessas reflexões? Seria um prazer compartilhar um pouco de sua história. Deixe seu comentário ou entre em contato: @luana_reis_m ou luanareism@gmail.com.

Leia também: “Tempo é questão de PRIORIDADE! Como é isso na prática?”

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Luana Reis
A arte de fazer dar tempo

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.