Você se compara muito aos outros?

Seria possível transformar a comparação em inspiração?

Luana Reis
A arte de fazer dar tempo
7 min readOct 13, 2019

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Você já se pegou observando um colega de trabalho, um amigo ou familiar atingindo uma grande conquista ou grande aquisição e sentiu aquela “pontadinha no coração” dizendo:

Quem me dera… queria que fosse comigo!

Vamos fazer um pacto de que ficará só entre nós, ok? Pois sabemos bem que esse sentimento não é considerado dos mais nobres, não é mesmo?

Inveja (s.m)

Desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia.

Não me entenda mal. Não estou dizendo que você ou eu fazemos isso com más intenções, ou desejando qualquer coisa negativa ao outro.

Pelo contrário, em meu caso posso dizer que o que mais predominou sempre foram os sentimentos mais positivos! De alegria mesmo pela conquista e o bem estar do outro, principalmente quando se trata de alguém muito querido.

Arrisco-me a dizer inclusive que, por muitos de nós compartilharmos desse sentimento, a sociedade elaborou um termo para descrevê-lo:

Inveja branca.

Considerada a inveja “boa”, do bem.

Mas… será que existe isso de fato em sua essência?

Não sei dizer. Talvez não. Talvez seja uma desculpa para não aceitar o que se sente…

Bem, considero essa a parte racional e, em geral, mais simples de lidar.

Mas… e com relação àquela parte emocional mais interna, aquela que deseja (alguns diriam cobiça) o “belo jardim do vizinho”?

Existe essa voz interna em você? Como você tem lidado com ela?

Acredito que esse é um processo interno muito pessoal. Desse modo, optei por me abrir e contar um pouco de algumas histórias de como esses contextos se deram para mim ao longo da vida, e alguns aprendizados que pude ter nesse processo.

Há lembranças de algumas dores, fracassos ou falhas que podem deixar alguns acontecimentos mais marcantes para nós…

Lembro-me das vezes que me senti rejeitada ou preterida em relações de afeto.

Lembro-me de quando me sai pior em alguma prova em relação a algum(a) colega…

Recordo-me de quando algum amigo(a) foi aprovado em um processo seletivo. Mas eu não.

De quando não fiquei no time titular do campeonato.

Ou quando não fui reconhecida a despeito do grande esforço que tive em certa empreitada. Mas algum colega que “aparentemente” tinha feito menos, foi mais bem avaliado.

Quando o outro conseguiu uma boa oportunidade por ter uma habilidade que eu gostaria de desenvolver…

Quando simplesmente não consegui atingir às minhas próprias expectativas internas sobre o meu próprio desempenho.

Eu falhei. Não consegui há tempo. Não consegui me segurar.

Me preparei… mentalizei… mas não deu. Enquanto alguém havia conseguido.

Lembra do nosso pacto sobre ficar só entre nós?

A verdade é que não sei como é isso pra você, como se sente diante dessas mesmas situações. Normalmente, pelo menos em minha percepção, não se fala de temas como esses… você tambem observa isso?

É doloroso, é vulnerável. Como Flaira Ferro diz em sua música que considero lindíssima e profunda “Me curar de mim” (clique para escutar), recomendo ouvi-la de olhos fechados com atenção:

Sou a maldade em crise tendo que reconhecer as fraquezas de um lado que nem todo mundo vê. Fiz em mim uma faxina e encontrei no meu umbigo o meu próprio inimigo que adoece na rotina.

Eu quero me curar de mim… Quero me curar de mim. (…)

Sou má, sou mentirosa, vaidosa e invejosa, sou mesquinha, grão de areia, boba e preconceituosa.

Sou carente, amostrada, dou sorrisos, sou corrupta, malandra, fofoqueira, moralista, interesseira.

E dói, dói, dói me expor assim. Dói, dói, dói, despir-se assim.

Eu quero me curar de mim… Quero me curar de mim. (…)

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Autoconhecimento.

Processo árduo. Às vezes difícil. Muitas vezes libertador.

Uma longa caminhada pra nos lapidar, nos construir. Desvendar nossas potencialidades.

Que fazeis de especial?

Gostaria de fazer um adendo: caso você já tenha lido outros textos meus publicados, talvez tenha notado que não aprofundei ou detalhei nenhum dos exemplos acima. Acredito que o motivo possa estar relacionado ao fato de eu não lidar tão bem ainda com alguns deles.

Como no incrível TED talk o “O Poder da Vulnerabilidade – Brené Brown” (Clique para assistir um dos 3 TEDs mais assistidos da história), que trata sobre a coragem de ser imperfeito:

Aquilo que te torna vulnerável, também te torna belo.

Diante de diversos eventos como os citados, em que pude perceber potencialidades e qualidades no outro e, de alguma forma, desejá-las, após algumas reflexões, decidi me abrir para um novo olhar, para uma nova leitura de cada uma dessas situações.

Assim, eu me perguntei:

E se esses sentimentos fossem melhor calibrados e equilibrados, seria possível transformar a comparação “potencialmente maléfica” em algo positivo? Algo que levasse ao meu crescimento?

A partir disso, agucei minhas lembranças para algumas dessas vivências e consegui me lembrar da continuação de várias delas…

De quando eu aprendi a me relacionar melhor após alguma rejeição ou discussão, seguida de conversas e pedidos de desculpas.

De quando eu busquei observar melhor esses colegas que, por vezes, tiveram um melhor desempenho em provas do que eu, perguntando-me: como eles estudam? O que eles fazem que dá certo para eles? Será que pode funcionar para mim?

E também quando eu tomei coragem de pedir ajuda e sugestões àqueles com quem eu mais me comparava, mas também, mais admirava. Assim, eu poderia, quem sabe, finalmente desenvolver aquelas habilidades tão desejadas, capazes de me proporcionar as tais oportunidades almejadas.

Busquei treinar mais no esporte, na corrida e na academia, inspirada por colegas que tinham uma melhor performance.

Principalmente quando, por outro lado, eu tive o insight de que talvez aquilo não se adequasse a mim… pelo menos não da forma como se adequava ao outro. E que tudo bem.

Desse modo, ao perceber o que o outro faz de bom, em lugar de dar vazão à comparação, à inveja, à cobiça, e se eu desse lugar a seguinte pergunta:

Isso se aplica a mim?

Se sim… Como isso poderia acontecer?

Se não… haveria alguma outra forma de isso se encaixar em meu contexto, em meu jeito de ser, em meus valores?

Foi então que pude começar a aprender um pouco mais sobre a minha própria individualidade. E a individualidade do outro também.

E volto a minha indagação inicial:

Seria possível transformar a comparação em inspiração?

Dentro disso, eu entendo que o ambiente em que estamos inseridos de fato pode ser um grande determinante em nosso desenvolvimento.

Há ambientes que, se permitirmos, podem fazer com que nos sintamos limitados, abafados, julgados, diminuídos.

Por outro lado, há ambientes que podem ser capazes de nos impulsionar, nos estimular e promover nosso crescimento.

Em minha percepção, o convívio com pessoas competentes e boas no que fazem, inclusive melhor do que nós em várias aspectos, pode ser um ambiente fértil para nos desafiar e nos impulsionar a buscar melhorias sempre.

Há talentos que talvez nem chegássemos a descobrir se não fôssemos estimulados de alguma forma, por algum incômodo, por observação alheia ou por alguma dificuldade pessoal.

Um grande exemplo disso em minha trajetória é o GEDAAM (Grupo de Estudos em Didática aplicada à Medicina) clique para ir ao perfil deles. Trata-se de um grupo que faço parte na faculdade há cerca de 3 anos, onde pude conviver com diversas pessoas incríveis até hoje. Sem dúvida, várias delas me inspiraram em diversas melhorias tanto pessoais e acadêmicas.

Bem… Qual será o principal determinante em diferenciar esses dois contextos: o que nos limita e o que nos impulsiona?

Não sei o que você pensa sobre isso, mas eu acredito que o principal fator seja nós mesmos. Tanto a nossa própria percepção diante dos acontecimentos, como as nossas escolhas em estar em certos contextos, que podem ou não se afinizar com nossos valores.

Claro que há fatores externos que também podem ser muito significativos, podendo favorecer ou dificultar bastante a nossa experiência… mas, ainda assim, eu vejo o fator individual como o principal, o mais forte.

Jean Paul Sartre dizia:

Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com o que fizeram de você.

Para esclarecer melhor como eu entendo isso, se me permite, gostaria de reelaborar um pouco a frase acima segundo a minha ótica: eu diria que todos os elementos importam. O que fizeram com você é e será sim um grande determinante no processo.

Contudo… quem sabe se o nosso papel, nossas perspectivas e nossas ações não possam ser realmente os fatores mais significativos em cada contexto?

Eu estou buscando acreditar que sim. Não apenas em ideias, mas também em atitudes.

Perceba que, ao assumir essa postura, tornamo-nos protagonistas no processo. Em lugar de potenciais vítimas da situação, passamos a ser também responsáveis pelo efeito que cada vivência opera em nós.

Esses são apenas alguns pensamentos que tive sobre o assunto…fazem sentido para você também?

Portanto, gostaria de finalizar essa reflexão, deixando algumas indagações em aberto. Desejo fazer um convite a você (e a mim mesma) para que olhe um pouco para dentro de si, e também ao seu redor.

Diante de tudo o que você tem vivido e experienciado: o que você tem feito com o que fizeram de você?

E você? Já se sentiu dessa forma? Como você lidou? Gostaria de saber!

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Luana Reis
A arte de fazer dar tempo

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.