Beleza que cativa

Allen Ribeiro Porto
A Bíblia, o Jornal e a Caneta
3 min readJul 10, 2019

A igreja local ou o grupo cristão deve estar correto em seu ensino, mas também deve ser belo. (Francis Schaeffer)

Você já parou para imaginar porque ficamos maravilhados diante de um pôr do sol estonteante, de uma lua cheia que brilha com força, de um quadro bem pintado ou de uma pessoa linda?

De certa forma, ficamos paralisados, cativados pelo que vemos, e dedicamos algum tempo para, simplesmente, contemplar.

Esse é o impacto que a beleza causa em nós.

De onde vem isso?

A resposta mais simples e direta é que fomos criados assim. Somos imagem e semelhança de um Deus que ama a beleza, e carregamos, em nosso coração, o “anseio pela eternidade” — um desejo pela plenitude e perfeição, cujo brilho é percebido através de cada peça carregada de beleza.

Se isso é verdade sobre pinturas e paisagens, também é verdade sobre os relacionamentos. Relacionamentos belos são revigorantes e atraentes.

Não confunda relacionamentos belos com relacionamentos perfeitos. Nenhum relacionamento atingirá o status de perfeição desse lado da eternidade. Mas, assim como existe uma beleza indescritível na criança que está aprendendo a andar e só consegue dar uns passos desajeitados, existe beleza indescritível em relacionamentos imperfeitos que caminham para o crescimento.

A beleza em nossos relacionamentos é tanto dada quanto cultivada.

Inicialmente, a beleza é dada: é resultado da ação de Deus em nós, quando experimentamos aquela reintegração que o evangelho produz em nosso coração. É Deus quem me envolve em Seu amor e me ensina a amar; é Deus quem me perdoa e me ensina a perdoar; é Deus quem escolhe me servir e me ensina a fazer o mesmo; é Deus quem me confronta em meus erros e me encoraja a fazer isso com os outros. Pessoas que não foram reintegradas pelo evangelho podem expressar traços de beleza e maturidade, mas sem um coração transformado, ainda somos escravos de nossos desejos idólatras e mesquinhos.

Enquanto não formos reintegrados pelo evangelho, nossos relacionamentos serão marcados por disputas de poder, cobranças desmedidas, expressões de desrespeito, vingança e ressentimento, incapacidade de ouvir e servir, egoísmo e narcisismo, e uma terrível lógica de consumo, estabelecendo que o relacionamento só tem valor enquanto me trouxer algum benefício visível.

Esse tipo de dinâmica relacional corrói o nosso coração, e também faz mal ao entorno.

Mas quando somos encontrados pela graça, ah! quanta diferença! Somos libertos de nós mesmos, e assim podemos amar mais e depender menos dos outros. Não seremos controlados pelo humor do outro, por respostas ruins e palavras duras, nem mesmo pelo desprezo. Teremos liberdade para amar, e esse amor que vem da graça trará uma beleza cativante para a relação.

Mas, assim como a beleza é dada, ela também deve ser cultivada. Uma mentalidade romântica nos faria ficar esperando o dia perfeito em que fôssemos transformados automaticamente em pessoas perdoadoras, graciosas, pacientes e justas. Mas, na Bíblia, Deus trabalha gradativamente em nós, e demanda que nos exercitemos na piedade. Deus reintegra o nosso coração fragmentado, mas a mudança não é automática. À medida em que Deus nos refaz e refaz os nossos relacionamentos, Ele também ordena que exercitemos os hábitos que cultivam a beleza nas relações.

Isso significa que precisamos ser intencionais na manifestação do perdão e serviço — mesmo quando não sentirmos a vontade de fazê-los.

E aqui está um maravilhoso paradoxo: ao servir mesmo sem vontade, cultivamos a beleza no relacionamento, que transformará o nosso coração e conquistará o outro.

Assim como os relacionamentos feios prejudicam o seu entorno, os relacionamentos belos influenciam o seu ambiente. Eles são fonte de vida e encorajamento, eles são cativantes como o brilho do luar; e eles apontam para o Deus que transforma pecadores egoístas em servos amorosos.

Você está sendo restaurado pelo evangelho? Está cultivando beleza em seus relacionamentos?

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Allen Ribeiro Porto
A Bíblia, o Jornal e a Caneta

Allen Porto é pastor presbiteriano na cidade de São José do Rio Preto, SP. É casado com Ivonete, e pai de Matias e de Lúcia.