A primeira vez como tragédia, a segunda como farsa

Porque não devemos nada a Hitler

M. Vicente
A Belavista
3 min readJan 19, 2020

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Após a fala infeliz do ex-ministro da cultura Roberto Alvim — reutilizando uma citação de Gobbels — ficou mais forte e popular a comparação entre Biroliro e Hitler. Aqui não faremos um estudo das semelhanças, mas sim um alerta de como essa comparação é perigosa.

“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Afirma Karl Marx ao fazer a análise de conjuntura do 18 de Brumário, discorrendo sobre a passagem dos Bonaparte pelo poder.

É por estar em um período de farsa que se faz necessário conter os impulsos de, mais uma vez, tomar posições reativas a partir de como a mídia trata os fatos históricos. Os jornais — e influenciadores de internet — têm utilizado as tags “nazismo” e “Hitler” em um afã de atrair pra si o sucesso de ter reinventado a roda com afirmações bastante pueris. São apenas iscas para cliques e compartilhamentos.

É preciso entender que vivemos um sistema completamente distinto da Alemanha nazista e, dar esse valor histórico a figura do presidente em exercício é um erro. Desse modo ao invés de destruir sua imagem estamos o colocando em um pedestal histórico, o qual a figura não merece.

Se assim continuarmos vamos apontar um caminho exato a quem quer se aliar a esse tipo de discurso, vamos de fato dizer que Biroliro, ao invés de um mandato populista nunca dantes visto, está, de fato, trabalhando sob uma ideologia de nação muito bem embasada com um objetivo claro. No caso de nosso governo, as cartas vão sendo dadas e tanto o objetivo quanto a estratégia mudam de acordo com a vontade do idiota que está no poder.

Biroliro é um homem limitado e rancoroso que atua em um cenário favorável a execução de seu show de horrores; trabalha numa democracia jovem e desestabilizada pelas políticas imperialistas internacionais. Ascende sua família e seus cartéis jogando para seus eleitores migalhas via Twitter. Nos distrai com o que sabem que nos tira o sono.

Nenhum elogio ao Hitler deve ser feito, essa não é a intenção. Mas é necessário analisar o peso histórico dos fatos e das figuras que o representam para não criarmos novos “heróis”. Bolsonaro é um latino americano desterritorializado e subserviente.

Todo o esforço destinado a entender a frequência de nosso tempo é porque nosso Hitler pode ser outro, ou outra coisa. E no entanto cá estamos, mais uma vez, nos distraindo com salamitos e netflix.

Colagem autoral

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M. Vicente
A Belavista

UX/ Service Designer na PagSeguro e pesquisadora mestranda do Programa de Integração Latino Americana da Universidade de São Paulo. www.marianavicente.com.br