N̴̷̡̨̬̯̱̯͚͛͌ͫ̍ͪ̀͢ͅ ̧̛̛͍̺̱̝̹̤͖͎̖͓̝̜̘̰̱͔̲͗̿́̐̀Ủ̻̩̭̻͕̯̍ͤͮ́̐͐͑̐̀͝͡ ̵̸̡̛̣͉͔̙̻̳̤̩̙̞̘̫̜̱̘̬ͭͯ͑̓D̵̪͙̖̥͇̘̗̮̄͌̇̉̔͐̏͗̈́̂͛͂͐ͦ̈ͯ̂̂̕͢͟͞ ̴̡̞͖̬̣̗͓͓̘̠̩̿̎ͦ̽ͦ̓ͭͪ̅̋͆ͬ̃̈̊ͪ͢͡E̡̟̳̟̲̥̗̘̺̼͌ͥ̒̋͊͛̈͋͊ͦ̃̍̀͞ ͑̅ͧ͊ͥ̿̋ͣͤ̔͋ͤ͒̈́͌̋̇̚͢͏̪̘̞̖̥̜̟̱̻̱̯̻̠͔̭͙͝S̵͓͕͇͔̭͇̫̓ͮͩ͟ͅͅ

E̵̢̛̛̳̤̯͈̝̲̗̻̰̩͚͉͖̊̓͂̔̈́̂̃̚͟ú̴̫̜̟̦̭͙̜̦̼̟͈̞̈́͆ͦ͂̔̎ͪͥͥͤ̀

Rodrigo Moon
A Casu
Published in
18 min readMay 31, 2017

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Mais um texto, mais uma brisa. Hoje pretendo discorrer mais sobre o famigerado eu, nossa individualidade e quem sabe o caso de OUTREM, pautando, assim (como em todo texto filosófico eu puxo a sardinha pro Design), sobre cooperação e sistemas de colaboração, no intuito de desenvolver trabalhos transdisciplinares.

eu | pronome pessoal de dois gêneros(1) | substantivo masculino (2 e 3)

1. A minha pessoa. | 2. O ente consciente; a consciência. | 3. [Informal] Minha pessoa.

Como substantivo, admite o plural eus.

A história do Eu é mais longa do que parece. Desde o início da filosofia, pergunta-se sobre o Eu. É claro, porém, para todos, o que ele é: eu. Mas como gosto de ir além, acompanha-me? Vamos tomar exemplos práticos:

Dá um play M̥̱̬̰̭͔̼͐̑̋̈ͤ̃̋̂̎̈́̀̌͟ͅa̬̜̗̳̝͇̭͙͍̘ͭ̓̉͊̂͌̀͡͠r̷̟̝̮̞̫̘̖̪͎͈͖̗̞̯ͭ̂͂͑͂̉ͭ͌ͪ̃́o͉͍͍̭̭̙͎͇̻̥ͧ̔̐͒̾̓ͬ̽̋ͣ̔ͣ͌̏̑̀̀ţ̸̸̥͈̦̝̦̱̰̘̬̘̙̜͍͕̙̗̗̿̓͒ͥͅǫ̵̞̳͙̹͍͎̮̭͔͖͈̭̤̙͌͒͑̎ͨ̒̆ͫ̾̽̏ͧ̒ͯͨ̈͠ͅ

Eu adoro ir ao cinema

Eu penso, logo, existo.

Quem é o sujeito da oração? O Eu. E quem representa o papel dele? … Agora as coisas complicam um pouco. Deleuze diz que o eu é diferençação individualizante. O que ele quer dizer com isso? Vamos abstrair qualquer juízo de valores sobre palavras, exemplos práticos, e nos ater meramente ao que a palavra nos fornece: de seu uso, posso entender que “Eu” remete ao sujeito, quem pratica, quem é, quem existe. Mas para isso existem também o ente e o ser. Vamos ver o que são estes:

“Pode-se dizer que, em sua acepção mais radical, ente é Tudo aquilo que existe, uma vez que o método clássico de definição por gênero próximo e diferença específica é inaplicável ao ente, que é a mais universal de todas as noções, mormente, tudo que existe pode ser categorizado como “ente”, inclusive figuras abstratas como as virtudes, os sentimentos, e os números, ou ainda noções coletivas, como Estado, Sociedade, etc. (Entes de razão). Em sentido ainda mais acurado, em contraposição ao Ser, o ente pode ser descrito como o ser determinado, uma vez que a filosofia clássica situa as determinações (ou acidentes) como não apenas aquilo que constitui uma, ou várias, propriedades ou atributos do sujeito (mesmo que não lhe sejam essenciais), mas também como Limitação, cuja existência só pode ser definida em função de outro ser (nesta caso, a substância). Neste aspecto, as categorias são atributos, ou acidentes, do ente substancial, e o ente é definido como Ser determinado, uma vez que não pode possuir todos os acidentes da mesma forma e ao mesmo tempo.

Inúmeros filósofos atuais insistem na necessidade de diferenciar entre “Ser” e “Ente”, dentre eles Heidegger, que mais recentemente destacou as diferenças entre a problemática do ente (ôntico) e a problemática do ser (ontológica), justificando ainda que a ontologia clássica não é aplicável ao ser (“Sein und Zeit” — Ser e o tempo, em português), uma vez que o ser (“Sein”) é prévio aos entes (“Seienden” — Seres). Assim, apenas a análise existencial do ente, que pergunta pelo Ser-aí (o Dasein — Existência, ou estar aí/ali) pode realmente compreender em seu âmago o sentido do ser.”

M̴̈͆͋̂ͪͧ̎ͪͮ͗͐̋̚͏͖̘͙̜͉͈͎͈͓͙̭̭̮͎̤̯͍̯̝Ȩ̛̣̙̩͖̰̪̈́̐ͦͮ̒ͩ͛̔͊ͣͨ͒̐̚̕͢D̡̺̞͈͎̻͚̤̩̠̝͖̬͖͈̬̎̑ͤ͒̐͛̓ͥͤ̿̆̈́͐ͩͦ̌̓́̚Ï̧̛̖̗̻̻͖̫͖̖͔̰ͧ̓͊ͪ̅͂̉ͬͨ̃͛́̇ͣ͌͟͡

W-O-W. Ok, acho que entendemos brevemente que a diferença entre ente e ser se dá pela abrangência das palavras. Desta forma digo, e mais tarde explico, que todo eu é um ente. Já disse em outros textos que tudo é questão de perspectiva. Veremos também o solipsismo.

Vamos recapitular esta grande citação acima: quer dizer que o eu pode remeter ao ser. Mas, como ela mesma diz, o ser é indeterminável, ou seja, ele apenas o é. Númeno. Nos ateremos então ao ente. E a parte que fala que “não pode possuir todos os acidentes da mesma forma e ao mesmo tempo”? Quer dizer que o Ser o é múltiplo num tempo só — o tempo eterno — e o Ente, determinado, é o Ser que, por meio dos acidentes/acaso se determinou em um estado. Já o Eu, se refere a consciência subjetiva, distinguindo-se, então, de outrem. Esta é a multiplicidade que venho falando, bem como relacionado ao campo de imanência, ao acaso, à diferença, e assim vai. Meio que tudo é conectado numa rede complexa.

“Chamamos de fatores individuantes o conjunto dessas intensidades envolventes e envolvidas, dessas diferenças individuantes e individuais, que não param de penetrar umas nas outras através dos campos de individuação. A individualidade não é o caráter do Eu, mas, ao contrário, forma e nutre o sistema do Eu dissolvido.” (DELEUZE)

Adoro quando eu falo algo e depois continuo lendo e vejo palavras parecidas e conceitos similares. É a questão do eu dissolvido. Pera, volta um pouco. Ainda não entendeu o que é o Eu? Se você busca palavras que o definam, é meio complicado, mas vou sugerir contextos: o eu é o agente do agenciamento, é o indivíduo individualizado, diferençado e diferenciado. Entendamos o ser como larval. Mas para isso, vou explicar o estado larval:

Ŕ̒ͩ̅͗ͨͥ̀ͬ͐͏̧҉̨̮̙̥̯̗̳͇͎̺̫̗̖͈̝̦͈͈ͅO̴̢͇̜̳̫̭͕̺̩͖̭̘̐͂̈́̃͐̾̐̐̄͘ͅͅC̨̛̠̘̠͎͚͚̼ͭ̓̆ͯͭͥ̄͒͘͞H͆͗͐̀̋̾͗ͩ̅ͧ͌̅͑ͨ͋̚̚͢҉̧͙̻̟͖͉̘̱̠̤͍̟̠̖̱͍̹̺̪͘Ą̡̩̠̫̹̜̥͕͎̝̻̼ͥͨͨ̊̃̉̈́ͫ͋̿͂̕

“Em biologia chama-se larva a qualquer forma de um animal em desenvolvimento (ou seja, que ainda não atingiu a maturação sexual) que é diferente do estado adulto. […] Os mamíferos, aves e répteis, colectivamente classificados como Amniota por terem à volta do embrião uma membrana chamada âmnion, não apresentam estados larvares, mas apenas um estado juvenil. Quando o ovo eclode, ou seja, quando o indivíduo nasce, tem já todos os órgãos que os adultos possuem, embora possam não estar totalmente formados.”

O ser não é formado, não é um eu nem mesmo um ente. Ele é abrangente, o ser pertence ao Todo. CALMA MOON. O eu já deixou sua pupa para seguir rumo à maturação. O ente, então, é a existência definida, e o Eu, então, é o ente como perspectiva: ente do acontecimento se define como eu, que, se determinando, indivualizando, deixa de ser Ser para tornar-se eu. Ser, além de substantivo, é verbo. Não posso entear ou euzar. Isto revela a abstração e consequente extensão do ser.

Morte como vida

É engraçado pensar sempre no não-ser. Pensar no oposto para entender o que é. E para isto, falo agora de outrem. Pesquisei e não encontrei nenhuma definição que contemplasse meus desejos, a não ser um rabisco de artigo da wikipédia, esdrúxulo, que diz assim: 1. outra pessoa/outras pessoas. | 2. o próximo. Este próximo me contempla, mas não totalmente.

“O solipsismo designa uma doutrina filosófica que reduz toda a realidade ao sujeito pensante; doutrina segundo a qual só existem efetivamente o eu e suas sensações, sendo os outros entes (seres humanos e objetos), como participante da única mente pensante, meras impressões sem existência própria (embora frequentemente considerada uma possibilidade intelectual); doutrina segundo a qual a única realidade no mundo é o eu.”

M̵̨̧̖̘͕̟͚͈͓̰̮̏̔̃ͨͬ̇́̋͟É̸͙̞͙̫̝͙̙̠̠̤͍̯̺̲̣͕ͮͮ̄͑̏͑̔͌̔̃̓̑̓̂̑͆ͬ͢͝N̷̶̻͔̤̬͖̘̰̗͇̝̉͛́̐ͭI͐ͤͬͤͥͫ͌̅ͫ̌ͬͩ̚͞͏̘̗͇͓̜̺̯̮̹̬N̎ͩ̓́̾ͣͭ̐̌̈̇̍ͤ͆͌ͨ̀҉͇̖̫̭̜̤̲̱̹̫͖͚̩͔ͅͅĄ̶̷̜̣̞͇̙̥͕͈̙̹̹̰̾̅̏

O Solipsismo, então, é o Eu limite, é o apogeu do conceito enquanto filosófico. Acabamos de falar sobre o Ser, certo? Mas cadê ele nesta concepção?

Se preparem que agora fica bem complicado. Vou tentar explicar a filosofia da diferença — e que me perdoem os filósofos, mas os tempos são outros.

Desde os primórdios, o homem vem tentando trazer consigo o maior conhecimento acumulado, sempre mirando o futuro — e que nele venham grandes tempos, e que a sabedoria só se acumule. E se falarmos em permanência, poucas coisas ainda o são, e estas, são ascepções, entendimentos, interpretações das maiores estruturas que temos entendimento — o Todo. Dele, partimos e regredimos, sempre retornando, porém, em direção ao conhecimento. E nestes séculos de pensamentos acumulados, o acaso se encarregou de tratar cuidadosamente desta progressão inconstante do conhecimento, inserindo religião, dogmas, pensadores da negatividade, solipsistas, enfim; ao longo do tempo muita coisa foi incorporada e construída a partir daí. E de tudo o que houve, um dos maiores erros foi o cunho do termo negativo enquanto oposição. Ora, será toda oposição ruim? Não temos esta dicotomia água-fogo? Terra-céu? E quantas intensidades fulguram neste campo interseccional por entre os limites?

Deleuze bem dizia que só se elevando ao limite obtemos o conceito puro — a diferença nua. Pois bem, elevemos: o eu é tudo que conheço e jamais conhecerei de verdadeiro — diziam os solipsistas. Eu vou pelo mesmo caminho, mas viro antes: o eu é a base de tudo o que conhecemos através do sensível — que por muito tempo sofreu alusão negativa como mundo das aparências e representações infiéis, em detrimento de uma metafísica. Tendo o eu como base, tudo que se forma orbita em torno deste. Agora, despindo o eu de qualquer máquina, elevando o corpo-sem-órgãos [CSO] (o ente livre de qualquer anexo ou acoplamento substâncial ou ideal) encontramos uma pista para o que de fato o eu representa: o campo individual, a abrangência da consciência; ao mesmo tempo que, aderindo ao CSO, elevamos ainda mais: relacionando consciência e substância, consubstânciamos corpo e mente, de forma que, sendo uno, formamos o indivíduo.

b̵̵̮̪̰̞̠̰͍̝̼̫̗ͭͯͭ̔ͥ̎͐̊̊ͧͪͣ͒̐̊ͫͦͦ̀͟͡e̬̥̖̤̘̥̭̹̓͗ͤͮ͋̆͌̔̓ͦ̕s̵̜̟̯̻͉͉̩̰͓͍̟̥ͦ̅̅ͮ͛ͧ͆̏͊̐̈́ͨ͑ͥ̃́͘͟͝ò̵̱̣̦̱̰͔̤͈̮͗̽ͥ̓ͯͥ̎ͩứͥ͋̈ͫͣ̔͋̒̂̓̓̃ͨ͏̠̲̩̟̣̟͉̜̖̗̥͍̖͕͔̞̩́͘r̷̶̢̫̹̬͖̘̟̭̮̝̮̙̣̐͆̽̌ͯ̌̾͢͝o̡͚͇͇͖̝̞̺̼͓͓̹̖͎ͤͧ̂̂͂͒ͪͨ̌͑ͥ͛ͨ̀̆͘͘͢

con·subs·tan·ci·arConjugar |(con- + substanciar) | verbo transitivo

1. Unir numa única substância. | 2. Tornar unido ou consolidado. = UNIFICAR | 3. Converter em substância; dar forma. ≠ DESSUBSTANCIAR

Este indivíduo atua, provoca agenciamentos e compõe acontecimentos, ou seja, ele não é estático. Ele se relaciona com uma malha complexa de acontecimentos, fenômenos, outros entes, e se diferencia dele mesmo. Em constante processo de diferenciação do mesmo, o eu repete esta diferença, provocando ainda mais destas. Certo, o eu, ao ser “eu”, se determina. O ente, ao contrário, não é individual. Ente, por mais determinado que seja, ainda é possível — ao contrário do eu que já é determinado e individualizado — ou seja, ainda cresce e não é indivíduo (todos os entes). A partir do momento que o eu se determina completamente, inicia-se o que Nietzche chamou de eterno retorno. O eu ao eu, regredindo ao ente e por fim ao ser. Opa, chegamos em algum lugar. Vamos falar de morte?

“O suicídio é uma tentativa de tornar adequadar e fazer com que coincidam essas duas faces que se subtraem uma à outra. Mas as duas bordas não se reúnem, continuando cada morte a ser dupla. Por um lado, ela é “desdiferenciação”, que vem compensar as diferenciações do Eu [Moi], do Eu [Je], num sistema de conjunto que as uniformiza; por outro lado, ela é individuação, protesto do indivíduo que nunca se reconheceu nos limites do Eu e do Eu, mesmo universais.” (DELEUZE)

Esta morte é a possibilidade de repetição do eu. Este eu que já foi ser. Assim, vamos tentar chegar num axioma? O eu, dentre tudo que existe, é a individualização do ente determinado, ou seja, é o estado mais estriado que se pode atingir — aniquilamento de devires e possibilidades. Por isso que se faz o apelo ao CSO, na tentativa de elevar o eu e repetir o ente, na busca, enfim, de diferenciar e repetir o ser. O eu não passa de produto da diferença sobre a consciência, e, enfim, o passo de retorno ao ser.

Você não gostou dessa definição porque não entendeu. Eu também estou tentando entender, vamos ver se até o final do texto atingimos algum ponto final.

N̶̆̍̐̒̇̑̏̑̈́͛͒ͣ̈́͐̇̃͌̔́̕͠͏̯͙̖͔͇̻̫̩͚̪͈̭̲͇Ē̝̜̮̥̝̟̯̰̤͙̝̲̺͛̋͋ͯ͗͞ͅV̵͖̥̞̺̱̫̝͔̺̳ͫ̅ͮ̾͆̐̓̊͋̌͌̍̔̅ͤ͛ͦ͒̔E̴̛͎͉̪̫͕͑ͫ̀̓ͪͮ͊̾̑̿̇͛͐R̝̼̯̙̤̼̤̈́ͫ̋̏̽ͤ͟͟ ̷̺̤̮͈ͮ̈́̍́͒͑ͫ̎ͣ̓ͩͭ͒̕͞Ŝ̶̸͓̘̞̣͈̠͙̗̦̯̘̗͕̣̞̘̝̿̒̽ͨ͆̚T̵̢̢̞͚͉̠̮͔̰͎̮͕̞͚͕͚̬̰͙̻̐ͦ̎͂ͩ̑̆̏̐̑̓̑̂̒͐͗̑͠͝O̷ͧ͆̾͊͒̾͋̍ͣ̓̒ͨ͑̆͊̇̚̚͘͘͏͇̣̟̤̘͉͖̹͙̙̻͉̰͚P̏͗̈ͯ̽ͫ͌̏̏ͧ͌̓͐ͧ͏̯̠͚̙̜̙͚͉̮̦͈̞̪̻̺͍ͅ ̸̛̛̠̘̮̻̣̼̝̭̣̤̮̟̘͔̦̤͇̣̝ͤ̓͌ͮͧͦ̍͑̌͠T̸̨̝͇͚̹͍͈̗̼̤̬̬͓͐ͦͤ͗ͥͣͤͯ̄̉ͯͭͦ͊͂ͯ̌̕Hͣ̾͋̒ͧ̍͒̄ͪ̿͒̔̽͟͏̗̲̺̭̮̼̜̦͇E̷̶̜̯͉̱̱̜̱̳͚͌ͤͦ̉̈́̇ͩͧ̉̓̾́ͯͭ̀̚̕ͅ ̧̛͓̝̙̹̥̮̑̅͛͆̏̑̓̔̓̎ͪ͑͂ͯ͜T̡̨̢̞̥̻̪̺͇̺ͨ̽ͦ͌ͮ̀̚ͅC̶̢̺̯̟̼̬̤̗̯͉͓͔͖͚̭͊͌̍̿̑ͫͨ͌ͧ̋ͪ̃̈́ͬͣ̄̀͠͝H̡̳͕̣̫͕͊ͥ̒͑̆̇̊̀͜͞Ȧͭ̍͆ͥ̓̓ͥͤ̈́ͬ̐̉̀ͫ̿̿͏̶͉̞̣̤͖͚̳̗̻̜̩̳̞̞̝̞̯̲̺́͘U̸͚̮̯̥̜̤̯͓̝͕͙̞̲̞̼͖͉ͥ̀ͬ̚͠ ̨̮͉͇̱̩̯̯͔̓̽̆̂͆̓ͤ̅̓ͣͯ͢Bͥ̄ͯ͋̐ͣ̓̿ͩ̄̆͐̇̓ͥ̌ͦͭ͋҉̧͔̫̰̺͚̞̟̣͓͔͖͘͝ͅͅA̐̅̿͌͑͌͐̈́͆̎ͦ̾ͦ̈́ͬ̔̚͏̴͇͚͍̩̫̟̹̳͚̦͞B̴̸̫̭̗͙͔̫͕̬̖̣̼͎̪̌ͤ̎̒̊ͩ͐̍̎̐̽ͧ̇ͫͭ̂͋ͩ͘͢͡ͅE̝̹̬̥̥̰̺̩͇͖̟͓̟̤͖̍̉̃̋ͩ̇͘͘͜ͅ ̵ͩ͆̓͆̓ͭ͌͞͏̢̼͔̬̭̻C̵͍̤͉̠͍̙͕̼̝̪̰̼̰̝̱̱̻͈͂̐̓ͥ̏ͩ̿̓̋̿ͮ͘͡O̵̴͑̈̂̈́ͯ̊̋ͬͬ̒̎͊͞͏͔̼̖͙̩̲̺͍̜̼̜͇̩̭͓̝̖̭M̴̨̢͎̳̰̟ͤ͑̄̃̏͒̌͌̎͛́̏͒̈͊̍͋ͤ̚͡E͑͗͐̀ͬ͛ͧͭ͗̄̌̎ͤ̿͒͌̚҉̡̟̝̞̘̜͙͚͔̰͎̺̳͖ͅ ̴̈́̓͒̿ͩͩͩ͋͏͈͔̣͚̜͝W̶̙̭̱̳̥̤̦̩͖̪̘̫̻̞ͣͫ͑͑͂̅͂͆̆͊̔́Ḯ̢̺̮͍͖̗̼͔̺̣̠͈̭̰̱͓̹̙̗̾͐ͮ̂͑́͆ͣͥͩͫͫ͂͐̇ͦ̚͜T̷̼̻̩̬͉̳͍̩̱̘̗͎̽̊̍̕͢ͅH̰̲͎̞̝̼̣͇̳́ͣ̂͋ͪ̾̀͑́̉̓͊ͥͦ̀͠ ̶̡̮̹͍̭̟̘͕͖͓̗͇̇ͤ̐ͥ́̔ͨ̇̍̑̿̃͋̒͗ͣ͘͡ͅM̶̥̲͙̦̝͍̋ͥ͛́̒̓̾̄̈̑͆̑̀́̓̾̊͑́̚͟͜Ȩ̷̵͇̫̪̖̬̬̞̠̠͉̪̦͕̜̩̮̂͊̐̉ͭ͑́͛̈́͡ ̛͕̠̗̼̭̞̣̳̞͇̦̼̭̹̞̺͖̃͒͛͊̉̑̐͗ͫ̃ͪͫͯͪ͌̓̚T̷̢̬̝̟͖̩̦̲̭͎̙̠̗͙ͩ̓ͭ̋͊̓͐ͧͭ̃ͥO̴̸̢̬̻̬͈̖͉̫͉̤̩̩͇̠͈̠̙̜͙͗ͫͦͦ̽ͦͩ͠͡ͅ ̶̷̤̮̝̮̰̠̦̬̲͙̻ͧ̈́ͥ̓ͤͤ̔̃ͮ̋ͤͫ̏̒̈́̆̾͞ͅP̷̹̰̻͎̗͙̯̜̠͗̆̒̏ͮͪ̈́͆̚͠A̷̷̡̪̱̳͚̫̮̫ͧ̐̍͂̈̓̋̃̑́͝ͅŖ̢̧̤̦̯̣̹̟̗͒̿̔ͨͧ̓ͮͫ͜ͅA̧͚̗͍̖͙̬͕͈͕̤͕̮͚̝͕̜̯͂͒́̍̌̏ͨ͆ͣͯ͐̈́̃͘D̷̻̙̦̫̖̣͙̩͔̦͙̲́̑̽ͯ̎́ͬ̆̂̃ͫ͑̕̕͝Į̺̝̥̯̺̜̮͙̼͈͇̹̯ͣ̿ͩ̎̈̈́̅̾̊ͮ̆̚̚͘͢͜͡Sͩ̇̂ͬ̔̈̀ͬ͆ͥ͊͏́͏̙͕̳͓͓̺̯̩͍̖̯̪̩̝͉͜ͅE̛̖̙͔̞̝̰̠̎͒ͬ̆ͥ͑̅͑̓̚͘͢ ͒̏ͦ̈́͒͆̀ͨ̀͏̖̮͚̘̱̲̝͕̱Ý̵̧̅͛͟҉̢̲̦̙̭̣̥͎͇͇̝̱̠̺̼͉̺̣E̷̪̙̙̬̪͖̖̟ͣͦ̑ͪ̔̀͜͜͞A̶̻̣̤̜͚ͣ͌̓̽̌̿̈̏ͭ͌̐͒̽̀͘͢͞Ḧ̶̗͉̠̜̖̮́̐̎͂̌ͬ̇̍͛͊ͧ̐̐̈͘͡ ̷̩̱͕͉͚̳̪̦͍̼̽͊̓́͂ͯͧ͗ͥͤ̏̉̍̀̚͡Y̩̻̟̝͕͑͂̃̋ͨ́̕͟͢E̢͔̞̗̜̗̥̤̯̘͙̱̖̬͈ͣ̅̆ͥ͛͗͢͢͝Ą̧̢̰̞͚͇̮̗͖̝̥̗͚̳̞̲͗ͫ̾̃ͧ̉ͪ̋͆̒̌̚̕H̴̡̙͇̮̺̪̦͉̿͆̄̓̂̇̑̍̈́ͤ͒́̀ͫͫͥ͠ ̧̐̀̔̂̃̽͋̚͏̛̹̯̠̺͇̩̰̻͉͓̮̙͟Y̧̘̰̯̠̞̪̙͚̖̩͉͕͇̩̐ͫ̓̊̉͆ͦͩ̑ͧ́ͯ̎̽́́̀̚ͅE̷̮̠̙̟̘̊͆ͥ͒̓̃̓̉̽̌̒̔͒̅͆͊́̚͜͠͠A̟͎̺̞̓̆̌̎̎̃̑ͣ̑͌̊̔̎ͬ́̇ͥ́̄͜Hͦ̐̌ͯͫ͆͊ͪ̌̔̋͐̃҉̵͇͓͍̘̘͓̝͍̘͙̠̞͈̞

Outrem

Ok, definimos o eu, mesmo que de uma maneira bem vaga, mas para isso, lembro as palavras de Deleuze: “A regra que invocávamos anteriormente, isto é, não se explicar demais, significava antes de tudo não se explicar demais com outrem, não explicar outrem demais, manter seus valores implícitos, multiplicar nosso mundo, povoando-o com todos esses expressos que não existem fora de suas expressões.” Olha o outrem aí outra vez. Vamos analisar o contexto em que Deleuze o evoca:

Não se explicar demais com outrem significa não explicar algo com um não-algo. Ou seja, uso de definições, situações contextuais, enfim; ele se utiliza como representação do que não o é, como já disse, e ele mesmo também, não-ser — o “não” não como negativo do ser, mas somente o que não o é. Outrem, portanto, é o outro, alheio, o ser não-eu, ao mesmo tempo eu não-eu. Mas para estabelecer o contra-campo, precisamos do cenário. Qual seria o cenário de atuação dos seres e como se determinariam os eus?

O cenário é o Todo — meu primeiro texto, coincidentemente — e a determinação é a diferença. Eitaaaa. Vamos lá: o eu se dissocia do ser, que, também, se dissocia de algo, porém muito maior: o Todo. Assim nasce o ente. E individualizando o ente, acoplando máquinas ao CSO, e fixando-as, obtemos o eu. Fazendo alusão à bíblia:

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”

N̶̆̍̐̒̇̑̏̑̈́͛͒ͣ̈́͐̇̃͌̔́̕͠͏̯͙̖͔͇̻̫̩͚̪͈̭̲͇Ē̝̜̮̥̝̟̯̰̤͙̝̲̺͛̋͋ͯ͗͞ͅV̵͖̥̞̺̱̫̝͔̺̳ͫ̅ͮ̾͆̐̓̊͋̌͌̍̔̅ͤ͛ͦ͒̔E̴̛͎͉̪̫͕͑ͫ̀̓ͪͮ͊̾̑̿̇͛͐R̝̼̯̙̤̼̤̈́ͫ̋̏̽ͤ͟͟ ̷̺̤̮͈ͮ̈́̍́͒͑ͫ̎ͣ̓ͩͭ͒̕͞Ŝ̶̸͓̘̞̣͈̠͙̗̦̯̘̗͕̣̞̘̝̿̒̽ͨ͆̚T̵̢̢̞͚͉̠̮͔̰͎̮͕̞͚͕͚̬̰͙̻̐ͦ̎͂ͩ̑̆̏̐̑̓̑̂̒͐͗̑͠͝O̷ͧ͆̾͊͒̾͋̍ͣ̓̒ͨ͑̆͊̇̚̚͘͘͏͇̣̟̤̘͉͖̹͙̙̻͉̰͚P̏͗̈ͯ̽ͫ͌̏̏ͧ͌̓͐ͧ͏̯̠͚̙̜̙͚͉̮̦͈̞̪̻̺͍ͅ ̸̛̛̠̘̮̻̣̼̝̭̣̤̮̟̘͔̦̤͇̣̝ͤ̓͌ͮͧͦ̍͑̌͠T̸̨̝͇͚̹͍͈̗̼̤̬̬͓͐ͦͤ͗ͥͣͤͯ̄̉ͯͭͦ͊͂ͯ̌̕Hͣ̾͋̒ͧ̍͒̄ͪ̿͒̔̽͟͏̗̲̺̭̮̼̜̦͇E̷̶̜̯͉̱̱̜̱̳͚͌ͤͦ̉̈́̇ͩͧ̉̓̾́ͯͭ̀̚̕ͅ ̧̛͓̝̙̹̥̮̑̅͛͆̏̑̓̔̓̎ͪ͑͂ͯ͜T̡̨̢̞̥̻̪̺͇̺ͨ̽ͦ͌ͮ̀̚ͅC̶̢̺̯̟̼̬̤̗̯͉͓͔͖͚̭͊͌̍̿̑ͫͨ͌ͧ̋ͪ̃̈́ͬͣ̄̀͠͝H̡̳͕̣̫͕͊ͥ̒͑̆̇̊̀͜͞Ȧͭ̍͆ͥ̓̓ͥͤ̈́ͬ̐̉̀ͫ̿̿͏̶͉̞̣̤͖͚̳̗̻̜̩̳̞̞̝̞̯̲̺́͘U̸͚̮̯̥̜̤̯͓̝͕͙̞̲̞̼͖͉ͥ̀ͬ̚͠ ̨̮͉͇̱̩̯̯͔̓̽̆̂͆̓ͤ̅̓ͣͯ͢Bͥ̄ͯ͋̐ͣ̓̿ͩ̄̆͐̇̓ͥ̌ͦͭ͋҉̧͔̫̰̺͚̞̟̣͓͔͖͘͝ͅͅA̐̅̿͌͑͌͐̈́͆̎ͦ̾ͦ̈́ͬ̔̚͏̴͇͚͍̩̫̟̹̳͚̦͞B̴̸̫̭̗͙͔̫͕̬̖̣̼͎̪̌ͤ̎̒̊ͩ͐̍̎̐̽ͧ̇ͫͭ̂͋ͩ͘͢͡ͅE̝̹̬̥̥̰̺̩͇͖̟͓̟̤͖̍̉̃̋ͩ̇͘͘͜ͅ ̵ͩ͆̓͆̓ͭ͌͞͏̢̼͔̬̭̻C̵͍̤͉̠͍̙͕̼̝̪̰̼̰̝̱̱̻͈͂̐̓ͥ̏ͩ̿̓̋̿ͮ͘͡O̵̴͑̈̂̈́ͯ̊̋ͬͬ̒̎͊͞͏͔̼̖͙̩̲̺͍̜̼̜͇̩̭͓̝̖̭M̴̨̢͎̳̰̟ͤ͑̄̃̏͒̌͌̎͛́̏͒̈͊̍͋ͤ̚͡E͑͗͐̀ͬ͛ͧͭ͗̄̌̎ͤ̿͒͌̚҉̡̟̝̞̘̜͙͚͔̰͎̺̳͖ͅ ̴̈́̓͒̿ͩͩͩ͋͏͈͔̣͚̜͝W̶̙̭̱̳̥̤̦̩͖̪̘̫̻̞ͣͫ͑͑͂̅͂͆̆͊̔́Ḯ̢̺̮͍͖̗̼͔̺̣̠͈̭̰̱͓̹̙̗̾͐ͮ̂͑́͆ͣͥͩͫͫ͂͐̇ͦ̚͜T̷̼̻̩̬͉̳͍̩̱̘̗͎̽̊̍̕͢ͅH̰̲͎̞̝̼̣͇̳́ͣ̂͋ͪ̾̀͑́̉̓͊ͥͦ̀͠ ̶̡̮̹͍̭̟̘͕͖͓̗͇̇ͤ̐ͥ́̔ͨ̇̍̑̿̃͋̒͗ͣ͘͡ͅM̶̥̲͙̦̝͍̋ͥ͛́̒̓̾̄̈̑͆̑̀́̓̾̊͑́̚͟͜Ȩ̷̵͇̫̪̖̬̬̞̠̠͉̪̦͕̜̩̮̂͊̐̉ͭ͑́͛̈́͡ ̛͕̠̗̼̭̞̣̳̞͇̦̼̭̹̞̺͖̃͒͛͊̉̑̐͗ͫ̃ͪͫͯͪ͌̓̚T̷̢̬̝̟͖̩̦̲̭͎̙̠̗͙ͩ̓ͭ̋͊̓͐ͧͭ̃ͥO̴̸̢̬̻̬͈̖͉̫͉̤̩̩͇̠͈̠̙̜͙͗ͫͦͦ̽ͦͩ͠͡ͅ ̶̷̤̮̝̮̰̠̦̬̲͙̻ͧ̈́ͥ̓ͤͤ̔̃ͮ̋ͤͫ̏̒̈́̆̾͞ͅP̷̹̰̻͎̗͙̯̜̠͗̆̒̏ͮͪ̈́͆̚͠A̷̷̡̪̱̳͚̫̮̫ͧ̐̍͂̈̓̋̃̑́͝ͅŖ̢̧̤̦̯̣̹̟̗͒̿̔ͨͧ̓ͮͫ͜ͅA̧͚̗͍̖͙̬͕͈͕̤͕̮͚̝͕̜̯͂͒́̍̌̏ͨ͆ͣͯ͐̈́̃͘D̷̻̙̦̫̖̣͙̩͔̦͙̲́̑̽ͯ̎́ͬ̆̂̃ͫ͑̕̕͝Į̺̝̥̯̺̜̮͙̼͈͇̹̯ͣ̿ͩ̎̈̈́̅̾̊ͮ̆̚̚͘͢͜͡Sͩ̇̂ͬ̔̈̀ͬ͆ͥ͊͏́͏̙͕̳͓͓̺̯̩͍̖̯̪̩̝͉͜ͅE̛̖̙͔̞̝̰̠̎͒ͬ̆ͥ͑̅͑̓̚͘͢ ͒̏ͦ̈́͒͆̀ͨ̀͏̖̮͚̘̱̲̝͕̱Ý̵̧̅͛͟҉̢̲̦̙̭̣̥͎͇͇̝̱̠̺̼͉̺̣E̷̪̙̙̬̪͖̖̟ͣͦ̑ͪ̔̀͜͜͞A̶̻̣̤̜͚ͣ͌̓̽̌̿̈̏ͭ͌̐͒̽̀͘͢͞Ḧ̶̗͉̠̜̖̮́̐̎͂̌ͬ̇̍͛͊ͧ̐̐̈͘͡ ̷̩̱͕͉͚̳̪̦͍̼̽͊̓́͂ͯͧ͗ͥͤ̏̉̍̀̚͡Y̩̻̟̝͕͑͂̃̋ͨ́̕͟͢E̢͔̞̗̜̗̥̤̯̘͙̱̖̬͈ͣ̅̆ͥ͛͗͢͢͝Ą̧̢̰̞͚͇̮̗͖̝̥̗͚̳̞̲͗ͫ̾̃ͧ̉ͪ̋͆̒̌̚̕H̴̡̙͇̮̺̪̦͉̿͆̄̓̂̇̑̍̈́ͤ͒́̀ͫͫͥ͠ ̧̐̀̔̂̃̽͋̚͏̛̹̯̠̺͇̩̰̻͉͓̮̙͟Y̧̘̰̯̠̞̪̙͚̖̩͉͕͇̩̐ͫ̓̊̉͆ͦͩ̑ͧ́ͯ̎̽́́̀̚ͅE̷̮̠̙̟̘̊͆ͥ͒̓̃̓̉̽̌̒̔͒̅͆͊́̚͜͠͠A̟͎̺̞̓̆̌̎̎̃̑ͣ̑͌̊̔̎ͬ́̇ͥ́̄͜Hͦ̐̌ͯͫ͆͊ͪ̌̔̋͐̃҉̵͇͓͍̘̘͓̝͍̘͙̠̞͈̞

Refiro-me a Deus pois, na religião, seja ela qual for, Deus é maior que o universo, Deus é, ao mesmo tempo, espaço, fluxo das coisas, relações, conexões, vontade do acaso, enfim; Deus é o Todo. E, a sua imagem, criou o homem. Façamos a separação: Deus=Todo; Homem=Eu. Qual seria o papel da diferença, neste caso? O da serpente, naturalmente. A serpente que trai, que provoca conflito, que diversifica; e que da maçã, surjam as relações diferenciais.

Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente,o Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.

E como das partes surgem o todo, encaramos o homem e o Deus, o eu e o Todo. Como na expulsão de Adão do Éden, o eu foi expurgado do Todo, destinado a se diferenciar, e se individualizar, até retornar na sensação de morte. Penso, assim, que o Eu, nada mais é do que a diferença perante o todo (TODO - DIFERENÇA=EU). Diferença como não ilusão, mas descrença em conceitos e convenções subjetivas — o negativo nada tem de ruim, porque não é negativo, é positivo em sua diferença. Se, então, a diferença é o não-ser perante o todo, podemos deduzir que tudo o que há de diferença atuante é extra-ser, ou seja, que escapa à determinação possível. A diferença não possui devires, ela o é, em númeno, em essência, conceito per se. Assim, em termos matemáticos: TODO - SER=DIFERENÇA.

“Num sistema psíquico Eu-Eu [Moi-Je], outrem funciona, pois, como centro de enrolamento, de envolvimento, de implicação. Ele é o representante dos fatores individuantes. E se é verdade que um organismo leva em conta um ser microscópico, mais verdadeiro ainda é afirmar o quanto Outrem é levado em conta nos sistemas psíquicos. Ele forma aí aumentos locais de entropia, ao passo que a explicação de outrem pelo eu [je] representa uma degradação conforme à lei. A regra que invocávamos anteriormente, isto é, não se explicar demais, significava antes de tudo não se explicar demais com outrem, não explicar outrem demais, manter seus valores implícitos, multiplicar nosso mundo, povoando-o com todos esses expressos que não existem fora de suas expressões. Com efeito, outrem não é um outro Eu, mas o Eu é um outro, um Eu rachado. […] É este papel da linguagem em função dos valores de implicação ou dos centros de envolvimento que a dota de seus poderes nos sistemas de ressonância interna. A estrutura de outrem e a correspondente função da linguagem representam efetivamente a manifestação do númeno, a ascensão dos valores expressivos, enfim a tendência da diferença à interiorização.”

C̨̯͉̻̤͎̟͕͐̋ͥ̈́ͯͩͪͣ̒͆ͯͧͪ̓͑̓̽͑̕͜͝O̓̒̑̓̔̀́̐̃ͮ͏̞̖̤̠͈͔͖͎͉̘͕͈̬̼̫̤R̷̴̞̥͎̹̰̳͕̟͇̖͔͍̱ͮ̈ͩ̿̌̄̂͞ͅA̴̢̡͎̙͚̤̣̱̺͍̥̫͉̯͇̤̖͍ͯ͛̈ͤ͊ͭͨ̕L͌͆͑ͨ͏̵̧̲̞̘̩͉̻̀͢ͅ ́̌ͬ̓͑̓̐̈́͂͐̏͐̅ͯ̀̆͆̎҉̵͈̝̣̮̕͢C̪̺̱̞̱̗͍͍̱̩̞̖͉̪̮͂̈͆̓ͯ̍͋̃ͫ͋͆́͞͝ͅͅͅǪ̤̼̗͕̜̩̗͙̯͈̮̹̲̣̠͌̆͛͊̓͒ͭ̇̐̾͆̈́̌̏͑̈ͭ̄͝Ṛ̫̟̺̫̹̻͇͓͖̬̭̮̠͖̀ͨ͆̓̇̅̉̓ͫ̄̒͌͠͝O̹̻̤͖̮̜͔͖͎ͯͮ̇̽̋ͧͭ̀̂ͦ̌̉̈̾̎̈́̚͡L̸̡͍̲̺̳̲̘̾̋̂ͤ̔ͅÏ̷ͥͭ͛̓ͨͣ̅̓̊̀̃̓̐̇ͮͧ̈́͟͠͏̺̗̤͕̭̦̣̖̤̹̭̪͈̠͓̪̖D̡ͬ̑ͣ̓ͦ̓̅̄ͮ̊͏͖͕̠̗̟Ơ͍͔̩̼͍̗͔͍̪̻̻̥̙͇̼̭̞͈̞ͩ͛̋ͯ́͡

nú·me·no
(grego nooumenon, sentido, significado, de noeô, aperceber-se, perceber, ver, apreender, conceber, pensar, compreender) | substantivo masculino

1. [Filosofia] Objecto de intuição intelectual desprovido de todo o atributo fenomenal. | 2. [Filosofia] Pura ideia a que não corresponde nenhum objecto material. | 3. [Filosofia] A coisa em si, por oposição ao fenómeno, que é a coisa como ela é apreendida por sentidos.

Também, nas palavras de Ambrose Pierce (tradução livre): “Aquilo que existe, distinguindo-se daquilo que meramente aparenta existir, o último sendo um fenômeno. O númeno é um pouco difícil de localizar; pode ser apreendido somente pelo processo da razão — que é um fenômeno.”

Outrem, então, corresponde ao que não se nomeia, que se distingue do eu e que interioriza as diferenças no ente, individualizando-o, transformando-o, assim, em eu. Outrem é, como na equação

[TODO — — — — — — — — — — — — SER=DIFERENÇA]

a própria diferença. Outrem é o eu elevado ao limite, aonde ele encontra sua definição nua; esta, enquanto diferença que, conjuntamente ao eu, individualiza-o.

E se Deus é o Todo, Éden é o sistema complexo, ou seja, entrecruzamento, sobreposição, diferenciação dos eus num todo, diferençação dos entes nos indivíduos. O Éden é o retorno do eu para o ser — campo de individualização que perpetua as diferenças (maçãs) e que transforma o ser no eu (expulsão).

“Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.”

S̢̼̝̠̖ͪͥ͆ͩͤ͗̆̀̒͐͋̂ͭ̀͑̀͡I̴̡͓̯̱̮̗͐͑̏̾̒̊̔̀̈́͋ͧ̚ ̷̶̴̪̱̬̖̝̼͖̠̮̩͔̥̬̗̏̅̂̍͛̔̊ͦ͆̏̔̈̀F̨͓͍̜̠̩̦̝̜̬͎̤͆̓͛̆̃͛̾̓̿̾̓̐͆̍͐̆͗͛͂̕͜͡Ư̒̇͐̋͐̐̀̉ͭ̚͏̶̲̬̹͈͔̩̤̭̙͚̻̱͕̗̭̣̰̘́̕Ḓ̵̢̦̥͚͖̱͖̤͉͌ͯ̆ͪ́ͦͧ̂͂̇̀̿ͯ͗ͧͣ̉͘̕͝ͅĔ̷̡̲̞̹̯̦͇̪͙͉̭̮̯̜̬̣̩̺̗͆ͫ̃̑͛͂͐͠͝O̷̶̞͓͚̰̬͈̼̖̘̿͆̈͌ͦ̓̕͞

E o Design?

Esta ascepção do Design anda de mãos dadas ao conceito de outrem. Este Design, ao qual penso ter grandes laços com a serpente — até mesmo no andar rastejando, sempre destinado a comer o pó, pelo resto dos tempos. Este Design ao qual falo permeia superficialmente — e tamanha profundidade esta superfície possui! — , de barriga, e articula entes, ideias, problemas. Ele convence, ele causa, ele afeta, ele traz a diferença.

Da mesma forma que a serpente nada poderia fazer sem uma maçã, de nada serve um Design sem ser, sem alvo, sem mirar, sem conhecer o mundo no qual vive. Dasein me lembra Design:

“Em Heidegger, a teoria do conhecimento é, desde o início, condicionada por uma interrogação que a precede e que versa sobre o modo como um ser encontra a si mesmo, isto é, em sua situação no mundo. A prioridade dessa situação é a ênfase dada no conceito de Dasein, o ser-aí que somos nós, desde sempre lançados no mundo antes mesmo de o encararmos como um objeto que se opõe a um sujeito. Se o humano sempre “está no mundo”, se não existe sujeito fora do mundo, Dasein designa o lugar onde se manifesta este ser-no-mundo, de modo que a hermenêutica opera na relação do ser com a situação na qual se encontra, em sua posição de ser-aí.” (BECCARI)

S̢̼̝̠̖ͪͥ͆ͩͤ͗̆̀̒͐͋̂ͭ̀͑̀͡I̴̡͓̯̱̮̗͐͑̏̾̒̊̔̀̈́͋ͧ̚ ̷̶̴̪̱̬̖̝̼͖̠̮̩͔̥̬̗̏̅̂̍͛̔̊ͦ͆̏̔̈̀F̨͓͍̜̠̩̦̝̜̬͎̤͆̓͛̆̃͛̾̓̿̾̓̐͆̍͐̆͗͛͂̕͜͡Ư̒̇͐̋͐̐̀̉ͭ̚͏̶̲̬̹͈͔̩̤̭̙͚̻̱͕̗̭̣̰̘́̕Ḓ̵̢̦̥͚͖̱͖̤͉͌ͯ̆ͪ́ͦͧ̂͂̇̀̿ͯ͗ͧͣ̉͘̕͝ͅĔ̷̡̲̞̹̯̦͇̪͙͉̭̮̯̜̬̣̩̺̗͆ͫ̃̑͛͂͐͠͝O̷̶̞͓͚̰̬͈̼̖̘̿͆̈͌ͦ̓̕͞S̢̼̝̠̖ͪͥ͆ͩͤ͗̆̀̒͐͋̂ͭ̀͑̀͡I̴̡͓̯̱̮̗͐͑̏̾̒̊̔̀̈́͋ͧ̚ ̷̶̴̪̱̬̖̝̼͖̠̮̩͔̥̬̗̏̅̂̍͛̔̊ͦ͆̏̔̈̀F̨͓͍̜̠̩̦̝̜̬͎̤͆̓͛̆̃͛̾̓̿̾̓̐͆̍͐̆͗͛͂̕͜͡Ư̒̇͐̋͐̐̀̉ͭ̚͏̶̲̬̹͈͔̩̤̭̙͚̻̱͕̗̭̣̰̘́̕Ḓ̵̢̦̥͚͖̱͖̤͉͌ͯ̆ͪ́ͦͧ̂͂̇̀̿ͯ͗ͧͣ̉͘̕͝ͅĔ̷̡̲̞̹̯̦͇̪͙͉̭̮̯̜̬̣̩̺̗͆ͫ̃̑͛͂͐͠͝O̷̶̞͓͚̰̬͈̼̖̘̿͆̈͌ͦ̓̕͞S̢̼̝̠̖ͪͥ͆ͩͤ͗̆̀̒͐͋̂ͭ̀͑̀͡I̴̡͓̯̱̮̗͐͑̏̾̒̊̔̀̈́͋ͧ̚ ̷̶̴̪̱̬̖̝̼͖̠̮̩͔̥̬̗̏̅̂̍͛̔̊ͦ͆̏̔̈̀F̨͓͍̜̠̩̦̝̜̬͎̤͆̓͛̆̃͛̾̓̿̾̓̐͆̍͐̆͗͛͂̕͜͡Ư̒̇͐̋͐̐̀̉ͭ̚͏̶̲̬̹͈͔̩̤̭̙͚̻̱͕̗̭̣̰̘́̕Ḓ̵̢̦̥͚͖̱͖̤͉͌ͯ̆ͪ́ͦͧ̂͂̇̀̿ͯ͗ͧͣ̉͘̕͝ͅĔ̷̡̲̞̹̯̦͇̪͙͉̭̮̯̜̬̣̩̺̗͆ͫ̃̑͛͂͐͠͝O̷̶̞͓͚̰̬͈̼̖̘̿͆̈͌ͦ̓̕͞S̢̼̝̠̖ͪͥ͆ͩͤ͗̆̀̒͐͋̂ͭ̀͑̀͡I̴̡͓̯̱̮̗͐͑̏̾̒̊̔̀̈́͋ͧ̚ ̷̶̴̪̱̬̖̝̼͖̠̮̩͔̥̬̗̏̅̂̍͛̔̊ͦ͆̏̔̈̀F̨͓͍̜̠̩̦̝̜̬͎̤͆̓͛̆̃͛̾̓̿̾̓̐͆̍͐̆͗͛͂̕͜͡Ư̒̇͐̋͐̐̀̉ͭ̚͏̶̲̬̹͈͔̩̤̭̙͚̻̱͕̗̭̣̰̘́̕Ḓ̵̢̦̥͚͖̱͖̤͉͌ͯ̆ͪ́ͦͧ̂͂̇̀̿ͯ͗ͧͣ̉͘̕͝ͅĔ̷̡̲̞̹̯̦͇̪͙͉̭̮̯̜̬̣̩̺̗͆ͫ̃̑͛͂͐͠͝O̷̶̞͓͚̰̬͈̼̖̘̿͆̈͌ͦ̓̕͞S̢̼̝̠̖ͪͥ͆ͩͤ͗̆̀̒͐͋̂ͭ̀͑̀͡I̴̡͓̯̱̮̗͐͑̏̾̒̊̔̀̈́͋ͧ̚ ̷̶̴̪̱̬̖̝̼͖̠̮̩͔̥̬̗̏̅̂̍͛̔̊ͦ͆̏̔̈̀F̨͓͍̜̠̩̦̝̜̬͎̤͆̓͛̆̃͛̾̓̿̾̓̐͆̍͐̆͗͛͂̕͜͡Ư̒̇͐̋͐̐̀̉ͭ̚͏̶̲̬̹͈͔̩̤̭̙͚̻̱͕̗̭̣̰̘́̕Ḓ̵̢̦̥͚͖̱͖̤͉͌ͯ̆ͪ́ͦͧ̂͂̇̀̿ͯ͗ͧͣ̉͘̕͝ͅĔ̷̡̲̞̹̯̦͇̪͙͉̭̮̯̜̬̣̩̺̗͆ͫ̃̑͛͂͐͠͝O̷̶̞͓͚̰̬͈̼̖̘̿͆̈͌ͦ̓̕͞S̢̼̝̠̖ͪͥ͆ͩͤ͗̆̀̒͐͋̂ͭ̀͑̀͡I̴̡͓̯̱̮̗͐͑̏̾̒̊̔̀̈́͋ͧ̚ ̷̶̴̪̱̬̖̝̼͖̠̮̩͔̥̬̗̏̅̂̍͛̔̊ͦ͆̏̔̈̀F̨͓͍̜̠̩̦̝̜̬͎̤͆̓͛̆̃͛̾̓̿̾̓̐͆̍͐̆͗͛͂̕͜͡Ư̒̇͐̋͐̐̀̉ͭ̚͏̶̲̬̹͈͔̩̤̭̙͚̻̱͕̗̭̣̰̘́̕Ḓ̵̢̦̥͚͖̱͖̤͉͌ͯ̆ͪ́ͦͧ̂͂̇̀̿ͯ͗ͧͣ̉͘̕͝ͅĔ̷̡̲̞̹̯̦͇̪͙͉̭̮̯̜̬̣̩̺̗͆ͫ̃̑͛͂͐͠͝O̷̶̞͓͚̰̬͈̼̖̘̿͆̈͌ͦ̓̕͞

Desta forma fica explícito o Design como operação complexa, de articulação, interlocução. Como diz Deleuze em Ato de criação:

“Se uma pessoa qualquer pode falar com outra qualquer, se um cineasta pode falar com um homem de ciência, se um homem de ciência pode ter algo a dizer a um filósofo e vice-versa, é na medida e em função das atividades criativas de cada um. Não que haja espaço para falar da criação — a criação é antes algo bastante solitário –, mas é em nome de minha criação que tenho algo a dizer para alguém. Se eu alinhasse todas essas disciplinas que se definem pela sua atividade criadora, diria que há um limite que lhes é comum. O limite que é comum a todas essas séries de invenções, invenções de funções, invenções de blocos de duração/movimento, invenção de conceitos, é o espaço-tempo. Se todas as disciplinas se comunicam entre si, isso se dá no plano daquilo que nunca se destaca por si mesmo, mas que está como que entranhado em toda a disciplina criadora, a saber, a constituição dos espaços-tempos.”

E é nesta linha, que Deleuze sinaliza, que sigo: a criação, não importando a profissão, é inerente. O mero ato de pensar é criação. E também como ele coloca, se há algo em comum é o próprio espaço-tempo, a ocasião, a situação. Toda a diferença atualizada pelo acaso. Ou como Beccari disse, não existe sujeito sem mundo. Necessariamente estamos designados, situados, Dasein, criar é situar-se no ser-aí, no mundo, perante o todo, é reconhecer sua parte no ser, como um que já foi ente. Não é à toa que Design e Dasein possuem quase a mesma grafia.

Logo, pensar na criação, num Design inovador, é pensar de forma múltipla. Multi enquanto diferença; uma proposta de trabalhar pela diferença seria trabalhar pelo trans — o não-design como fator de determinação de um Design de multiplicidades, que perpetua movimentos de repetições, dando origem a um novo Design recombinatório — será o novo o não-velho? Ou será ele esta combinação inusitada de fatores existentes, sob alguma ótica individual, portanto, única, a qual damos o nome de “novo”? Será que esta busca pelo novo, pela inovação, tem suas respostas na individualidade? Na multiplicidade? Na intersecção de áreas de criação? Num Design autoral; numa filosofia do Open Design; co-criação; criação individual pautada na memória?

Contudo, devo frisar a importância de certas palavras: “é na medida e em função das atividades criativas de cada um”, ou seja, o trabalho de vários. Polarizar esta multiplicidade em apenas uma pessoa é ignorar todos os preceitos de uma filosofia pela diferença, no sentido de que existe sim uma diferençação interior e que é exatamente aí que descobriremos o inusitado. E sim, é possível um trabalho individual dentro destas premissas, mas creio que uma proposta que envolva múltiplas consciências é abrir cada vez mais margem ao novo — no sentido de articulação de múltiplas singularidades (que já são múltiplas em suas virtualidades), em detrimento de uma articulação múltipla de conhecimentos individualizados sob uma única ótica. Aumentar o nível de complexidade de relações é cada vez mais projetar com o acaso — não se sabe o que estes diálogos darão origem. Não se sabe qual será o resultado. Trabalhar com o acaso é abolir a finalidade. Ora, se o Design é feito de finalidades, um Design a casu é, então, o não-Design ao extremo, elevado ao limite, considerando a diferença crua; recombinação complexa.

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Fica apenas este grande questionamento, uma espécie de articulação entre Filosofia e Design. Ainda, uma proposta e uma defesa de um Design cada vez mais abrangente, que, sem fechar as portas, não tenta englobar todas as atuações — sair do que por convenção se conhece como ofício do designer — pois é sempre mais fácil dialogar com multiplicidades (n+n+n+n…); agora, o que é ainda mais interessante, é um diálogo múltiplo com multiplicidades (n.n.n.n…). Em suma, se você busca inovação, se lance na complexidade, perca o controle, e quem sabe o pior erro não será a salvação?

Poslúdio

Eu sempre me senti estranho em meu corpo. Nunca pude crer que eu era um corpo, um nome, uma entidade. Eu sou mais do que isso. Meus limites não se prendem ao meu corpo, minha substância — pois posso voar, sou livre em meus pensamentos e imaginação. Não sou determinado e não me determino ao longo de minha vida — pois de qualidades, os acontecimentos nada me dão; apenas participo e não me afeto, me mudo, mas perpetuo minha existência — e não quero deixar de ser para fazer. Nunca gostei de fazer as coisas — pois quem faz é máquina (de guerra, amor, ódio, fetiche) — ou de entender como e quando, de onde e para onde. Esta busca por determinar os acontecimentos, essa busca pelo controle do acaso não é causa minha, nunca será. Me reviro só de pensar que eu controlo. Eu sou — sendo ser, e que fique claro que de ser nada é meu. Pertenço ao ser cósmico, ao estado longínquo, ainda sim, próximo, de campos, contrações. E de diferente, — como negatividade — não vejo nada, não percebo qualquer negatividade no mundo como é, pois o que é, é. O ser em mim é o mesmo ser de todo o universo — e todo o Todo — que habita a todos os lugares, ao mesmo tempo que habita nenhum. Eu não sou ente que nasce e morre. Eu retorno, e repito, e nunca paro, pois me alinho com o tempo — e dele tiro proveito — para sempre seguir em frente — mesmo que esta linha retorne em círculos.

Eu me sinto preso, querendo sentir tudo, e impossibilitado de sair do corpo, pois minha vida depende dele. Resta pensar que na morte encontro meu ser. Não ser vivo, mas meu não-ser. A diferença rege — e dela se repetem mais diferenças, nunca negativas — o que não é (pois se difere) se torna, e assim, é. Não falo de suicídio, muito menos de morte como algo ruim. Não quero morrer pois na vida eu sinto — o ser não se determina por sensações, pois sente tudo, e para ele, não há diferença, e sim intensidades diferenciais. Gosto de sentir e apenas sentido me relaciono na complexidade. Eu quero ser, ao mesmo tempo que amo quem sou. Esta dualidade — paradoxo — me eleva ao limites do que é e não é. E neste limite, fulguro uma breve névoa, confusa, carregada, dissolvida. Esta névoa me carrega, junto, entre, no meio. Eu sou névoa e me espalho, por todo canto, longe de meu corpo. E quando acordo, sou apenas eu. E isso me mata.

Fontes:

BECCARI, M. Articulações Simbólicas.

DELEUZE, G. Diferença e Repetição.

_________. Ato de criação. Disponível em: http://escolanomade.org/2016/02/21/deleuze-o-ato-de-criacao/. Acesso em 29 de Maio de 2017.

Bíblia.

Wikipédia em: Solipsismo, Larva e Ente.

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Rodrigo Moon
A Casu

Se eu falar diversas coisas mirabolantes sem sentido, não confie em mim nem no que eu falo.