Organização: o fim.

Rodrigo Moon
A Casu
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6 min readNov 6, 2017

Bom, desta vez faremos diferente. Desta vez seremos um pouco menos ocasionais, previsíveis, ou então de alguma forma coerentes. Vamos explicar o que queremos dizer com isso.

Existem duas características primordiais de um discurso: sua forma e seu conteúdo. A forma implica em experiências estéticas da mensagem, já o conteúdo é semiótico, indeterminado e ético. Ok, retrocedendo um pouco: existe a forma como você percebe e a forma como você interpreta. Perceber significa receber, interpretar significa operar entre o input e o output. Através das interpretações, podemos estabelecer uma análise das coisas e entender sua constituição. E a partir dessa interpretação ajuizada, sistêmica e organizacional, podemos estabelecer algum fator de adequação, digamos, para com algo. Ser verdadeiro para com algo é ser coerente.

Isto significa ser coerente, e por isso que a coerência guarda uma possibilidade de intervenção tremenda: se pensarmos, a coesão deriva da coerência. Se pensarmos em sistemas e subsistemas, sempre um subsistema será coeso com o macrosistema, ou seja, coerente com os outros sistemas que o compõem, ao mesmo tempo que será coeso em sua unidade, ou seja, todos os subsistemas são coerentes entre si.

Existe então um fator que transcende os dois polos e que materializa no meio um conceito de propriedade comum: a relação. Mas não somente uma relação qualquer, ela é específica, determinada até o último gole. Nos referimos à ordem da relação, ao estado de metaestabilidade que determinada relação promove. Isto significa que nos referimos à ordem, ou seja, ausência de desequilíbrio, perturbação mínima: estado de coerência e coesão.

Bom, tendo como base este entendimento das coisas, preferimos nos utilizar de métodos literários. Método duvidoso que Cervantes inaugurou conjuntamente com a literatura moderna: referencialidade e ao mesmo tempo uma visão de mundo esquizo, complexa e precisa. Precisa, a partir do momento que nossa missão é uma ambiguidade, um entendimento indeterminado, mas que não por isso é impreciso.

Se tomamos como base a teoria geral dos sistemas, podemos entender que sistemas são tudo. Qualquer coisa que seja determinado pelas partes e pelo todo configura um sistema: agregado de elementos que mantêm uma propriedade comum entre si. E se pensamos em sistemas, pensamos nas relações, e intensificamos suas qualidades para evidenciar todos os pequenos agenciamentos que configuram este fluxo.

Parênteses: nossa missão não é ser preciso, por isso entenda: se tudo é movimento — e tente dizer o contrário — tudo é fluxo. Se tudo é sistema, tudo são partes, todos e relações. Se juntamos os dois, de certa forma temos o pensamento contemporâneo, que pode ser definido, imaginado, descrito de diversas formas: tanto Foucault, quanto Deleuze e Guattari, Serres, Bergson, Bachellard, Baudrillard, dentro muitos outros que podemos citar. Nestas capacidades de relacionar as coisas por formas abstratas, conceitos completamente impermanentes, sempre em movimento, cuja descrição somente capacita estados, é que evocamos figuras de linguagem, literatura. Metáforas que denotem certos movimentos, certas perspectivas. Não podemos correr o risco de sermos precisos sendo que podemos cair numa desatualização. Uma escrita em movimento, ideografia dinâmica, é o uso de metáforas plurívocas que evoquem as máquinas e convenções atuais: imagem em movimento.

Continuando: ao pensar nestas formas de organização, podemos entender que tudo possui um modo de ser. E esse modo é formado, composto, assemblage, bricolage de elementos que pedem coesão e coerência. Estes dois parâmetros determinam a o que podemos chamar de organização. E vale falar que organização não guarda relação nenhuma com ordem. Veja bem: ordem é juízo, é bom, é certo e verdadeiro. Organizar implica em estabelecer uma forma de estruturação e integração, de forma que o sistema seja dotado de funcionalidades, capacidades de reagir, inteligência.

Contudo, se falarmos de ordem, devemos falar de máquinas. Novamente outro conteúdo abstrato. Oras, máquinas são construções, sistemas fabricados ou formados. Tudo em movimento é máquina de ou para algo. Se existe função, se existe organização no referido sistema, com a capacidade de agenciar fluxos, reagir à perturbações, podemos crer que isso determina uma máquina. Agora, se agencia fluxos, estes podem ser desejantes ou agônicos: se são desejantes partem de uma máquina abstrata subjetiva, parte de uma máquina para fora; se for agônico, parte de uma imitação oposta, uma concepção de determinado fluxos e a proposição de outro fluxo que lhe finde.

Se falamos de máquinas agônicas, estas são as máquinas de guerra. Podemos entender que estas máquinas se entrecruzam, de forma que o referencial determinará se o fluxo é desejante, agônico, ou seja lá quais possibilidades existam. Apenas reconheceremos estes dois tipos pois eles determinam os dois limites: a vida e a morte dos fluxos. Foucault denominou algo conhecido como poder. Deleuze e Guattari o chamaram de agenciamentos de enunciação coletivos, e podem haver outros nomes, mas o conceito permanece: são formas de organizações maquínicas que constituem o que podemos chamar de metamáquinas, ou megamáquinas. Estes conglomerados em sua coesão determinam formas complexas para os fluxos. Chama-se enunciação coletiva pois a enunciação é esta imposição vertical de modos de ser, fazer, pensar.

E estas megamáquinas de poder configuram as imposições que chegam até o fundo: nós. São os enunciados, antes, que vão conferir qualidade predeterminada às coisas. São os enunciados que vão determinar, mais do que convenções, leis artificiais. O modo de ser do homem se configura pelos agenciamentos coletivos de enunciação, ou a imposição destes na forma do poder. Digamos que dentre a complexidade de sistemas, espécies, formas de ser e viver, se definam estruturas que configuram as formas de se agir. Não necessariamente de palavras, de frases, mas de signos. E estruturas mutáveis, em constante modificação pelos seus processos de diferençação e diferenciação.

Agora podemos voltar e continuar com a ordem: o poder configura a ordem. Não das relações, mas dos fluxos. E isto configura o que já chamamos de fluxos agônicos. De certo, existe a criação e existe o poder: criação enquanto a transversalização de composição heterogênea; e poder como sendo o conjunto de fluxos que tornem possível algo, ou seja, determina o universo dos possíveis, adequação, ordem; por fim, coesão e coerência.

Assim, podemos esboçar uma forma inicial de olharmos para a organização dos sistemas através de conceitos filosóficos. E se te interessar mais, nosso TCC define o design como proposta de organização de qualquer sistema por meio do projeto e do metaprojeto exponencial.

Com este texto, encerraremos nosso medium. A casu surgiu de repente e da mesma forma se vai. Surgiu com um propósito: o de extrassomatizar nossos fluxos esquizos. Se ficávamos loucos, colocávamos pra fora. E nestes fluxos, 7 textos se concretizaram. Cuidam de 6 conceitos pontuais, e 1 manifesto.

___-___-___-___-___-__M A̸̡̹͔͇̰̺͖͍͕͚͕͓̭͓̰͔͇ͪ̓̇ͪ͛͆ͣ́̈̃͞͡ͅN I F E̫̦͎̪̗̰̯͕͍͇̬͉ͪ̆͑̑̾̀̃ͯ̉͋̓̎̃͑͑͐͠ S T Ǫ̛̪̯̘̱͇̺̰͇̖̬̬̜̼͖͕̎̒̑ͅͅ cuidou de fazer sentido nossos desejos.

O̗͙͚̪̲͙̱̥͔͙͕̠ͫ̃̊̈̑̽̋_͎͙̮͚̖̯̰̘̤̝̙̝̟̱͍̻͖̿̂̎ͣ̊ͩ̇̎ͨ̆ͧ͊̓̅̆T̻̤͕̘͔̜͚̥̥͓̗̫͉͚̥̩͌̏̾͌ͩ́ͬ́͊͒ͫͭ̚-̜̼͓̻͈̰̻̦̠̻̹̮̭̺̱̘͒̆̽͂͋͌̀͑ͦͣͪ̀̊̎ͣͭ̋Ò̝̝̦͕͈͇̘̱̺͉͔̫̠̠͌ͦ̆̌ͣ̐̌̊ͧ̒͑ͦ̃͗ͭ́̎-̩̙̮̠̤͔̗͉ͧ̑ͤ̂̋̓ͧͧ͛̊̈́ͬ̏͋̈́ͣ̆̚D͍̼̻͖̰̬̥̙̐̍̄̃ͨ̏̄̓̂͂-̬͎̗̥̮̈́͆̊̂ͩ͊̊ͨ̂͐ͤ̓̌̆̈́͗O͖̞͇̯̯̩͈̙̗̝̘͚͖͉͖̬ͫ̏ͧ͒̀̊̊͆̅ͯͮ surgiu para falar que existe um todo. E que esboçamos ele como um conceito abstrato. Ele se tornou nosso limite, nosso conceito de virtual que pode nos guiar sempre para um zoom out, uma forma de enxergar as coisas de longe.

F͇̲̤̗̘̗̱̱̰͓̯͎̜͚͍̘ͣͪ͒͂ͪ͊̽ͯͬ͋ͬ͛̆ͧͬͫ̿͜I̶̱̪͔̦͇̝͈͈̮̣͋ͨ̄ͪ̌̾̾̓ͦ̋̉̒͂̚͠ͅN̴͚̲̱̲͖͎ͦ̊̌͐͆́̍ͥ̓ͬ͂̑͘͘͠A̶̡̺̜̜͓͖̪̦͖͙͈̠̞̞̭̘̣̟̟̋̔͊́̒ͥ͂ͪͧ̑̀̾̚͠Ḷ̨͖͚̭̗͆͌̆̀́̀̕͘͝I̳̤͔̲͎͓͖̰̤̗̜͙̖͖̗̭͈ͣ̆̐̽̆ͪͭ̈́͊ͪ̃ͫ̚̕͟͞D̴̡̮͉̩͖̦̜͔͎̤̣̳͇̦̺̠̃̓̐ͤ̌ͤ̓ͣͅÂ̖̩̥̯̳̭̜̼̺͛ͨ̉͆͂̾̄͊̋͘͝D̛̛͖͎͖̫͙̰̲̬̹̥ͬ̊ͪ̍̒͂͗ͯͬ̐͌͠ͅĔ̇̔̇̑͏̩̙̳̦̬̯̗͞S̵̹͙͖̪͎̃̈̒ͬ̃̕̕͟͝ cuidou do fim, tratou das formas de encerramento dos todos em sistemas fechados, muito embora na época não soubéssemos disso. Exploramos o polo inverso do todo para entender o que é ser humano e premeditar um fim para as coisas.

E̵̢̛̛̳̤̯͈̝̲̗̻̰̩͚͉͖̊̓͂̔̈́̂̃̚͟ú̴̫̜̟̦̭͙̜̦̼̟͈̞̈́͆ͦ͂̔̎ͪͥͥͤ̀ cuidou de falar sobre a esfera pessoal, a subjetividade, o que define uma existência em sua imanência. E logicamente que sua imanência se transborda pelo seu Umwelt, pelo seu CsO (Corpo sem Órgãos). E tentamos esboçar uma figura da alteridade enquanto delimitação do Eu.

A̿̆̓̿̇̓ ͑ͧͭ̊̈̽ͫͨ̉ͤ̽ͪv̊ͩͨ͑͊͑̿̔̿̃͆̇ͣ̎̒͗e̓́ͪ̅ͥ͑͒͌́r̐̄̆d͐ͯ̑͗̐ͣͥ͂̚̚̚aͩ̊̽̋͌̓ͮ̐̔ͨͤ̋ͤ̐ͧd̆͋͌̐̆̇̎̋ͯè̾́͒̓͆̍ǐ̋͗r̽̊͌̓͗ǎ̿ͮ̽̋̄͂́̚ ̐͛̃ͯͣ̀̚c̆͂̋̀͗̓ͭ̿̊ͪͪ͛r̈́̆ͯ̇ͭ̏̓ͫͨ͂̊̓̽̎̇̎͗̚iͪ̇ͫ̈́̍̂̓ͤ̈́̽̊ͤͭ̌ͤsͮ̇͐̇ͯ̂̏̍̾̆ͥe̓͗̈́ͭ da verdade nos possibilitou entender que existem fluxos que determinam uma verdade, que determinam modos de ser específicos. E que existe a possibilidade de adequar qualquer fluxo a um parâmetro pré-determinado. E que ao mesmo tempo, nosso conceito de verdade universal caiu por terra a partir do momento que nem mesmo as ciência exatas poderiam determinar de fato a existência das coisas em outras escalas, ou que o que achávamos estar correto pode ser de outra maneira.

Ana/*/-/logos explorou a relação das coisas e o que se emerge no meio, os conceitos e os modos de ser híbridos. Ao mesmo tempo que existiam relações pela semelhança, existem relações pela diferença — que fundam as semelhanças. E que entendendo estas relações podemos projetar os fluxos e os acontecimentos de forma específica.

E por fim, Organizar nos permitiu fechar o ciclo e definir fases, territorializar um processo que ocorreu a fim de gerar entendimento sobre. Esta sempre foi nossa missão: desvendar a complexidade das coisas pelo seu movimento, pelas regras do jogo. E entendemos que as regras podem estar nesta diversidade de conceitos aqui formulados, entre teoria geral dos sistemas e a filosofia contemporânea de Deleuze e Guattari.

E como quem se despede nós nos̵̸̭̬͔ͥ̌ͪͦͬ͗͌̐̚ͅ ̷̧̬̼̝̤̻̹̓̃̈́̍ͤ̀ͨ̋̓̌̒ͩ̆͠d̻̮̹̠̣͍̥͉͚̰͚͓̱̪̥̝́́̿̀͜͟͝ͅḛ̴̛̗̖̝̔ͭ̃͐̈͊̒̾̾̎͌̈́͑ͧͩ̿̚̚s̹̻̳͈̰̤̜̭̞̣̈́̅̍ͭ̔ͦ̎̑ͯ̉̍͒̋̋̊ͬ́͡ṗ̹̗̳̫̬͖̺̙̘̪͎͕̇͋̅̅̾ͧͨ͊ͣ͗̔̅̌ͥ͡ẹ̣̬̺̖͎̤̦̩̪̈́ͬ̒͑̀ͩ̄̒̓̕͡d͕͇̞̺̰̳̑̅ͣ͛̃̾ͩ̀͑͆̿͊ͧ̐̐ͭ̚͜͠i̸̳̙̖̺͎͈̻̥̘͎͕͙̻̦̲̪̭͒̾ͥ͛͒͋̅̀m̴̧̛͎̣̹̺̻̬̭̯͈͓̤̪̯͇̝̈̊ͪͮͩ͐ͦ̽̑̓̎̾͆ͨ͊̀ő̑̓ͤ̒̉̌̊ͣ͋̕҉̴̧̞̼͙̟̫̞̫̻̗̲͕̮̲ͅs̴̛̜̣̪̣̤͍̠̄ͪ̋̌̎̓̅̏́͟.̏͂̍̌̿̑ͩ̈́̈͂̿͛̉ͨ͏̵̨̯̞̹̫͔͖̝̺̲͔͉̪͉́͞ͅͅ ̱͖͉̞̩͔̩̯̮̟̥̲͓̹̲̪͇͎͊ͫ͗ͨͦ̏̅̇̀̕͞Ä̶͕͇̰̳̠̲̪͖̞͇̱̠̓̍ͫ͞͠ͅt͊̾͂ͦͪ͛ͯͤ͑͌̄͜҉̷̨̜̺͕̻̭͔̺̜͍̙̮̙̥͇̦̲̳͖é̦̲͕̣̠̦͗͗ͫ̎͒̍͋̐̐ͪͩͨ͐̇͐ͨ̚̕̕͝ ̢̝̫̹͖̤͎̝̼̟̟̺̗̳̰͍͙͍̇ͨ̿̿͋͐ͤ̐̑̂̉̓ͯ͝ą̨͇̹͓̪̖͚̅̉͐ͦ̐̔̓ͣ̿͗ͯ͋ͥ̿͐͛̚̚̚ ̵̭̘̹͍̼̪͇̗̜̪̰̜͔̲͑͋̈͐ͨͬ̍̂̃̎͟͝a̡͓̣͓̩̘̯̯͙̱͉̥̘ͮ̒̆ͧͫ́̊̆͘͟͟͝ͅp̶̄ͮ̑ͧ̑̊́̕҉̙͓̺̮̯͚̱̹̻̼̖̫̖̱̼̟̹͜r̷̟͓̤͔͍͙͚͍̖̱̭̠̩̩̼̗̠̖ͣ̀̐̾̈́̈́ͨ̌̀̚̕ȩ̫͖͈̻̮̯̟͉͛ͥ͂̈́ͨͥ̕͜͞͞s̡̼͉̳̦̈́̆̌̑͗͂͐ͣ̐̂̾ͤ͜ë̢̜̜͈̰̰́̈́ͫ́̚͞n̶͂ͥ͐̿̆̏̽͐̅̓ͣͬ̿̃̍̓ͣ̇ͦ҉҉̥̘̗̲̞̘̭̥̫͈͈̙̗̲̲͎̰̫t̵̨̯̩͔̟͕̩͎̘͙̫̻̖͈͔̦̲̱̣͐̅͆̇͊ͯͫͫͧ̋̓ͬͣ́͢a̷̵̮͕̺̝̥͙͇̝̹̼̪͆ͨ͐̅͌̔̒̾̃͌͊̒͒̌ͦ̆̐̅͜͠ç̸̵̨̛̙̞̬͉̘̫̣̠̻͌̓ͥ̈́ͫ̓ͧͨ͗ͧ̄ͨ̄̂͑̔ͬ͑͜ã̞̙̰̰̇̀ͩ̃̀̄̽̿ͫͮͦͧ̕͢͜͠ͅͅò̫̘̘͉͚̺̣͔͔̯̪͊͛̇ͯͤͧͧ̊ͨ̉̒̈́̆̈̄͑̈́̕͘.̷̻̪̺̬̫̌̊́ͩ̇͋ͤ̿̅ͯ̓̀ͮ̉͂͠

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Rodrigo Moon
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Se eu falar diversas coisas mirabolantes sem sentido, não confie em mim nem no que eu falo.