Ploft
Estava passeando num lugar que sabia ser o Rio de Janeiro, mas que podia ser uma cidade litorânea qualquer: calçamento em pedra portuguesa, orla, apartamentos com vista para o mar e aquele bafo quente e úmido que dá para pegar com a mão.
Acompanhava duas meninas de uns 13 anos. Uma era morena e outra tinha cabelos castanho-claros, mas os cabelos de ambas eram finos e compridos e as duas eram gordinhas.
Íamos andando e vendo carros de ponta-cabeça meticulosamente alinhados em vagas de 45 graus. "O Dia Depois de Amanhã", pensei. A areia se acumulava nos sulcos não-preenchidos pelo concreto das calçadas de pedra portuguesa.
Chegamos a uma elevação de calçamento acidentado com mato crescendo pelos buracos. Olhando o sol baixar e sentindo um vento mais fresco vindo do mar, ouvimos algo cortar o ar.
Do nosso lado, um homem levou as mãos à barriga com cara de incredulidade. Um atirador de elite o havia atingido, sumindo em seguida. Sua barriga tinha rasgado horizontalmente e ele tentava segurar os órgãos dentro de si para impedi-los de cair do corpo. O fígado e um dos rins escorregaram para fora, fazendo “ploft” na poça de sangue que se acumulava numa depressão do calçamento.
O homem desmaterializou e os órgãos ficaram ali, esperando ser encontrados.