É assim e pronto

Eloisa Capraro
a coluna
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2 min readApr 26, 2024

Tem coisas que são assim, de tal jeito, e pronto. Ah, porque o mundo precisa evoluir e blá blá blá. Tudo bem, tudo bem, tem coisas que eu até entendo.

O fogo e a roda foram importantes. Talvez algumas outras coisinhas também, como a internet e o telefone móvel (até hoje nem sei se o correto é telefone, telefone móvel ou celular). Mas tem coisas que são do jeito que têm que ser.

Sonho é recheado com doce de leite. Não me venha com essa de desvirtuar o coitado com creme-de-baunilha-que-nem-vai-baunilha, é doce de leite, cara, e pronto. Creme de avelã que tem um nome famoso e que até é gostoso: não! O sonho nasceu para ser recheado de doce de leite como eu nasci para ser loira.

É tipo querer mudar o curso do rio. Pensa num rio bonito que passa embaixo de uma ponte. Água limpa (ou com cara de limpa, porque as pessoas devem fazer xixi dentro), ponte de madeira com cara de velha (normalmente é velha mesmo) — meu sobrinho diria que é vintage ou antigo —, matinho verde bonito em volta.

Pensou? Certo. Agora vai lá e vira o rio ao contrário. Não dá. Pode ir lá, derrubar a ponte de madeira e fazer uma mais moderna, vai ficar bom também. Pode ir lá e plantar umas mudas de árvores a mais, mas sem tirar aquelas que lá estão porque senão é problema com a ambiental, e vai ficar bom também, porque verde é verde. Mas o rio tem que ir para a mesma direção que a natureza mandou.

A natureza tem dessas coisas. Não estamos falando de questões sociais, por exemplo. Estamos falando de rios e de sonho recheado de doce de leite. As pessoas não precisam ir sempre na mesma direção, seria ridícula essa comparação. Chamo para cá uma frase que vi em alguma parede de tijolos da universidade há uns anos: “Se não está feliz onde está, mova-se, você não é uma árvore” — e também não é um rio.

Às vezes, a gente precisa se mover rápido como se estivesse em um carro passando pelos lugares; às vezes, nem tanto. É preciso desacelerar também. Mas como saber quando? Se estamos correndo não dá para simplesmente virar a cabeça para o lado, vamos capotar. Tem que reduzir a marcha, e então prestar atenção na árvore bonita que não se move ou no rio bonito que vai sempre na mesma direção.

Sempre vai ter uma árvore bonita. Se não tiver, plante. Dizem que todo mundo precisa plantar uma antes dos 30.

Resumindo, caro Watson, tem coisa que é assim e pronto, mas também não exagera.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.