A realidade é um alívio

maria
a coluna
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3 min readJul 12, 2024

Escrevo no dia em que ouvi um episódio chamado “Eu vivo para os outros?” do podcast “É nóia minha?” da Camila Fremder, onde ela e seus convidados conversam sobre o impulso de agradar, entre outros comportamentos por vezes narcisistas.

Quando a psicanalista convidada, Ana Suy, falou a frase “A realidade é um alívio”, fiquei pensativa.

Tudo (ou quase tudo) fazia sentido.

Não é de hoje que me reconheço como uma pessoa ansiosa. Não é difícil lembrar de momentos em que a ansiedade me impulsionou a situações exaustivas e desagradáveis. Diferente de muitas pessoas que paralisam pela ansiedade, eu fico eufórica, faço milhões de coisas, penso em mais dois milhões e largo tudo inacabado e cansada.

Ilustração por maria cardoso

Lembro-me muito bem de situações onde era tomada pelo medo, seja pela bronca que eu iria levar do meu pai por uma nota “mais ou menos” na escola, ou já na idade adulta, na faculdade, voltando da orientação do meu TIC.

Na série This Is Us, os personagens Randall Pearson e Beth Pearson fazem uma dinâmica de contar um ao outro qual a pior coisa que está se passando pela mente. Os maiores medos são externalizados para outra pessoa, e é nesse momento que eles conseguem dividir com o outro as “loucuras” que estão pensando, momento em que esses pensamentos “chegam” a realidade.

Quantas vezes achei que iria literalmente morrer de medo do que ia acontecer, e não digo de situações que me colocariam em perigo de fato, mas de situações onde a ansiedade estava no controle da minha mente.

Apesar de estar bem melhor hoje em dia, tenho bastante aflição, medo, trauma (chamem como quiser) de dentista. Inúmeras vezes chorei de desespero na sala de espera da clínica odontológica. Passei a nem ter vergonha mais, era tão desesperador (eu ia morrer!) Não me importava com a recepcionista me olhando apreensiva.

Porém, para o ápice do meu desespero, eu sentava na cadeira, a dentista fazia seu trabalho e ufa, nunca morri numa consulta com o dentista, não até o presente momento.

Como eu disse, tenho melhorado em relação a isso. Já não choro mais na sala de espera, mas as mãos continuam suando, e cada nervo do meu corpo parece estar rígido, os músculos em alerta, prontos para sair correndo no primeiro sinal de perigo. Durante todo o procedimento, sempre falo para mim mesma: “Tá tudo bem, não vai ficar pior que isso”.

E é simplesmente isso: a realidade é um alívio. Talvez se eu tivesse ouvido essa frase na minha infância ou na adolescência, muita coisa teria mudado. Ou talvez eu não tivesse a maturidade para perceber e tudo teria acontecido igual. Mas firmar meus pés no chão e pensar que a realidade é o que faz sentido, e não o que minha mente projeta, é o que vem salvando minhas idas ao dentista e minha rotina nas pequenas loucuras do dia a dia.

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maria
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