Além do horizonte deve ter

Eloisa Capraro
a coluna
Published in
3 min readJun 3, 2022

Aposto que leu cantando. Mas eu aposto um punhado de bala de banana. Aliás, que bala boa. Meu avô de cá tinha no bar dele. O avô de lá trazia para a gente quando éramos pequenos.

É impossível que não exista um lugar bonito além do horizonte. Se assim não fosse, qual seria o sentido? Por que motivo percorreríamos o caminho mais difícil — a vida toda? Deve ser muito mais fácil fazer cáca. O problema é a tal da consciência. Às vezes eu queria fazer o que tenho vontade e, quando a consciência apelasse, desenrolar, bater e jogá-la de ladinho.

Imagem de S. Hermann & F. Richter

Esses últimos dias têm sido frios para carambolas. Aposto que além do horizonte não faz frio e nem calor. Um pouquinho de cada. Já pensou se estivesse em nossas mãos controlar a temperatura, tipo como o Sheldon controla o termostato do apartamento pelo celular?

Rapaz. Não se chega a um consenso em uma sala — imagina com um pessoal aleatório no mundo, não duraria dois dias, precisaria de uma manutenção divina. Lembro que quando estudava em Balneário Camboriú e saía direto do trabalho para a faculdade, não importava o calor que estivesse, precisava levar um casaco. O tal do ar-condicionado era uma discussão — todo santo dia.

Se a gente não consegue entrar em um consenso sobre o uso de um eletrodoméstico, imagina debater política. E nem me venha com aquela de que todo ponto de vista é a vista de um ponto. Balela. Eu sei bem quando estou erradinha — mas o diabinho que anda no ombro esquerdo tem uma personalidade difícil, é super teimoso.

Ele. Porque essa que vos fala não é teimosa. Teimoso(a) é quem teima com ela. Vou confessar um negócio. Eu simplesmente desligo. Do nada. Quando percebo, já adentrei no guarda-roupas e pisei no chão gelado de Nárnia. Será que é por isso que meus pés estão sempre frios? Oxe, nunca tinha me ligado disso. Se fosse mais esperta, ao menos colocaria dois pares de meias.

Já devo ter mencionado que eu amo usar meias. E amo ganhar meias. E nunca são suficientes. Também acontece com vocês de as danadinhas sumirem? Quer dizer, apenas um pé. Nunca some o par, sempre um pé só. Ela faz de propósito, mas é lógico. Deve haver alguma legítima explicação, que nem aquela de que as traças costuram as roupas à noite, por isso elas deixam de servir.

Tudo tem que ter uma explicação. Não é possível. A explicação em relação ao frio deve ser porque assim fica fácil tomar café. Que que estou dizendo? Tomo café no verão e no inverno; faça chuva ou faça sol; em quaisquer das fases da lua. Tanto é que estou sempre com o céu da boca queimado. Por esse motivo sou a favor de que a cerveja seja naturalizada. Se pudéssemos tomar cerveja todo dia e toda hora, sem prejuízo da saúde, não queimaria a boca nunca.

Vou confessar outra coisa. Eu me acostumei a tomar café preto. Durante muito tempo eu nem gostava tanto assim, apenas virou um costume. Gostava mais do cheiro do que do gosto.

Aliás, o tal do costume é um negócio perigoso, né? É muito fácil se acostumar com o que é bom e não necessariamente bom. Bom para uma coisa, ruim para outra. Essa vida é um dilema mesmo, a maioria das coisas vivem presas em paradoxos, sempre se equilibrando naquela linha tênue, que é quase invisível como as traças que costuram as nossas roupas.

--

--

Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.