Aquele sobre a roda gigante

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readMay 10, 2024

Quando acontecem coisas que nem a tragédia ou catástrofe, ou talvez exista uma palavra mais adequada e vocês me perdoem por desconhecer e não saber usar, há tanta coisa a matutar.

Os primeiros momentos, claro, são pura tristeza e revolta, além de outros sentimentos de acordo como cada um reage às coisas mais difíceis da vida.

Não posso falar dos outros, só posso falar de mim e, nesta condição, afirmo para vocês que faço pecado. Uma das minhas primeiras reações é questionar o mundo e todo o resto. Não tenho orgulho de dizer isso mas a lógica da coluna sempre foi manter a sinceridade, porque foi uma promessa que fiz lá na primeira crônica que saiu.

Promessa para quem? Ora! Para mim, para vocês, para A Coluna. O mundo da escrita é, como todos os outros refúgios, um mundinho particular e único.

Quando digo que não pode morrer cachorro em filme, é isso mesmo. Não vejo sentido — e paradoxalmente isso faz muito sentido para mim — em ver coisas na TV que me deixam triste. É meu momento de descanso, de viajar na maionese, de tentar deixar o trabalho de lado — o que é quase impossível.

Então, ver tristeza? Néca de pitibiriba.

Só que quando se trata da vida real não tem como desligar apertando um botão. Impossível — ainda bem — de não se envolver. E é assim que tem que ser. Imagina só viver alheio à desgraça ou até mesmo à felicidade dos outros? Mas, se é verdade, nem tem lógica.

Já diria o Bicho:

— A vida é uma roda gigante, um dia se está em cima, no outro se está embaixo.

Tem hora que parece que a roda trava de um jeito para que todos sempre fiquem na mesma posição na qual já estão, ou até dá uma voltadinha, então aquele que está embaixo lá permanece e a mesma coisa é para quem está em cima. E nem tem luzinha de led para enfeitar.

Chicó diria que não sabe, só sabe que sempre foi assim. Nada mais realista que essa fala.

Durante uns cinco minutos, a gente vira gente. É, assim mesmo, gente que resolve virar gente. A gente ajuda, faz bonito, se solidariza, pensa que os problemas do dia a dia não são nada, até aquele mala do trabalho que às vezes parece a encarnação do mal e do lado negro da força tem seu desagrado redimensionado à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada, como diria Rui Barbosa — ou seja, deixa de importar.

No sexto minuto já estamos fazendo cagada de novo, até acho que foi para isso que viemos ao mundo, só pode. E o Nando ainda canta para o Sebastião que o mundo é bão. É nada, Sebastião, o mundo é cão, isso sim.

Mas para não terminar de um jeito tão amargo, um beijo para quem é de beijo e um abraço para quem é de abraço.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.