Aquele sobre eu não dizer que gosto de você

Eloisa Capraro
a coluna
Published in
4 min readAug 6, 2021

Todos têm amigos.

Imagem de Cheryl Holt

Adivinha em que horário estou escrevendo este artigo? Se você pensou que é na quinta-feira de véspera, está correto. Já virou tradição, eu saio às 12h, engulo a comida masomeno e, uns 15 minutos depois estou em frente ao computador para escrever o negócio — rapidão, antes de voltar ao trabalho.

Quem? Eu. Não, quem perguntou? Ninguém. Mas é que quando eu comecei a escrever um colega observou:

— Ei, eu estou presenciando um artigo sendo escrito, assim, ao vivo?

Nem sei se foram essas as palavras, mas como eu gosto de escrever sobre o cotidiano e as coisas simples da vida, na hora já tive a certeza que isso tinha que ir para a coluna.

Feita a preliminar que até poderia ser de prescrição — porque o meu tempo está acabando —, passamos ao mérito. Quero falar sobre amizades/amigos. Seria mais interessante se eu escrevesse sobre as 05 dicas de como ser uma boa amiga, até posso fazer isso outro dia, porém outro dia. É que eu vou ter que sair pesquisando, porque eu sei é nada. Sou péssima.

Mas o mundo é tão injusto, às vezes, tão incoerente, que uma pessoa que nem eu tem bastantes amigos — para mim, é um grande número, mesmo porque não é merecido.

Teu aniversário é hoje? Pode ser que a mensagem de felicitações chegue tempestivamente. Poder que semana que vem. Pode ser que nunca. Isso independe do quanto eu gosto de ti. Depende da minha personalidade do dia. Em algum momento eu penso: Fulano está de aniversário. Parabenizo hoje? Sim. Depois. E nunca. Ponto.

Precisa de um conselho? Não sei dar. Quando faço, logo me arrependo, porque só sai besteira. Se for amoroso, então… Eu não sei dar conselhos, talvez estarias mais interessado em um comentário sarcástico? (Já diria Chandler Bing).

Sei que tem vários conceitos sobre amizade e blá blá blá. Mas eu sou do contra, lembra? Por acaso está escrito em algum manuscrito escondido do Mar Morto que para ser amigo precisa preencher requisitos? Virou rol taxativo de lei que não serve para nada, agora?

Definição-Eloisa-de-ser-e-de-pensar: “Amigo é aquela pessoa que tu gosta e confia sem saber o porquê.” Ponto. Sabe quando alguém pergunta ou faz cara de surpresa sobre tu seres amigo de determinado alguém? E, caso queiras responder, nada te vem à cabeça. É assim que eu defino. Porque não é uma questão objetiva.

Claro que podes pensar em várias qualidades que a pessoa possua, ou valores ou qualquer outra coisa. Porém a questão não é essa. O espírito do negócio é que a razão da amizade é a pessoa ter um lugar no seu coração. Fazia um tempo que eu queria escrever sobre amizade, mas foi em um momento específico, em que, por uns segundos, eu pensei: Como eu gosto dessa pessoa!, que eu bati o martelo — vai ser a coluna da semana.

Não sei se já comentei aqui ou se deixei isso transparecer, mas dificilmente eu digo para as pessoas que eu gosto delas. E juro que, às vezes, eu olho para alguém (conheço a cara que eu faço, mas ninguém mais conhece), e eu queria muito dizer: Eu gosto tanto de ti, que eu nem sei. Apesar disso, a vida segue e isso fica só na minha cabeça.

Eu queria que todas as pessoas que são destinatárias desse meu carinho soubessem. O Ariano Suassuna tem uma fala muito cirúrgica sobre isso em uma das suas aulas-espetáculo. É mais ou menos assim:

Eu minto. Mas é por amor à arte e para não magoar a pessoa. Se alguém me manda uma carta, eu recebo, leio, e não respondo. A pessoa me pergunta se eu recebi e eu, covardemente, difamo o correio. — Rapaz, que carta? Pois bem. Eu tô mentindo, a pessoa sabe que eu tô mentindo, eu sei que ela sabe que eu tô mentindo, mas está tudo bem. Ela é brasileira e eu também. Então ela sabe que o que eu queria dizer, na verdade, é: — Olha, eu recebi sua carta e gostei muito. Eu não respondi porque eu não quis mas eu gostaria de ter respondido, porque eu gosto muito de você.

Então, a todos os meus queridos amigos — uns têm o meu próprio sangue, inclusive, outros não — , gostaria que soubessem que eu gosto muito de vocês e sinto muito carinho por cada segundo que dividimos algum dia — aqueles mais bobos que sejam (os segundos, não vocês. Eu quis dizer que os segundos são bobos, não vocês bobos. Ah, entenderam).

Quando eu vejo suas conquistas ou suas fotos bonitas eu dou um sorriso muito sincero e penso: que orgulho que eu sinto de ti. Eu só não falo porque sou uma amiga ruim. E, diante disso, obrigada por não desistirem.

OBS: Desculpa o tamanho do texto, editora! Mas você também é minha amiga e eu gosto muito de você, então acho que mereço ser perdoada. ;P

--

--

Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.