Aquele sobre o treino

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readJun 11, 2021

Aproveitando que desabafei sobre a minha briga com a balança que já dura a vida inteira, na última coluna, resolvi emendar um assunto que quero escrever faz tempo: exercícios físicos. É que acabei de chegar de uma caminhada de 6km (Pouco mais de uma hora. Devagar, devagar, devagarinho). Ah, em um domingo à noite, hein?

No meio do caminho eu senti um negócio tão “daora”, que eu disse à minha pessoa: “Lô, quando chegares vais escrever sobre isso”. É mais um dos dilemas dessa que vos fala (escreve). Pode ser fala, mesmo, porque enquanto eu escrevo, as palavras/sílabas vão saindo em voz baixa (ou alta).

O dilema é o seguinte: fazer exercício é um negócio bom demais (deve ser a tal da senhora endorfina); deixa a gente no peso ideal; ajuda a construir/fortalecer a disciplina; permite ver coisas que normalmente passam batido e, no meu caso, é praticamente a única hora em que eu me dou ao luxo de ouvir música sem consciência pesada.

Então por que motivo eu não faço o negócio todo dia? Pois é. Aí que está o dilema. Elementar, meu caro Watson, porque eu sou uma pateta. Não há outra explicação. Hoje recebi a planilha nova da corrida e registro que quase morri de vergonha (se é que eu tenho vergonha nessa cara) ao dizer ao professor que eu não a cumpri durante o mês que se foi.

Acordo de manhã e fico enrolando para ir. Quando eu vou, já começo o dia feliz, fico orgulhosa da minha pessoa e me prometo que não falharei mais. Se eu não vou, fico arrependida, já dou uma amuada, sinto culpa. Então alguém me explica por que cargas d’água eu simplesmente não faço o que tenho que fazer?

O Dr. Dráuzio Varella tem um livro chamado “Correr”, que eu li e amei. O bicho corre todo dia às 6h e, aos domingos, chega a dar uma brincadinha de 35km (salvo engano). Só que ele deixa claro que não gosta, que levanta cedo, toma um suco de laranja e sai reclamando consigo mesmo. Depois de uns quilômetros o coração raivoso sossega e ele faz o que tem que fazer.

Imagem de Daniel Reche

Essa fala transparente do doutor me impede de usar desculpas. Droga. Será que é preguiça? Vejamos o que Veríssimo diz sobre preguiça: “A preguiça é a mãe de todos os males que não requerem muito esforço.” Hum, dei de ombros.

Às vezes, eu marco com alguém, porque aí não tem saída, né? Então eu passo todas as horas seguintes olhando a previsão do tempo para ver se não vai chover. É que quando eu acordo, às 5h, e vejo que jorra toda aquela água do céu, logo penso: “Oxe, que beleza, eu não vou, mas não é culpa minha” (sério, cês tinham que ver minha cara falando isso agora, eu tô afinada com a minha própria cara de pau).

Todos os anos, em algum mês, Lolô decide que retornará à academia. Aí ela paga um mês e vai alguns dias. Falando nisso, acabei de lembrar que esse ano essa safada não foi ainda. Se bem que estamos em junho, então ela pode ir em novembro, que aí dá tempo de virar Panicat e não ter vergonha de usar biquíni até o final de dezembro (só que não). (Coloquei na terceira pessoa que aí fica menos feio, talvez.)

Talvez, ainda, Eloisa possa (percebam, aqui já é outra pessoa) entrar no aplicativo “Queima diária” que ela paga todo santo mês. O problema é que como ela nunca entrou, vai ter que correr atrás do login e da senha (é uma tarefa árdua, fica para o próximo mês).

Ah, pera. A Lolis (uma outra) achou a saída. Vai procurar na Amazon algum livro que possua algum título parecido com “O segredo para nunca mais faltar ao treino” ou “6 passos para manter a disciplina esportiva — faça chuva ou faça sol”. Pronto, resolvido. Como eu nunca pensei nisso antes? Gênia.

“Sarada não fico,

Não hei de ficar,

Pois São Pedro me sabota,

Quando faz o céu chorar”.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.